O líder da UNITA, maior partido da oposição angolana, disse esta sexta-feira, em Luanda, que é preciso normalizar as eleições, porque Angola viveu, nos últimos três anos, um “ambiente de terrorismo de Estado, completamente antidemocrático” devido ao processo eleitoral.

Adalberto Costa Júnior discursava na abertura da II reunião ordinária da Comissão Política da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), que decorre em Viana, província de Luanda, entre sexta e sábado.

“Nós estamos a dizer isto para não repetir, para virarmos a página da convivência, do diálogo, afinal, somos filhos do mesmo país, somos angolanos, pretendemos o bem de Angola e não faz sentido acirrar os ânimos, quando se tem uma eleição que afinal é cíclica, é regular, vai acontecer muitas vezes, e nós precisamos fazer diferente, mas não podem ser discursos apenas, tem que ser práticas e factos”, sublinhou.

Segundo Adalberto Costa Júnior, em Angola as eleições quase paralisam o país, com processos muito longos e “as últimas não foram exceção”.

As eleições de agosto último, praticamente tiveram uma pré-campanha de quase um ano e meio, o país viveu quase exclusivamente com foco nas eleições durante uma parte substantiva de 2021 e durante todo o ano de 2022″, frisou.

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O presidente da UNITA defendeu que é preciso “deixar de proceder desta forma”, porque “são imensos os danos que o país acarreta por causa desse posicionamento”.

“Nós temos que normalizar o funcionamento das instituições e da nossa própria vida, temos que olhar para os processos eleitorais como circunstâncias cíclicas e normais e não como algo extraordinário, as eleições vão ocorrer nos níveis e nos formatos comuns, dentro e fora das instituições e elas são boas, porque permitem renovação, porque não é bom quando se permanece muito tempo na interpretação de funções, ganham-se vícios e perde-se sensibilidade”, salientou.

De acordo com Adalberto Costa Júnior, todo o ano de 2021 foi formatado em função das eleições de 2022, e além da pandemia da covid-19, “vieram os jogos sem limites, na tentativa da manutenção do poder”.

“Praticamente, os últimos três anos foram anos de um conflito sem limites, sem regras, sem normas, sem parâmetros democráticos, desadequados a um Estado democrático e de direito, desadequados aos valores constitucionais, que estão bem respaldados na Constituição da República e nas leis da República de Angola”, disse.

Apesar do quadro descrito, Adalberto Costa Júnior disse que as eleições correram bem, assim como a campanha eleitoral, mesmo com “muitos incidentes”.

“Diria mesmo que houve incidentes em todos os atos da campanha, [porém] nós soubemos contorná-los e passar a mensagem de festa e de esperança”, realçou.

Sobre as eleições gerais de 24 de agosto passado, o político disse que “trouxeram uma mensagem poderosa para todos, não só para o regime”.

“Estas eleições marcaram uma diferença substancial com todas as anteriores. Estou seguro que os angolanos desta vez mandaram uma mensagem para dentro dos partidos políticos, também para nós, estas eleições não foram as tradicionais eleições de contexto histórico emocional, acabou esse tipo de votação”, destacou.

“Os angolanos foram votar em função do programa e em função das lideranças e das propostas políticas, desta vez nós sentimos mais do que antes, indiscutivelmente mais, de que votaram naqueles programas que podiam realizar o seu sonho e a sua dignidade e votaram massivamente. Houve deslocação histórico emocional nestas eleições, é indiscutível”, acrescentou.

O líder da UNITA lamentou o ambiente pós-eleitoral “cheio de ameaças, de prisões, que atingiram um pouco transversalmente a sociedade”.

“Não atingiram apenas os partidos políticos, atingiram também os ativistas cívicos, o cidadão. Temos o caso de um companheiro nosso agredido, a esposa os braços cortados várias vezes por facas quentes”, citou Adalberto Costa Júnior, referindo-se ao caso, ocorrido em setembro, com o jornalista da Rádio Despertar, ligada à UNITA, Emanuel “Cláudio In”, criticando o silêncio das autoridades.

As eleições gerais de Angola realizadas em agosto deste ano ficaram marcadas por contestações dos partidos concorrentes, que alegaram falta de transparência em todo o processo eleitoral, que reconduziu João Lourenço, líder do MPLA, a Presidente da República, num segundo mandato.

Adalberto Costa Júnior: “Roubo do voto ocorreu”, mas nem assim a “UNITA deixou de ganhar”