Um texto com metáforas, simbolismos, críticas e apelos. No artigo de opinião publicado, esta sexta-feira, no Observador, Adalberto Costa Júnior, líder da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), começa por falar nos embondeiros: uma “árvore de grande porte”, que pode viver muitos anos — mas que, infelizmente, tem estado a morrer em Angola, “mantendo-se na paisagem” e “sem que seja fácil retirá-los”. É que esta é uma missão exigente e, na operação são, por isso, necessárias várias pessoas com especial “perícia e inteligência”. Para o presidente da UNITA, líder do maior partido da oposição angolana — que perdeu as eleições que deram a vitória ao Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) e ao seu líder, João Lourenço — é isso que representa o governo novamente em funções: um embondeiro moribundo, que seca e esgota “toda a agua da nascente de que se alimenta”, “que se deixou envenenar até às raízes”, fragilizando a democracia.

Num comunicado anterior, na sequência de a Comissão Nacional de Eleições (CNE) e de o Tribunal Constitucional terem reconhecido a vitória de João Lourenço, o partido de Adalberto Costa Júnior já havia descrito “uma regressão preocupante do quadro democrático” em Angola, “com a restrição das liberdades, ameaças à integridade física de ativistas dirigentes políticos, bem como membros  da sociedade civil  que tenham opinião própria”.

No artigo publicado no Observador, e face aos pedidos vindos de “vários quadrantes” para a remoção desta árvore moribunda — perigosa, que tudo faz para se perpetuar na paisagem, “que finge estar viva” —, Adalberto Costa Júnior explica que desfazer um regime instalado há décadas obriga à “mesma paciência e inteligência” exigidas na remoção das “árvores que perderam as suas raízes.”

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“Este sábado chegou a hora de enchermos a rua com a nossa alegria”

O caminho da UNITA, destaca, tem sido exemplar: “Resistimos à falta de liberdade de imprensa, a perseguições e prisões arbitrárias, à manipulação do poder legislativo e judicial, à não publicação dos registos eleitorais, à viciação da lei das sondagens, ao uso indevido dos dinheiros públicos em benefício do partido-Estado.”

Uma postura contrária à do MPLA, que, depois de uma “campanha vergonhosamente faustosa” num país “pobre e cheio de dificuldades”, tem desfilado “nas ruas um poderio militar desproporcionado” — “como se estivesse em guerra contra o seu próprio Povo.” Considera ser “claro para todos os angolanos” que a recusa da contagem dos votos por confrontação das atas síntese disponíveis foi sintomática do roubo dos mesmos — “Roubo do voto ocorreu”, escreveu — e que, nem assim, a “UNITA deixou de ganhar”.  Mas, ressalva, o que está em causa não é a UNITA, mas “algo maior”: “a expressão da vontade de mudança”, que vem de uma “expressiva maioria da sociedade”.

Apesar do anseio daqueles que “legitimamente” desejam que o “futuro já tivesse ocorrido”, é importante não dar motivos ao opositor para “praticar massivamente a violência e espalhar o medo”. Assim, deixa um apelo: convoca uma “vigília pela paz e pela democracia” — manifestação, já anunciada no referido comunicado, pela cidadania e consolidação do Estado democrático e de direito, face à constatação preocupante de “uma regressão do quadro democrático” do país.

“Este sábado chegou a hora de enchermos a rua com a nossa alegria, com as nossas músicas e orações, velhos e novos, em família, com os amigos, vamos celebrar a soberania do Povo e honrar a democracia.”