Pelé morreu esta quinta-feira, aos 82 anos. A notícia, avançada pelo agente do antigo jogador de futebol, Joe Fraga, à Associated Press, foi confirmada pelo Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, onde o craque estava internado desde 30 de novembro.

Num boletim divulgado durante a tarde, o hospital confirmou “com pesar” a morte de Pelé às 15h27, “em decorrência da falência de múltiplos órgãos, resultado da progressão do câncer de cólon associado à sua condição clínica prévia”. “O Hospital Israelita Albert Einstein se solidariza com a família e todos que sofrem com a perda do nosso querido Rei do Futebol.”

A morte do craque foi também confirmada pela sua conta oficial no Twitter, numa publicação em que se refere que “a inspiração e o amor marcaram a jornada de Rei Pelé, que faleceu no dia de hoje [quinta-feira]. “Amor, amor e amor, para sempre.”

Kelly Nascimento, a filha do antigo futebolista que tinha vindo a partilhar atualizações sobre o seu estado de saúde, publicou uma fotografia das mãos da família colocadas sobre as de Pelé, com a legenda: “Tudo que nos somos é graças a você. Te amamos infinitamente. Descanse em paz”.

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A reação de Kelly Nascimento, filha de Pelé, no Instagram

O clube Santos informou que o velório do ex-jogador será na segunda-feira, na Vila Belmiro, para onde Pelé será transportado na madrugada desse dia. O caixão do desportista será colocado no centro do campo do clube e o estádio aberto ao público a partir das 10h até à mesma hora do dia seguinte. Na terça-feira, o corpo de Pelé será levado em cortejo até ao Memorial Necrópole Ecumênica, o cemitério mais alto do mundo, com passagem pela zona onde a mãe do antigo jogador mora em Santos.

Pelé estava internado desde 30 de novembro no Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, onde deu entrada com um quadro de inchaço por todo o corpo e “insuficiência cardíaca descompensada”. O tratamento de quimioterapia que estava a receber para o cancro no colón, que foi diagnosticado em 2021, não estava a fazer efeito.

Em comunicado, o hospital confirmou na altura que estava a fazer “uma reavaliação do tratamento de quimioterapia ao tumor do colón”, tendo depois passado por uma infeção respiratória e colocado a antibióticos. Perante o quadro clínico agravado, foi transferido para a área de cuidados paliativos.

Filho de um futebolista, o jovem Edson (que foi batizado em homenagem a Edison, o inventor), tinha apenas 17 anos quando saltou para a ribalta. No verão de 1958, na Suécia, por entre golos e fintas memoráveis, ergueu a taça de campeão do Mundo, a sua primeira e a primeira do Brasil, e ergueu-se no imaginário dos adeptos de futebol de todo o mundo.

Filhos de Pelé reunem-se no hospital com lenda do futebol. “Continuamos aqui, a lutar e com fé”

O seu lugar na história ficou guardado depois desse Mundial, mas Pelé fez muito mais. Ao serviço do Santos, clube pelo qual começou a jogar quando tinha 15 anos, levou o seu nome aos quatro cantos do mundo. A sua popularidade era tal que as suas equipas faziam digressões pelo mundo.

Pelo Santos ganhou tudo: seis campeonatos brasileiros, duas Taças dos Libertadores e 2 Intercontinentais (uma delas frente ao Benfica de Eusébio). Bateu todos os recordes, marcou todos os golos que havia para marcar. Ainda hoje o número exato gera polémica: são-lhe reconhecidos entre 1.279 e 1.282 golos, um recorde da Guiness.

Pelé conquistou três Campeonatos do Mundo ao serviço do Brasil. O primeiro foi na Suécia; o segundo, quatro anos depois, no Chile (nesse, ganhou praticamente sem jogar, após se ter lesionado na primeira fase; e terceiro, em 1970, no México. Este foi o primeiro a ser transmitido em direto para o mundo inteiro.

Pelé aos 80 anos, símbolo do passado que soube manter-se presente e tinha planos para o futuro

No final da carreira, já era mais mito que homem, mais um embaixador do futebol do que um mero jogador seu. Foi nessa condição que, já com 35 anos, optou por levar o jogo mais além. Em Nova Iorque, ao serviço do Cosmos, tornou-se uma celebridade (ainda mais) planetária, e desempenhou um papel fundamental para que o futebol plantasse raízes na América do Norte até aos dias de hoje.

Se existe alguma mancha no seu currículo, talvez seja a forma como optou deliberadamente por evitar a política e causas sociais. No auge da carreira, evitou envolver-se com a ditadura militar, que só viria a terminar em 1985. Mais recentemente, durante os protestos no Brasil em 2013, que em parte visavam os gastos públicos com o Mundial de 2014, veio a público pedir para que as demonstrações fossem postas de parte em prol do apoio à seleção brasileira.

No final, Edson Arantes do Nascimento era apenas homem. O Rei era Pelé, aclamado dentro das quatro linhas, no seu tempo e em todos os tempos. Tanto assim foi que, em 2000, a FIFA o reconheceu como o Melhor Jogador do Século XX, prémio que partilhou com Maradona, o outro “monstro sagrado” dos relvados. Edson morreu, mas Pelé é eterno. Longa vida ao Rei.