O líder parlamentar do Bloco de Esquerda exigiu esta quinta-feira ao primeiro-ministro, António Costa, e ao ministro das Finanças, Fernando Medina, explicações já esta semana sobre as circunstancias em torno das demissões de Alexandra Reis e de Pedro Nuno Santos.
“O que nós exigimos é que o Governo venha já, pela voz do primeiro-ministro, dar resposta a todas estas matérias. Sobre legalidades de pagamentos a Alexandra Reis, sobre o regime de privilégios da TAP, sobre a forma como existe aparentemente a condução de um percurso de alguém que chega a membro do Governo. Ou não sendo descortinada devidamente, isso tem responsabilidades políticas, ou se sendo aceite um percurso que é questionável e moralmente repreensível, isso também tem responsabilidades políticas. Sobre estas matérias o Governo deve explicações ao país”, declarou Pedro Filipe Soares.
Em conferência de imprensa, no Porto, o dirigente e líder parlamentar bloquista defendeu que o primeiro-ministro, António Costa, e o ministro das Finanças, Fernando Medica, não podem dar explicações só quando os trabalhos forem retomados na Assembleia da República. “Estamos a meio desta semana. Não pode esperar até à próxima semana para falar ao país. Isso seria incompreensível”, afirmou.
A demissão de membros do Governo sobre este caso “não encerra o próprio caso” e há esclarecimentos que o próprio Governo ainda deve ao país”, sublinhou Pedro Filipe Soares, acrescentando que o primeiro-ministro António Costa, o ministro das Finanças Fernando Medina devem essas explicações.
“Queremos saber todas as responsabilidades neste contexto. Alexandra Reis tem como percurso pertencer à administração de uma empresa intervencionada pelo Estado, o Estado declarar que ela não tem condições para continuar nessa empresa, sair dessa empresa debaixo de um regime de privilégio inexplicável, ser depois contratada para uma nova administração de uma outra empresa pública e, por fim, por chancela do senhor ministro das Finanças e aceitação do senhor primeiro-ministro, para o Governo. E desse ponto de vista há aqui esclarecimentos que têm de ser dados e não podem alegar que desconheciam quer o currículo, quer o percurso desta governante que foi escolhida por Fernando Medina e aceite por António Costa”
O Bloco de Esquerda acusou ainda o Governo de não ter sabido dar um “rumo para o país, lembrando que em nove meses de executivo socialista já houve pelo menos 10 demissões. “Já são 10 ou 11 as demissões do Governo, já assistimos que o Governo perde mais tempo nas falhas de coordenação internas do que na governação do país, e percebemos que isso tem como resultado não ter sequer um rumo, uma perspetiva estratégica, um horizonte de transformação do país para responder aos problemas das pessoas”.
O deputado bloquista considerou que António Costa deve uma outra governação ao país. “As pessoas enfrentam o empobrecimento generalizado, escolha do Governo, mas nós percebemos agora que não é para todos, há amigos do Governo que têm regimes especiais. Percebemos também que isso não se esgota nos Conselhos de Administração da TAP, que há empresas que têm lucros fabulosos e o Governo não limita preços, apesar de percebermos que há abusos nesses preços, e por isso, o primeiro-ministro tem que dar conta das escolhas que faz”.
Para Pedro Filipe Soares, e olhando para os nove meses de governação, “pouco mais fica do que os casos que foram acontecendo”. “O que há para além disso são escolhas estratégicas muitíssimo ruinosas para as pessoas, que são escolhas de empobrecimento. Ora nem os casos são futuro, nem o empobrecimento é futuro”, resume o deputado.
O ministro das Infraestruturas e da Habitação, Pedro Nuno Santos, demitiu-se na quarta-feira à noite para “assumir a responsabilidade política” do caso da indemnização de 500 mil euros da TAP à ex-secretária de Estado do Tesouro. Esta foi a terceira demissão do Governo em dois dias, depois de Alexandra Reis, da pasta do Tesouro, no centro da polémica com a indemnização, e do secretário de Estado das Infraestruturas, Hugo Santos Mendes, que acompanhou a decisão de Pedro Nuno Santos.
O ministro das Finanças, Fernando Medina, demitiu na terça-feira a secretária de Estado do Tesouro, menos de um mês depois de Alexandra Reis ter tomado posse e após quatro dias de polémica com a indemnização de 500 mil euros da TAP, tutelada por Pedro Nuno Santos. Alexandra Reis recebeu uma indemnização por sair antecipadamente, em fevereiro, de administradora executiva da transportadora aérea. Em junho, foi nomeada pelo Governo para a presidência da Navegação Aérea de Portugal (NAV) e este mês foi escolhida para secretária de Estado do Tesouro.
A decisão de indemnizar Alexandra Reis, noticiada pelo Correio da Manhã, foi criticada por toda a oposição e posta em causa até pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, ao dizer que seria “bonito” prescindir da verba.