O ex-governador do Banco de Portugal Carlos Costa acusa o então ministro das Finanças e seu sucessor na liderança do supervisor bancário, Mário Centeno, de “pressão psicológica” para provocar a sua renúncia, em concertação com o BE.

As acusações constam do livro “O Governador”, que resulta de um conjunto de entrevistas do jornalista do Observador Luís Rosa a Carlos Costa, que liderou o Banco de Portugal entre 2010 e 2020, e tem provocado polémica.

Num capítulo intitulado “a estranha aliança entre Centeno e o Bloco para derrubar o governador“, Carlos Costa identifica vários momentos de tensão com o então ministro das Finanças Mário Centeno, entre os quais os lugares na administração do supervisor e a questão dos lesados, bem como o valor sazonal dos dividendos do Banco de Portugal.

No entanto, é sobre o caso Banif e a polémica “falha grave” que a tensão aumenta. “Carlos Costa e a sua equipa não tiveram dúvidas sobre uma concertação clara entre Mário Centeno e o Bloco de Esquerda para o fazer cair. Não pela invocação da “falha grave”, mas sim por via da pressão psicológica para provocar a renúncia”, pode ler-se na publicação.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Chega defende investigação judicial sobre “possível interferência do Governo” no Banif

Segundo o livro, contudo, o governador “ainda acreditava que António Costa nada tinha a ver com aquela pressão que considerava ilegítima”.

O primeiro-ministro considera que cada página do livro ‘O Governador’ “é um conjunto de mentiras”

Carlos Costa, que considera que o Bloco de Esquerda fez de “ponta de lança” de uma estratégia para promover o seu afastamento, argumenta que o partido liderado por Catarina Martins ambicionou ter representação no supervisor, quer devido às políticas de distribuição de dividendos, quer de política monetária.

De acordo com Carlos Costa, quando terminou o segundo mandato “as tomadas de posição por parte de alguns membros do Ministério das Finanças estiveram alinhadas e sincronizadas com as posições do Bloco de Esquerda“.

E acrescenta: “as tomadas de posições de dirigentes do Partido Socialista não emparelham com aquelas posições tanto no conteúdo como no tempo, não obstante prosseguirem o mesmo objetivo, o de enfraquecer o governador”.

“Num segundo momento, visaram promover o desgaste e a desmotivação, na expectativa de provocar a demissão por cansaço: Ele vai cansar-se e demitir-se”, vincou.

O livro tem levantado polémica e o primeiro-ministro, António Costa, já afirmou que irá processar o ex-governador do Banco de Portugal por ofensa à sua honra, depois de, no livro, o antecessor de Mário Centeno ter relatado que foi pressionado pelo chefe do Governo para não retirar Isabel dos Santos do BIC.

António Costa reafirma que vai processar Carlos Costa por ofensa à honra e bom nome

O ex-governador do Banco de Portugal voltou a acusar, esta terça-feira, o primeiro-ministro de intromissão política junto do supervisor bancário no caso de Isabel dos Santos, argumentando que o confirma na mensagem escrita que lhe enviou.

Já neste dia o primeiro-ministro acusou o ex-governador de ter escrito um livro com mentiras e deturpações a seu respeito e de ter montado uma operação política de ataque ao seu caráter, reiterando que já deu início ao processo judicial.