Enviado especial do Observador em Doha, no Qatar

O Mundial acabou mais cedo para o Irão com o feito histórico dos oitavos a ficar novamente à distância de um golo. Foi assim em 2018 contra Portugal, onde empatou quando necessitava ganhar, foi assim em 2022 contra os EUA, onde perdeu quando precisava de pelo menos empatar. E o desalento era evidente no final da partida. Houve lágrimas, jogadores deitados no terreno, abraços entre companheiros, um grande apoio por parte dos jogadores americanos que em alguns casos foram primeiro consolar os iranianos e só depois festejar o apuramento para a segunda fase. De certa forma, acabou o terceiro jogo e vai agora começar o “jogo”. Outro jogo. E um jogo sem árbitro, sem proteção, sem tempo definido e sem descontos.

“O sonho acabou. Jogámos melhor mas não marcámos. O futebol pune quem não marca. Acho que um empate teria sido mais justo, mas futebol não é uma questão de justiça. Nós não marcámos, eles marcaram, eles ganharam e passam de fase. O primeiro tempo foi dos EUA, foram mais rápidos, criaram chances e conseguiram marcar. No segundo tempo foi o contrário, começámos a fechar os movimentos deles, tivemos uma reação fantástica, recuperámos e criámos ainda mais oportunidades do que eles no primeiro tempo”, começou por comentar Carlos Queiroz depois da eliminação na quarta fase final (terceira pelo Irão).

“Parabéns aos EUA pela classificação e desejamos boa sorte para o restante do campeonato. Estou muito orgulhoso destes jogadores fantásticos, pelo seu caráter, coragem e dedicação. A vida continua e agora todos terão de descansar e preparar-se para o próximo encontro com os respetivos clubes porque os campeonatos recomeçam dentro de algumas semanas”, acrescentou ainda nesse espaço o técnico português.

“Estou muito orgulhoso e honrado de ter, uma vez mais, treinado a seleção do Irão e estes jogadores fantásticos. Já disse uma vez que em toda a minha carreira já treinei em muitos sítios, desde a China aos EUA, e que nunca na vida vi jogadores que dessem tanto e recebessem tão pouco. Merecem todos o meu respeito e a minha admiração. A segunda parte levava-me a muitas outras considerações. Este mundo e este momento que vivemos está tão cheio de idiotices e patetices… Vale tudo. Qualquer pessoa com base em qualquer informação ou fonte anónima escreve uma idiotice que passa a ser verdade. É o mundo em que vivemos mas não deixa de ser lamentável. Foram imensas as histórias e pressões que os jogadores receberam de todas as formas, mas o que tenho a dizer é que graças ao trabalho, à união e às explicações os jogadores voltaram às suas raízes e perceberam quem são os seus amigos e para quem é que jogam. Deram uma boa resposta dentro do campo e honraram a camisola do país”, salientou mais tarde.

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“Os jogadores iranianos fizeram muitos sacrifícios e um esforço tremendo. Não têm as mesmas condições de trabalho que normalmente as outras equipas têm por razões que conhecem melhor do que eu. Às vezes nem botas podem comprar. Mas quando trabalho todos os dias e vejo uma dedicação e uma entrega de crescer, ser grande e mostrar ao mundo o futebol e a paixão do Irão sinto-me muito orgulhoso”, frisou.

Mais tarde, após falar aos meios nacionais na zona de entrevistas rápidas, Queiroz voltou a apontar a mira a toda a pressão a que os seus jogadores estiveram sujeitos. “Não é fácil conviver com ameaças no Instagram. Num dia são heróis do povo, no outro dia abrem o Instagram e querem matá-los. Mas passámos sempre uma mensagem de confiança e o mais importante foi mostrar-lhes o caminho neste Mundial. A missão que tínhamos era dar um sorriso e felicidade às pessoas. Tudo o que os jogadores fizeram merece muito respeito”, voltou a reforçar o treinador português, desta vez à cadena COPE.

De referir que Mehdi Taremi, que ficou a falar com o árbitro espanhol Mateu Lahoz no final da partida pelo lance em que caiu na área no penúltimo minuto dos descontos, passou a zona mista com dificuldades físicas e a coxear mas o problema diz respeito apenas ao gémeo e ao desgaste físico do encontro.