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O Presidente ucraniano aprovou esta sexta-feira uma proposta de lei com o propósito de banir as igrejas afiliadas à Rússia e que prevê sanções a bispos que colaborem com as autoridades russas. A medida foi descrita por Zelensky como “necessária” para impedir que Moscovo seja capaz de “enfraquecer a Ucrânia a partir de dentro”.
“Vamos garantir a completa independência do nosso Estado, em particular a independência espiritual”, garantiu o líder ucraniano no discurso de quinta-feira, depois do Conselho de Segurança tomar passos no sentido de investigar as ações da Igreja Ortodoxa Ucraniana em conexão ao Patriarcado de Moscovo. “Nunca iremos permitir que alguém construa um império dentro da alma ucraniana”, sublinhou.
⚡️Zelensky approves proposal to ban Moscow-backed church, sanctions bishops.
Zelensky signed a decree on Dec. 2 to approve a proposal by the National Security and Defense Council to ban the Ukrainian Orthodox Church of the Moscow Patriarchate.
— The Kyiv Independent (@KyivIndependent) December 2, 2022
Há duas grandes divisões da Igreja Ortodoxa no país: a Igreja Ortodoxa Ucraniana, do Patriarcado de Moscovo, e a Igreja Ortodoxa da Ucrânia. Esta última, vista por Moscovo como herege, foi reconhecida em 2019 pelo Patriarcado de Constantinopla como independente da Rússia, uma conquista para a Ucrânia e um golpe duro para o poder russo.
Cisma do século XXI. Igreja Ortodoxa Russa rompe relações com patriarca de Constantinopla
Nas últimas semanas, o Serviço de Segurança da Ucrânia (SBU, na sigla em inglês) tem realizado várias buscas em paróquias que dizem estar a receber ordens diretamente da Rússia. O mosteiro Pechersk Lavra, considerado a sede da ala apoiada pela Rússia da Igreja Ortodoxo Ucraniana, um tesouro cultural ucraniano com mais de mil anos, não escapou e foi investigado devido às suspeitas de “atividades subversivas dos serviços secretos russos”, refere a Reuters. Desde o mês passado já foram detidos 33 padres por assistirem a Rússia desde o início da invasão, a 24 de fevereiro. A maioria foi acusada de reunir informações para os serviços secretos russos, avançou o New York Times.
Na semana passada, numa operação conjunta do SBU e da polícia ucraniana foi descoberta uma “grande quantidade” de “conteúdos anti-Ucrânia” num seminário na região de Ternopil e na diocese de Ivano-Frankivsk da Igreja Ortodoxa Ucraniana. Nos locais existiam livros de propaganda que negam a existência do Estado e língua ucraniana, bem como brochuras e livros de “conteúdo xenófobo e com fabricações ofensivas para outras etnias e religiões”.
Durante as buscas, também têm sido descobertas alegadas provas de padres que possuem cidadania russa, que terão contactado com agentes dos serviços de informações russos e detentores de literatura que nega o direito da Ucrânia existir. Esta sexta-feira, o SBU revelou que encontrou provas de que o bispo da diocese de Kirovohrad estava envolvido em “atividades criminais” contra a Ucrânia. “O bispo entrou no círculo próximo do Patriarca Kiril de Moscovo, coordenando a expansão da perspetiva pró-Kremlin na região”.
No mesmo dia, decorreram buscas nas dioceses da região de Zakarpattia, Rivne e Zhytomyr, que culminaram com a descoberta de armazéns com literatura pró-Kremlin e símbolos nazis, com “ensinamentos sobre o satanismo” e textos de orações pelo patriarca de Moscovo.
Foram encontrados livros de propaganda de autores russos que justificam a agressão contra a Ucrânia e apelam às pessoas que se juntem aos ocupantes”, refere o SBU.
Da Rússia já chegaram críticas à liderança ucraniana. O ex-Presidente Dmitry Medvedev descreveu as autoridades de Kiev como “satanistas” e “inimigos de Cristo e da fé ortodoxa”. “É assim que todo o mundo cristão deveria tratá-los”, escreveu numa publicação na conta de Telegram. Segundo Medvedev, as autoridades ucranianas estão a tomar as propriedades da igreja e a agredir membros do clero e das paróquias.
As autoridades ucranianas tornaram-se abertamente inimigos de Cristo e da fé ortodoxa”, sublinhou.
A Igreja Ortodoxa russa também condenou as buscas, que descreveu como “atos de intimidação”. “Como em muitos outros casos de perseguição dos crentes na Ucrânia desde 2014, o mais certo é este ato de intimidação passar despercebido por aqueles que se consideram a comunidade internacional de direitos humanos”, afirmou o porta-voz, Vladimir Legoida.
Os cristãos ortodoxos compõem a maior parte da população ucraniana. Mas, segundo um estudo do Instituto Internacional de Estatísticas e Sociologia de Kiev, citado pela Reuters, apenas 4% da população se afiliam à Igreja subordinada a Moscovo. Este ramo, ao contrário da Igreja Ortodoxa da Rússia, condenou a invasão da Ucrânia, no entanto as autoridades temem que seja uma fonte da sua influência no país.