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Quando histórias e ilustrações dançam sem parar

Este artigo tem mais de 2 anos

O que têm em comum o Lobo, os Monstros, a Rita, a Antónia e o Avô Minguante? Nasceram através do Prémio de Literatura Infantil Pingo Doce, e convidam a assistir à dança da criação de histórias.

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Getty Images/iStockphoto

Getty Images/iStockphoto

“É giro!”; “Parece uma festa!”; “Eu acho que aqui sou eu, e a minha mãe, e acho que estamos abraçadas, a dar as mãos e a salvar a árvore”. Foram estas as interpretações de Maria, com 5 anos, quando lhe mostrámos algumas das ilustrações do livro “O Avô Minguante”, o livro vencedor da 9ª edição do Prémio de  Literatura Infantil Pingo Doce. “Eu acho que estão felizes.”; “As cores são muito bonitas, o barco está a apitar de certeza, e o cão a ladrar… e ouve-se o barulho da rua daqui.”; “Quando vão à praia sente-se o calor.”; “O senhor tem umas mãos muito grandes!”, conta-nos Carolina, de 6 anos, enquanto folheia o mesmo livro. É esta a força de uma ilustração num livro infantil. As letras, ilustradas por imagens que ajudam a contar a mesma história, mesmo quando os leitores de diferentes idades, tamanhos e vontades podem lê-la, ou interpretá-la de maneiras opostas, guardando para si diferentes versões da mesma história. Neste caso do Avô Mário, o protagonista d’ “O Avô Minguante”.

As cores e sons das imagens

Para a Maria, esta história era sobre ela e a sua mãe, e para a Carolina, era um dia de festa, com muito calor e passeios na praia. A ilustração acompanha o texto e juntos, como numa dança concertada, num trabalho de equipa imbatível, contam uma história vencedora, como é o caso do “Avô Minguante”.

Sons, cores, barulho, temperatura, gargalhadas. A nossa imaginação corre solta quando apreciamos boas ilustrações. Catarina Silva, vencedora de ilustração no Prémio de Literatura Infantil Pingo Doce deste ano, revela que desenhar uma ilustração passa por um processo de exploração e confessa que ainda está a iniciar o seu percurso no mundo da ilustração – “Ainda estou a explorar diferentes linguagens gráficas e a descobrir com a qual me identifico mais e qual se adequa mais a cada projeto”, e, no caso deste livro, a primeira personagem a ser criada foi o Avô. Todos os detalhes são importantes na construção da narrativa, como é o caso das cores. Catarina tem uma paleta de cores definida que usa com regularidade nos seus projetos, e vai adicionando novas cores para brincar com os contrastes. No livro “O Avô Minguante” revela-nos que a “paleta de cores que usei para ilustrar O Avô Minguante é uma paleta que uso muito nos meus trabalhos e achei que faria sentido usar pela referência à laranjeira que teve um papel tão importante para eu encontrar um sentido para a narrativa visual”.

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Ilustração: Catarina Silva

Ao ritmo das letras

Se a imagem, o grafismo, e o visual importam, também a narrativa, o conjunto das letras, e a prosa contam a história, dividindo a mesma responsabilidade com as imagens. Há um processo, no qual o escritor se envolve para criar as personagens, o enredo, e no final, a história.

Daniela Leitão, vencedora de texto da edição deste ano do Prémio de Literatura Infantil Pingo Doce, em entrevista ao Observador Lab, explica que neste livro “surgiu-me primeiro a ideia de um “avô minguante” – um avô que nos parece enorme, mas que estranhamente, e aos poucos, se torna cada vez mais pequenino, e isto acontece porque “todos os avôs são minguantes e todos os netos são crescentes”. No caso deste livro, viu-se a braços com dois protagonistas para uma mesma história “(…) que só podiam existir em simultâneo, para se olharem, reconhecerem e encontrarem nas palavras que ocupam um no outro. A partir daí, comecei a explorar a relação entre este avô e este neto e a narrativa surgiu naturalmente aliada à ideia da passagem do tempo e das transformações que ambos os personagens sofrem por via desse ciclo.” Não sendo um livro autobiográfico, porque este avô nunca existiu, Daniela afirma que “O Avô Minguante não é o resultado de uma experiência específica com um avô, mas sim uma colagem que construí com base em referências indiretas que tenho dessa relação, por falta de ter tido a oportunidade de experienciar essa palavra, isto é, de ter conhecido os meus avós. Talvez por ser essa colagem do carinho de tantas pessoas – umas avós, outras netas – consiga englobar esse “avô de todos nós”.

Contar uma história é um processo criativo, assente na base da (muita) imaginação. Daniela tem como fontes de inspiração as coisas banais e pequeninas, coisas que ouve na rua ou até mesmo que lhe contam. Este avô, explica “(…) é um conjunto de muitos avôs. Tem características de quase todos os que conheci pessoalmente, ou através de histórias e memórias partilhadas de outros que não tive o prazer de encontrar em vida. Veste as camisas do meu pai e gosta de livros como a minha mãe. Diz coisas que ouvi dos meus amigos à mesa de jantar. É um avô, deu muitos colos”.

Infografia: Joana Figueirôa

Prémio de Literatura Infantil Pingo Doce: o desafio

A oportunidade de escrever uma história, ilustrá-la, ganhar um prémio, e ainda ver a obra publicada, é única. Um concurso que promove novos talentos anualmente é muito bem recebido quer pelos participantes, quer pelos destinatários destas obras: os pequenos leitores.  Com este Prémio, o Pingo Doce visa reforçar o seu compromisso de promoção da literacia infantojuvenil, quer através de novas obras e talentos, quer pela democratização do acesso aos livros, desde tenra idade.

Numa altura em que assistimos ao movimento inverso em Portugal e no mundo, onde o digital tem um peso cada vez mais forte nas novas gerações e há cada vez menos interesse na leitura, existe um concurso nacional que não só a promove, como a incentiva. Tanto a Catarina, como a Daniela contam que ficaram muito felizes e realizadas ao vencerem este Prémio, e ainda mais ao verem a sua história ganhar vida, saltando diretamente para as estantes de casa dos portugueses.

Daniela revelou-nos que já tinha participado o ano passado, e nem sequer estava a pensar participar neste ano, mas houve uma pessoa especial que, conhecendo a história deste super avô, a convenceu a participar. Já Catarina participou por iniciativa própria, e ambas são perentórias em afirmar que tinham muita esperança e vontade de ganhar, podendo ver a sua história ganhar corpo. “Eu participei no concurso como forma de me desafiar a mim mesma. Quando li o texto pela primeira vez, identifiquei-me de imediato com a história e comecei a criar imagens na cabeça que transpus para o papel”, conta Catarina, afirmando que “(…) quando soube que tinha sido selecionada fiquei mesmo muito contente, é um prémio generoso e a oportunidade de ter o nosso primeiro trabalho publicado é incrível.”

Como qualquer um, “(…) no início foi um pouco assustador porque tinha medo de não conseguir corresponder às expectativas, de falhar de alguma forma, mas foi muito bom conseguir ilustrar o livro do início ao fim. Foi um processo muito giro e deu-me confiança no meu trabalho.”

Já Daniela destaca que “todo o processo desde escrever o texto e ganhar o concurso, passá-lo à fase de ilustração, conhecer a linguagem sensível da Catarina, que é tão talentosa e generosa nos seus processos de criação, finalmente tocar o livro impresso e vê-lo passar de mãos em mãos, é muito emocionante. Tive muita sorte na forma como a história ganhou corpo e navegou até chegar ao seu produto final”.

Ilustração: Catarina Silva

O Prémio de Literatura Infantil Pingo Doce em 2022

São inúmeros os artigos, podcast e conteúdos interessantes que falam sobre ler, livros, autores e histórias. Mas importa ressalvar que o Pingo Doce faz um incrível trabalho nesta área há 16 anos, num país que teima em contrariar o que já está provado ser essencial – aposta na leitura e por consequência, na educação. Os livros são parte integrante desta área tão especial que forma gerações e pessoas. Como os livros, também as personagens dos livros vencedores deste Prémio fazem parte deste plano: Um Lobo Mau que entra em crise e por isso protesta (“O Protesto do Lobo Mau”); uma família miniatura de monstros que vive nas molas do colchão de Olívia (“Leituras e Papas de Aveia”); uma Rita muito especial, de nove anos, que tem um mistério para desvendar (“O Narciso com pelos no nariz”); uma Antónia a descobrir (“Assim como Tu”); e este ano, um Avô enorme, que vai ficando mais pequeno aos olhos de um neto que o admira e aprende a gostar deste avô em qualquer fase. São estas as personagens que, ao longo destes anos, nasceram, cresceram e ganharam vida nas várias edições do Prémio de Literatura Infantil Pingo Doce.  Uma vida que nos surpreende enquanto leitores, e que cria novos fãs a cada página. São as personagens que nascem da química das letras e das ilustrações, que invadem imaginações e nos inspiram, todos os anos, dando o mote para novas obras.

Aqui, no Observador Lab, pode acompanhar este trabalho e as diferentes etapas do Prémio de Literatura Infantil Pingo Doce , saber como pode participar e, até, quem sabe, ser um dos próximos vencedores. São artigos sobre livros, sobre ilustradores, sobre ilustração, e até um podcast novo em que se dá destaque às Noites das Histórias, com convidados muito especiais que revelam quem foram ou são os personagens que mudaram, e fizeram a diferença nas suas vidas no universo da leitura. Boas leituras!

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