A coligação de oposição Frente Nacional de Salvação, que inclui o islamista Ennahda e grupos social-democratas, exigiu este sábado a demissão do Presidente tunisino, Kais Said, numa manifestação em Tunis, uma semana antes das eleições legislativas do país.
Como a maioria dos grupos políticos, a coligação boicotará as eleições, que serão regidas por uma nova lei eleitoral que exclui os partidos, e neste dia reuniu centenas de apoiantes que descreveram a agenda do Said, que governa com plenos poderes, como um “golpe de estado“.
A manifestação foi visivelmente menos participada do que as realizadas nos últimos meses no centro da capital tunisina, no meio de um crescente desinteresse político e de uma campanha eleitoral que passa despercebida.
As eleições de 17 de dezembro encerram o roteiro imposto pelo Presidente desde 25 de julho de 2021, quando suspendeu o parlamento (finalmente dissolvido em Março) e se arrogou de plenos poderes para “retificar a transição” de 2011, que começou com o derrube do ditador Zin el Abidin Ben Ali.
As eleições estão a decorrer sob uma nova Constituição, que substitui a de 2014 e introduz um sistema “ultra-presidencialista”, na sequência de um referendo a 25 de julho, também convocado unilateralmente por Said, no qual participou pouco menos de 30% do eleitorado.
“Somos contra o golpe de Estado. Não aceitamos um presidente injusto, um presidente que conspira num palácio de espinhos. O palácio (presidencial) em Cartago é um palácio de espinhos. Tínhamos medo de Ben Ali e agora temos medo de um segundo ditador, é por isso que somos contra Kais Said”, disse Sabah Chedli à agência EFE, enquanto segurava a Constituição de 2014.
Os manifestantes acenaram com bandeiras contra o presidente e também denunciaram a situação económica do país, que enfrenta quase 10% de inflação e escassez de bens básicos.
O ativista histórico Ahmed Nejib Chebbi, um conhecido opositor de Ben Ali que lidera a coligação, apelou a um “regresso ao caminho constitucional” e a um boicote às próximas eleições.
O partido tunisino Desturiano Libre (PDL), que reúne membros do antigo regime, também defendeu o boicote ontem, sexta-feira, e anunciou que irá processar “os candidatos, a autoridade eleitoral, o poder político e as organizações envolvidas no controlo do escrutínio”, questionando a independência do processo judicial.
Às eleições do próximo sábado concorrerão 1.055 candidatos com um único membro (121 mulheres), sem partidos políticos, aos 161 lugares no novo Parlamento, que tem um papel mais limitado na nova Constituição.