Perder as chaves do carro já é uma história contada vezes demais para ainda ter valor. No Estádio Al Thumama, Marrocos e Bélgica resolveram inovar. O primeiro a ter paradeiro desconhecido foi o guarda-redes marroquino, Bono, que foi substituído à última da hora sem que ninguém tivesse reparado na alteração. A seleção belga perdeu algo de maior valor e de recuperação improvável, tal como o entusiasmo que costumava trazer para as grande competições.

A Bélgica até tentou impor o estilo vertical que caracteriza os diabos vermelhos num sistema tático diferente em relação ao que tinha apresentado contra o Canadá. Em detrimento do 3-4-3 que Roberto Martínez utilizou no jogo anterior, a equipa belga recorreu ao 4-2-3-1. As alterações no onze – entraram Meunier, Onana e Thorgan Hazard para os lugares de Dendoncker, Tielmans e Carrasco – deixavam antever que o lado estratégico ia prevalecer. Na frente, juntaram-se os irmãos Hazard. No entanto, faltou criatividade e velocidade na circulação para que a Bélgica conseguisse ser mais dominante.

A estratégia de Marrocos baseou-se num 4-3-3 estacionado num bloco médio no momento de organização defensiva. Abdicando de pressionar os centrais belgas que se revelaram incapazes de elaborar jogo na primeira fase de construção, a seleção marroquina permitiu aos adversários subir no terreno para, dessa maneira, ganhar espaço nas costas da defesa para poder contra-atacar. Fê-lo várias vezes, especialmente através das subidas do lateral-direito Hakimi.

No entanto, foi a Bélgica a primeira equipa a criar perigo. Michy Batshuayi (6′) encarou o guarda-redes Munir Mohamedi, mas falhou a hipótese de marcar em dois jogos consecutivos. Não foi, no entanto, através do ataque organizado belga nem da vertigem de marroquina que nasceu um esboço de golo. Ziyech (45+1′) marcou um livre que tinha potencial para ser um cruzamento, mas que acabou dentro da baliza. Saiss atacou a bola a partir de posição irregular e o VAR anulou o lance ao considerar que o defesa teve interferência no lance.

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Quando se esperava que a Bélgica aparecesse mais incisiva no ataque, Marrocos equilibrou o jogo e passou a ter mais tempo a bola. Com a melhoria da seleção do continente africano, apareceram os homens da frente. Sofiane Boufal apareceu mais interventivo e fez uma diagonal com direito a remate (57′) que passou perto da baliza de Courtois. Respondeu Mertens (65′) com um remate de fora de área que, mesmo tendo saído direcionado ao centro da baliza, levava força para assustar um guarda-redes com uma postura medrosa.

Com enormes dificuldades para validar credencias, a Bélgica foi traída pela confiança que tinha na qualidade individual dos seus jogadores. Um livre lateral marcado por Sabiri (73′), semelhante a um canto de mangas arregaçadas, teve um destino inesperado. A falta de ângulo era proporcional à baixa probabilidade que um remate daquela zona do terreno tinha de entrar. Courtois errou o posicionamento e viu a bola entrar numa zona que devia ter controlado melhor. Para confirmar que a luta pela vitória era uma causa perdida para os diabos vermelhos, Aboukhlal (90+2′) estabeleceu o 2-0 final.

A pérola

  • Tal como Hakimi, o outro lateral da seleção marroquina, Mazraoui também se destacou ao longo do jogo. A jogar do lado oposto do seu pé preferencial, o lateral do Bayern subiu várias vezes pelo flanco e procurou jogadas de envolvimento ofensivo sem esquecer que nas costas tinha Hazard pronto a feri-lo. Com a saída de Hakimi, Mazraoui acabou a jogar do lado direito da defesa.

O joker

  • Um baralho de cartas completo traz sempre dois jokers. Sabiri e Aboukhlal saltaram do banco para marcar os dois golos que deram a vitória. Caso para dizer que foram belos trunfos que o selecionador Walid Regragui lançou para ficar com os três pontos

A sentença

  • Marrocos passa a liderar o grupo F do Mundial com quatro pontos, empurrando os favoritos, Bélgica e Croácia para uma situação em que têm que correr atrás do prejuízo. A Bélgica continua a depender apenas de si para avançar para os oitavos de final. A última jornada vai ser agitada neste grupo.

A mentira

  • Quando o onze de Marrocos foi divulgado, o guarda-redes, Yassine Bono era dado como titular. Cantou o hino alinhado com os jogadores que iam estar dentro do campo quando o árbitro desse início ao jogo. Só que, quando o árbitro apitou, na baliza marroquina apareceu Munir Mohamedi. Bono ter-se-á sentido mal durante a cerimónia protocolar e foi substituído do onze em cima da hora do encontro.