O secretário de Estado do Ensino Superior, Pedro Nuno Teixeira, sublinhou esta sexta-feira, em Braga, a necessidade de “um crescimento e um amadurecimento” na forma como os estudantes estrangeiros são acolhidos nas universidades e politécnicos portugueses.

Em declarações à Lusa à margem da conferência “Será o nosso ensino superior inclusivo?”, promovida pelo Universities Portugal, o governante admitiu que a criação de uma espécie de “ano propedêutico” poderá ser uma boa forma de promover uma melhor integração.

“Essa necessidade [de ano propedêutico] pode existir, mas vai depender das áreas de estudo e do perfil dos estudantes que chegam. Há estudantes oriundos de alguns países cuja integração é muito mais fácil, a nível linguístico, cultural, de formação e de currículo. Pode haver necessidades específicas, fará sentido fazer essa avaliação instituição a instituição, se calhar até curso a curso”, referiu.

Referindo-se de uma forma particular aos estudantes oriundos de países africanos e às suas dificuldades de integração, Pedro Nuno Teixeira disse que, “se calhar”, o problema poderá estar nas expectativas que criaram e em níveis de preparação académica “desajustados”.

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“Algumas dessas vagas de estudantes vêm com expectativas que não correspondem, vêm com nível de preparação académica que se calhar não é o ajustado para aquilo que é expectável para o nível do ensino superior português, que é exigente”, afirmou.

Por isso, defendeu, é preciso que as instituições reforcem o seu trabalho de integração e de acolhimento. “Há um crescimento e amadurecimento que é preciso fazer na forma como acolhemos e integramos esses estudantes, mas também na forma como preparamos os futuros candidatos para virem estudar em Portugal, para ajustarem as suas expectativas e saberem o que esperamos deles”, acrescentou.

O governante sublinhou que, a partir de 2014, houve um “crescimento muito grande” no número de estudantes estrangeiros, sobretudo de fora da União Europeia, que escolheram Portugal para tirarem os seus cursos superiores.”Nos anos de pandemia, houve alguma travagem, mas agora voltará a ser de forte crescimento”, vaticinou.

A criação de um ano propedêutico para os estudantes africanos de língua portuguesa, para reduzir as dificuldades académicas que enfrentam no ensino superior português foi recentemente defendida por Miguel Chaves, coordenador do departamento de Sociologia na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, que está a fazer um levantamento sobre o universo destes estudantes e o seu acolhimento em Portugal.

Em entrevista à Lusa, o docente alertou que a população dos PALOP no ensino superior português enfrenta atualmente “problemas que já vêm de trás e que se vieram a agravar nos últimos cinco anos”, altura em que começou a aumentar substancialmente o número de estudantes guineenses.

O número de estudantes dos países africanos de língua portuguesa no ensino superior em Portugal quase triplicou em cinco anos, mas muitos enfrentam dificuldades e há elevados níveis de abandono, alerta um docente da Universidade Nova de Lisboa.