A China anunciou uma reformulação profunda das medidas de combate à transmissão do novo coronavírus, numa cedência significativa aos protestos que abalaram o país nas últimas semanas. Os testes (PCR) frequentes e a controversa utilização de códigos de cores, dois dos principais pilares da política de “Covid-zero”, vão deixar de fazer parte do dia a dia dos chineses – além disso, a maioria das pessoas vai poder fazer isolamento em casa e não nos “campos de quarentena”.

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É, de longe, o maior levantamento de restrições pandémicas na China até agora. As mudanças foram anunciadas esta quarta-feira pelo governo chinês, um plano de 10 pontos que também traz melhores perspetivas de que se podem atenuar os problemas nas cadeias globais de produção e abastecimento: a menos que uma determinada zona seja considerada de “elevado risco”, o trabalho e a produção local não serão interrompidos.

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Uma das principais mudanças é que todos os cidadãos que tenham sintomas leves (ou inexistentes) podem passar a fazer quarentena na sua própria casa – potencialmente acabando com as situações, retratadas em vídeos difundidos em todo o mundo, de pessoas, incluindo idosas, a serem retiradas à força de casa, por agentes da autoridade, para serem levadas para os “campos de quarentena” criados para o efeito.

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Os testes PCR frequentes apenas serão necessários para quem frequenta ou visita hospitais ou escolas e deixam de ser obrigatórios para a frequência da maior parte dos locais públicos. As escolas vão passar a manter-se abertas a menos que exista um surto de grandes dimensões e os confinamentos gerais vão passar a ser mais localizados – como, por exemplo, alguns edifícios ou andares, em vez de bairros ou cidades inteiras.

As novas regras também incluem uma proibição de que sejam bloqueadas saídas de emergência, garantindo-se que quem necessita de algum tipo de assistência urgente, por alguma outra razão, irá ter acesso a esses cuidados. Isto depois do caso (negado pelo governo) de um incêndio fatal em Xinjiang em que pessoas terão morrido por não conseguirem fugir por causa das restrições pandémicas.

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Quando um caso positivo era detetado num bairro ou edifício, os portões e portas de acesso eram frequentemente trancados, incluindo saídas de emergência. Frequentemente, os elevadores eram também desativados e chapas de alumínio colocadas em torno do prédio ou bairro, que passava a estar sob a vigilância de seguranças privados 24 horas por dia. No comunicado, o Conselho de Estado proibiu de forma explícita a “obstrução de portas”.

As autoridades apelaram também a que se “acelere a vacinação dos idosos”, pedindo aos governos locais que aumentem a taxa de imunização entre os mais velhos, um dos grupos mais vulneráveis a morte ou doença grave, mas também o mais relutante em vacinar-se, no país asiático.