O primeiro-ministro soube esta quarta-feira da existência de um contacto para o Ministério das Infraestruturas feito pela TAP a dar conta da indemnização paga a Alexandra Reis. Mas a primeira reação não passava pela saída do ministro: para António Costa, a saída do secretário de Estado seria suficiente para responder à questão. Pedro Nuno Santos entendeu o contrário e pediu a demissão durante a noite. E o líder do Governo acabou por aceitá-la.

Segundo apurou o Observador junto de várias fontes, o primeiro-ministro, que tem estado de férias, estaria inclinado em permitir a manutenção do ministro. Aliás, se a convicção de Pedro Nuno Santos (contada aqui) foi que não tinha outra saída a não ser abandonar as funções de ministro, a de António Costa não terá sido a mesma.

Desta vez, e ao contrário do que aconteceu na crise sobre o novo aeroporto de Lisboa, as posições inverteram-se: na altura, Pedro Nuno Santos queria ficar e Costa teve de ser convencido a manter o ministro no Executivo; agora, foi o Pedro Nuno a pedir para sair e o primeiro-ministro não teve grande alternativa acabando por aceitar a demissão.

Durante as poucas horas em que o ministro esteve a sedimentar a decisão, houve vários contactos próximos a tentarem demovê-lo da demissão com o argumento do desconhecimento que Pedro Nuno tem garantido ter relativamente aos detalhes do acordo, nomeadamente os valores concretos envolvidos na negociação.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Um dos conselheiros foi o presidente do PS, Carlos César, que também não via necessidade desta resposta mais radical de Pedro Nuno Santos, considerando que o assunto poderia ficar resolvido com a saída de Hugo Mendes. Mas em muito pouco tempo, poucas horas, Pedro Nuno Santos convenceu-se de que não tinha alternativa. O avanço para o anúncio oficial da decisão foi tão repentino que surpreendeu até os socialistas que o aconselharam nesse par de horas.

O peso do desgaste dos últimos meses, atingindo diretamente a sua autoridade política no Governo e no PS — mais uma vez e pouco tempo depois do caso do despacho sobre o novo aeroporto e do negócio com o Estado da empresa do seu pai na qual tem uma participação — acabou por ser insuportável para o ministro.

No Governo, a catadupa de declarações do Presidente da República sobre o caso, mesmo durante os dois dias de festas, é vista como um rastilho para este desenlace. Marcelo Rebelo de Sousa não só falou na véspera de Natal, como também no dia de Natal e nos seguintes, não permitindo que a notícia da indemnização (avançada pelo Correio da Manhã no sábado) pudesse diluir-se nos dias festivos.

E o Presidente foi mesmo em crescendo sobre a necessidade de se apurar quem sabia o quê relativamente ao acordo de saída de Alexandra Reis — que tinha a particularidade (sensível para o Presidente) de ter sido negociada (pela parte da TAP) pelo escritório de advogados do seu irmão Pedro Rebelo de Sousa (do lado de Alexandra Reis, os representantes eram de outro grande escritório, a Morais Leitão).

E esta quarta-feira Marcelo indiciou mesmo, ao início da noite, que poderiam estar na calha mais saídas, para além da de Alaxandra Reis. O Expresso dava conta de Belém ter o assunto em suspenso, escrevendo que o Presidente não excluía, a essa hora, que outros governantes pudessem ficar em causa depois de ouvidos os esclarecimentos de Pedro Nuno Santos e Fernando Medina, os responsáveis dos ministérios diretamente envolvidos neste caso pela partilha da tutela da TAP. Marcelo já poderia saber da saída iminente do secretário de Estado de Pedro Nuno Santos.

À meia noite e doze minutos, poucas horas depois de o primeiro-ministro ter tido conhecimento da existência de informação no Ministério de Pedro Nuno Santos sobre o acordo de saída de Alexandra Reis da TAP, a demissão do secretário de Estado já nem era a notícia. Saiu o ministro, o segundo desde que António Costa tem maioria absoluta e o nono governante a demitir-se neste mesmo período que tem apenas nove meses.

A queda do sucessor. Um email de fevereiro ditou uma saída que o Governo considerou “vital”