Quando à meia-noite do dia 25 de dezembro os sinos tocarem, os fiéis vão seguir o seu som rumo à igreja mais próxima. Enfrentando o frio e a resistência a ficar junto de uma mesa cheia de doces, avança-se em rumaria até ao local de culto. Mas aguentem-se os que já estão a pensar no Natal. Esta terça-feira, a romaria foi até ao Estádio do Dragão para os quartos de final da Taça da Liga. Objetivo: enfrentar as Festas na final four da competição e pensar apenas nessa competição. Conclusão: houve festa para os azuis e brancos.

O treinador do FC Porto deixara o mote para que se pense passo a passo. “Fazendo uma analogia com os automóveis, se preparamos um carro para uma próxima pista, corremos o risco de ter um acidente e, depois, não termos nem uma nem outra pista. Eu preparo o jogo a pensar no Gil Vicente e não no campeonato“. Sobre os jogadores que ia levar a jogo, Sérgio Conceição também usou o travão: “Aqueles que acho que estão melhor em termos físicos, anímicos e na estratégia são aqueles que entram de início”. Foi nessa lógica que o técnico portista trouxe ao onze os nomes fortes de Otávio e de Taremi.

A inclusão destes dois nomes nos titulares permitiu ao FC Porto interpretar o seu 4-4-2 com as dinâmicas que, normalmente, melhor o potenciam. Otávio atuou a partir da direita, tendo sempre o corredor central como referência para pedir bola no meio, criando igualdade no miolo e potenciando as subidas de João Mário. Na frente, Taremi e Toni Martínez fizeram dupla. O espanhol foi o homem mais adiantado e procurou realizar movimentos de ataque à profundidade, arrastando a linha defensiva para trás e gerando espaço entre linhas para o iraniano. A defender, por várias vezes, Galeno baixou no acompanhamento a Danilo Veiga e formou uma linha de cinco atrás.

Do outro lado, o Gil Vicente de Daniel Sousa atuou em 4-2-3-1. Vítor Carvalho, Aburjania e Fujimoto formaram o triângulo do meio-campo. Vítor Carvalho e Aburjania mostraram-se numa linha mais recuada, com Fujimoto a ter liberdade criativa mais à frente. Os gilistas começaram tímidos e com medo de ter a bola, embora tivessem algum espaço para isso. Com a subida dos níveis de confiança, os minhotos começaram a arriscar mais em posse, algo que era visível na tentativa de saída baixa a partir dos pontapés de baliza.

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Ficha de Jogo

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FC Porto-Gil Vicente, 2-0

Quartos de final da Taça da Liga

Estádio do Dragão, Porto

Árbitro: Manuel Mota (AF Braga)

FC Porto: Cláudio Ramos, João Mário (Rodrigo Conceição 87′), Fábio Cardoso, Iván Marcano, Wendell, Matheus Uribe, Marko Grujic, Wenderson Galeno, Otávio (André Franco 87′), Toni Martínez (Evanilson 45’/Pepê 56’/Gonçalo Borges 79′) e Taremi

Suplentes não utilizados: Diogo Costa, David Carmo, Veron, Gonçalo Borges e Danny Loader

Treinador: Sérgio Conceição

Gil Vicente: Stanislav Kritciuk, Danilo Veiga, Lucas Cunha (Né 61′), Tomás Araújo, Adrián Marín, Vitor Carvalho, Giorgi Aburjania (Bueno 74′), Kanya Fujimoto (Bilel 66′), Ali Alipour (Kevin 61′), Juan Manuel Boselli (Hackman 74′), Fran Navarro

Suplentes não utilizados: Brian Araújo, Henrique Gomes e Élder Santana

Treinador: Daniel Sousa

Golos: Galeno (3′) e Taremi (68′)

Ação disciplinar: cartões amarelos Danilo (21′ e 63′), Lucas Cunha (27′), Grujic (41′), Toni Martínez (45′), Aburjania (45+6′), Evanilson (46′), Boselli (47′), Uribe (67′); cartões vermelhos Danilo (63′)

Mais crentes ou menos crentes nas cerimónias religiosas, todas as equipas passam por aquele momento em que a ajuda que precisam vai mais além do talento que apresentam. Independentemente da origem da inspiração – há dias em que essa não pica o ponto-, o FC Porto até cumpriu algo que passou a ser uma tradição tão regular como a missa do galo: marcar cedo no jogo. Na partida anterior, contra o Vizela, os dragões fizeram-no antes de estar concluído o primeiro minuto. Frente ao Gil, a demora não foi muito maior. Três minutos decorridos e já Galeno fazia o primeiro. O brasileiro demorou menos tempo a fazer o gosto ao pé do que o árbitro a resolver o problema do equipamento de comunicação e dar o apito inicial. No entanto, o brilhantismo não abundou.

Um golo cedo parecia o presságio para um duelo entretido. Desengane-se quem ficou com essa ideia. O ritmo foi baixo e o FC Porto consentiu alguma bola ao Gil Vicente. A equipa de Barcelos aproveitou a situação para criar algumas oportunidades. Fujimoto (17′), servido por Boselli, teve a primeira oportunidade. Depois, o galo mais dominante da capoeira gilista, Fran Navarro (31′), esteve cara a cara com Cláudio Ramos, mas permitiu a defesa ao guarda-redes portista.

Sérgio Conceição quis melhorar o rendimento da equipa e mexeu ao intervalo lançando Evanilson para o lugar de Toni Martínez. Não podia ter corrido pior. O ponta de lança brasileiro entrou aos 45′, viu amarelo aos 46′, lesionou-se aos 49′ e saiu aos 55′. Pepê que entrou para o seu lugar aos 56′, saiu aos 79′. Nada batia certo com a realidade.

Mesmo que as coisas não estivessem brilhantes para os azuis e brancos, tão pouco ficaram para o Gil Vicente quando Danilo Veiga viu o segundo amarelo e deixou a equipa com menos um elemento. A situação piorou para os homens treinados por Daniel Sousa quando o FC Porto disse não ao desperdício e alargou a vantagem através de Taremi (68′). A partir daí, o Gil Vicente sofreu bastante, mas não deixou o resultado avolumar-se.

Com o 2-0, o FC Porto conseguiu o acesso à Final Four, ultrapassando os quartos de final — eliminatória que acontece pela primeira vez fruto da alteração no formato da prova e consequente aumento do número de equipas — um Gil Vicente incapaz de vencer no Dragão, algo que, aliás, nunca na história conseguiu fazer. Em janeiro, no Estádio Municipal de Leiria, os dragões vão defrontar o Académico de Viseu nas meias-finais. O treinador do Gil Vicente, Daniel Sousa, soma a primeira derrota desde que assumiu o comando da equipa.