As agências humanitárias ainda não conseguem aceder à província etíope de Tigré, apesar do acordo de paz assinado há um mês, lamentou esta sexta-feira a Organização Mundial da Saúde (OMS). “Este processo de paz ainda não se traduziu no acesso total, acesso desimpedido e assistência médica e de saúde generalizada de que o povo de Tigré precisa“, disse o responsável das ações de emergência da OMS, Michael Ryan, durante uma conferência de imprensa em Genebra.
Na mesma conferência de imprensa, o diretor-geral da OMS, o etíope Tedros Adhanom Ghebreyesus, que nasceu em Tigré reconheceu que “há ajuda alimentar e remédios que são distribuídos”.
“Mas queremos acesso livre porque as necessidades são enormes“, acrescentou, considerando que “a única solução para o conflito é através do diálogo político e uma solução pacífica” e defendendo que a população civil esteja “no centro” das decisões.
A entrega de ajuda humanitária em Tigré foi interrompida no final de agosto, quando os combates recomeçaram após uma trégua de cinco meses entre o exército federal etíope e seus aliados de um lado e as forças das autoridades rebeldes de Tigré do outro.
Mesmo antes desta interrupção, a ajuda já era insuficiente para fazer face às necessidades de uma região onde cerca de 90% dos seis milhões de habitantes dependem da ajuda alimentar, devido ao conflito que eclodiu em novembro de 2020.
Outra agência da ONU, o Programa Alimentar Mundial (PAM), alertou há uma semana que, embora as operações humanitárias estejam a aumentar no norte da Etiópia, parte do Tigré continua inacessível e a ajuda entregue é menor do que a necessária.
A região do Tigré esteve praticamente isolada do mundo mais de um ano e está privada de eletricidade, telecomunicações, serviços bancários e combustível.
A guerra começou em 4 de novembro de 2020, quando o primeiro-ministro etíope, Ahmed Abiy, ordenou uma ofensiva contra a então governante Frente Popular de Libertação de Tigré (TPLF, na sigla em inglês), em resposta a um ataque a uma base militar federal e a uma escalada das tensões políticas, incluindo a recusa da TPLF em reconhecer o adiamento das eleições e a sua decisão de realizar eleições regionais fora de Adis Abeba.
A TPLF acusa Ahmed de alimentar tensões desde que chegou ao poder em abril de 2018, quando se tornou o primeiro oromo a tomar posse.
Até então, a TPLF tinha sido a força dominante no seio da coligação governante da Etiópia desde 1991, a Frente Democrática Revolucionária Popular Etíope, de base étnica.
O grupo opôs-se às reformas de Abiy Ahmed, que considerou como uma tentativa de minar a sua influência.