Novos avanços significativos na reconstrução científica da história do planeta Terra foram conseguidos. Uma equipa de cientistas encontrou num fiorde da Gronelândia, material genético ambiental de há dois milhões de anos atrás. O estudo, publicado na revista Nature, permitiu que um mundo perdido e gelado do Círculo Polar Ártico fosse reconstruido.

De acordo com site Science Alert, o último registo de informação genética existente tinha sido extraído de um osso de um mamute, com cerca de um milhão de anos. Posto isto, um novo capítulo na ciência começou. O cientista de genética, Eske Willerslev da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, e da Universidade de Copenhaga, na Dinamarca, afirma que pela primeira vez, pode-se observar um ADN de um ecossistema tão antigo.

“O ADN pode decompor-se, mas com as condições certas, podemos agora voltar atrás no tempo mais do que qualquer um pode ter ousado imaginar”, disse Willerslev citado pela mesma fonte. O ADN tende a degradar-se rapidamente devido ao clima e aos processos geológicos, no entanto consegue sobreviver se relativamente bem protegido. É o caso das amostras encontradas em sedimentos de quartzo e argila enterradas no fiorde.

Os cientistas recolheram a grande maioria destas amostras durante anos, pelo que estes materiais estavam armazenados e aguardavam um projeto que quisesse dar o passo na história científica. Assim com os avanços na tecnologia de recolha deste tipo de informação, os cientistas construiram um amplo banco de ADN.

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O geólogo Kurt Kjær, também da Universidade de Copenhaga, explica de que forma as condições apresentadas permitiram preservar este tipo de conteúdo tão frágil. “As antigas amostras foram encontradas enterradas em sedimentos que se acumularam ao longo de 20.000 anos e eventualmente foi preservado em gelo, e crucialmente, não foi perturbado pelos seres humanos durante 2 milhões de anos”, acrescentou citado pelo Science Alert.

A paisagem gelada reconstruida revelou uma variedade de formas de vidas compatíveis com o clima “surpreendentemente ameno“, como por exemplo renas, gansos, lebres. Outras seres como formigas, pulgas e caranguejos também deixaram marcas nos sedimentos.

O mesmo site científico adianta que num estudo futuro poderá ser descrita toda a extensão deste ecossistema, pois algumas características que se destacaram sugerem que existiu um clima muito mais quente na região no período geológico, Pleistoceno, pertencente à Era Cenozoica.

O cientista especializado em genética Mikkel Pederson indica que os resultados mostram grandes fatores-chave de hipóteses a explorar no futuro.

“Um dos fatores indica que as espécies são capazes de se adaptar à mudança das condições que provêm de um aumento significativo da temperatura“, explicou Pederson à mesma fonte. Assim, fazendo a leitura da atual realidade que se defronta com o aquecimento global, a informação genética indica que as espécies podem evoluir e adaptar-se a temperaturas muito variáveis.

No entanto, é necessário tempo para as grandes mudanças. “A velocidade do atual aquecimento global significa que organismos não têm tempo suficiente portanto a emergência climática continua sendo uma enorme ameaça à biodiversidade e ao mundo”, acrescentou o cientista.

Atualmente, este estudo representa um grande passo no mundo da genética e deste modo o ADN ambiental extraído e estudado da argila e do quartzo, mostra que talvez seja possível estudar outros depósitos antigos.

O cientista Willerslev revela uma miragem de que talvez o estudo se expanda para o continente africano. “As possibilidades são infinitas, se pudermos começar a explorar o ADN dos grãos de argila da África, podemos ser capazes de reunir informações sobre a origem de muitas espécies diferentes – talvez até novos conhecimentos sobre os primeiros seres humanos e os seus ancestrais“, finalizou.