Há filmes da gigante de entretenimento com “plot twists” mais modestos do que aquele que foi divulgado pela Disney na noite deste domingo. O então CEO, Bob Chapek, foi substituído com efeitos imediatos pelo seu antecessor, Bob Iger.
O desfecho é surpreendente, ainda mais tendo em conta que foi Iger a anunciar a vontade de sair da Disney, em 2020, e a escolher a dedo o sucessor Chapek. Agora, volta à empresa que liderou durante 15 anos, após um afastamento que teve efeitos práticos em 2021.
Em comunicado, a Disney foi escassa na informação que partilhou sobre a saída de Chapek, que teve um percurso algo acidentado na gigante de entretenimento, a começar por uma pandemia e mais tarde pelo regresso da guerra à Europa. Iger tem “um mandato por parte do conselho de administração para definir uma direção estratégica para crescimento renovado”, era explicado.
Mas este regresso de Bob Iger à Disney não é feito por tempo indeterminado – aliás, tem uma espécie de prazo de validade de dois anos. Fica também prometido o desenvolvimento de trabalho em conjunto com a administração para encontrar um sucessor.
O executivo regressa ao cargo de CEO já com 71 anos. Curiosamente, adiou a reforma quatro vezes até anunciar o afastamento da Disney, em 2020. Na altura, disse que era hora de sair do leme da empresa de Mickey Mouse porque estava a começar a “desvalorizar a opinião das outras pessoas”. “Ao longo do tempo comecei a ouvir menos e tornei-me talvez um pouco menos tolerante para com as opiniões dos outros, talvez porque também fiquei com algum excesso de confiança, que é o que acontece quando “Foi um sinal claro de que estava na altura. Não foi a razão para sair, mas foi um fator que contribuiu para isso”, admitiu em entrevista à CNBC, no final de 2021. Na altura, descreveu o sucessor como alguém preparado para reagir a um “mundo a mudar dramaticamente”.
Neste regresso, Bob Iger não escondeu “algum espanto” por regressar à Disney como CEO. “O conselho de administração concluiu que como a Disney está a embarcar num período de complexa transformação da indústria, Bob Iger está numa posição única para liderar a companhia neste momento de viragem”, continua o comunicado da empresa.
Há quem descreva a troca de Bob Chapek por Bob Iger como algo desastrada. É justamente esse o retrato que a CNBC traça, apurando junto de fontes internas que o “board” da Disney terá abordado na sexta-feira Bob Iger, sem outros possíveis candidatos para o lugar.
Alegadamente, terá havido algumas dúvidas internamente sobre a capacidade de Bob Chapek para liderar a Disney num momento desafiante, com ações que cedem quase 38% até este ponto do ano.
Bob Iger regressa à Disney após um ano na reforma. Na anterior era enquanto CEO, Bob Iger tem na multimilionária aquisição da 21st Century Fox, por 71,3 mil milhões de dólares, a jóia da coroa. Foi também durante o seu mandato que ficaram concluídas aquisições que expandiram o portefólio da Disney, como a Pixar (2006), Marvel (2009) ou a Lucasfilm (2012). Com esta última, o império Disney passou a deter os direitos da lucrativa franquia Star Wars.
Em 2016, até pensou em comprar o Twitter — considerava que seria um bom veículo de distribuição de conteúdos. Como já se percebeu, o negócio não foi avante.
Iger entrou no negócio dos media ainda nos anos 70. Uma boa parte da carreira foi feita na ABC, onde deu a luz verde ao sucesso Twin Peaks. Foi subindo degraus na companhia até esta ser adquirida pela Disney, em 1996. Passou para a Disney e foi nomeado presidente da empresa em 2000. Cinco anos mais tarde, passou a ser presidente executivo da companhia, sucedendo a Michael Eisner.
A notícia da dança de cadeiras na Disney até conseguiu surpreender a concorrência, nomeadamente no streaming. No Twitter, Reed Hastings, co-fundador da gigante de streaming Netflix, escreveu que “tinha esperança que Iger se candidatasse a Presidente. Ele é ótimo”.
Ugh. I had been hoping Iger would run for President. He is amazing.
— Reed Hastings (@reedhastings) November 21, 2022