Na habitual mensagem do 1 de Dezembro, dia da Restauração da Independência, Duarte Pio, duque de Bragança, deixou um apelo à classe política: é urgente “acabar de uma vez com todas as situações de gritante corrupção que temos vindo a ter conhecimento nos últimos tempos”.
A intervenção, a que o Observador teve acesso e que será proferida no tradicional jantar dos Conjurados, que se realiza esta quarta-feira, na Malveira, Duarte Pio pediu uma “classe política forte e séria“, que esteja “decidida a fazer face aos desafios que se colocam a Portugal” e em protagonizar um combate sério à corrupção, uma “sombra pesada sobre o país”.
Sem ignorar os efeitos da guerra numa economia que “já era bastante frágil“, o duque de Bragança avisou que “a inflação, a escassez de produtos, o aumento exponencial dos combustíveis e energia” vão “dificultar ainda mais a vida” dos portugueses.
“Começamos a assistir a algumas situações que poderão causar grandes dificuldades durante o próximo ano. Em consequência, existe cada vez mais a necessidade de acorrermos às famílias mais desfavorecidas”, recordou
Numa crítica à forma como o país tem sido conduzido nas últimas décadas, Duarte Pio não deixou de sublinhar que o país “cresce mais devagar do que a maioria dos outros países, pelo que os rendimentos das empresa e famílias também se mantêm em níveis inferiores aos que desejaríamos obter”.
“Considerando que temos vindo a perder competitividade e oportunidades, tanto nos períodos internacionais favoráveis, como nos desfavoráveis, esta evolução só se pode atribuir a opções políticas e económicas erradas”, explicou, frisando que, “ao contrário dos países mais prósperos”, em Portugal “as pessoas e as empresas que obtêm sucesso e são vítimas de inveja social e de perseguição fiscal“.
E disse mais: “Em contrapartida, aquelas [pessoas] que são inativas ou pouco produtivas são continuamente promovidas e incentivadas, criando um país de subsidiodependentes, viciados em pedir e receber favores do Estado e fundos da Europa.” Perante o cenário que descreve, Duarte Pio espera que o Estado e as instituições ligadas à economia “criem uma envolvente propícia a uma maior criação de riqueza em Portugal”.
O duque de Bragança deixou também um alerta para o “crescente problema do envelhecimento da população” e para a “estagnação económica” e para as dificuldades dos jovens. “Atualmente, mais de 40% dos nossos emigrantes estão na faixa etária entre os 20 e os 29 anos. São números impressionantes. Este caminho, leva ao fim da esperança, o que não podemos deixar acontecer de forma alguma.”
Duarte Pio recordou ainda Gonçalo Ribeiro Telles para defender que é preciso um “projeto de nação”, citando o antigo governante: “Acima da legítima liberdade de opinião de todos os portugueses, do poder efetivo das repúblicas municipais, acima das divisões sociais e políticas e dos poderes locais, terá que existir uma instituição permanente e histórica (o Rei), que garanta a unidade nacional, a liberdade, a diversidade de opinião e de propósitos e o prestígio no contexto internacional. Só assim podemos continuar a ser uma nação livre e independente e a desempenhar no mundo o papel a que a nossa história e civilização
nos obrigam.”
No final da mensagem no dia da Restauração da Independência, Duarte Pio lembrou ainda que a Jornada Mundial da Juventude se realiza no próximo ano em Portugal, o que disse ser uma “oportunidade única” que a Igreja dá ao país de “afirmar Portugal junto dos jovens”.