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É uma tarefa “difícil” e arriscada. Na Ucrânia, o grupo Túlipa Negra chamou a si a missão de procurar e identificar os cadáveres das vítimas dos dez meses de guerra para os devolver às famílias.
Perto da linha da frente, onde o som dos bombardeamentos se faz ouvir ao longe, os voluntários percorrem os campos de batalha no leste da Ucrânia. O grupo, composto por cerca de 100 voluntários, trabalha diariamente com o objetivo de trazer alguma paz de espírito aos ucranianos que perderam os seus familiares.
Apesar dos “horrores” que testemunham durante as missões, estão determinados a devolver cada ucraniano a casa, assume Oleksii Iukov, voluntário e líder do Túlipa Negra. “Estamos no século XXI. Há uma guerra e os cadáveres estão na rua, nos bosques, nos edifícios destruídos. Temos de encontrar todos e o nosso grupo trabalha para ter os melhores resultados“, disse Iukov em entrevista à agência Reuters a partir da localidade de Yampil, na região de Donetsk.
Segundo a BBC, o grupo nasceu na Ucrânia há mais de uma década para encontrar e identificar os corpos de soldados mortos durante a Primeira e a Segunda Guerra Mundial. A 24 de fevereiro, quando as tropas russas invadiram o território ucraniano, o Túlipa Negro uma nova missão.
A tarefa de localizar e exumar os corpos das vítimas de guerra não se faz sem riscos. Além dos perigos decorrentes da proximidade da linha da frente, é frequente encontrar cadáveres com restos de armas explosivas. À Reuters, Iukov recorda que perdeu um olho quando, numa outra missão, exumava os restos mortais de um soldado da Segunda Guerra Mundial.
Além dos perigos, há também a carga psicológica. Apesar das várias missões em que participou, Iukov admite que não é algo a que se tenha habituado. “Quando estás a desenterrar alguém vives o pesadelo e o horror que ele passou nos seus momentos finais, quando percebeu que era o fim e não havia volta a dar”, refere. “É muito, muito difícil porque percebemos que vamos dizer à família que ele morreu, que o encontramos. Isso significa que as esperanças da família de que ele pudesse ter sido feito prisioneiro ou que estivesse escondido desaparecem naquele momento. É horrível”, acrescentou.
Para Artur Simeiko, outro voluntário do grupo, o trabalho que estão a fazer é uma forma de dar aos familiares das vítimas a possibilidade de seguir em frente. “Quando desenterramos os soldados ucranianos estamos a fazer algo bom. Os seus pais esperam por eles em casa”, disse à Reuters. O voluntário considera que as vítimas não devem ficar abandonadas em alguma floresta e devem regressar a casa para ser enterrados com respeito.
Durante as missões, os membros do Túlipa Negra não fazem diferenciação e exumam os cadáveres de soldados ucranianos e russos.
Desde o início da invasão russa, na Ucrânia morreram entre 10.000 e 13.000 soldados ucranianos, segundo uma estimativa divulgada em dezembro por Mykhailo Podolyak, conselheiro do Presidente Volodymyr Zelensky. A Rússia não tem divulgado o número de baixas, mas as autoridades ucranianas estimam que já morreram 110.250 militares russos em dez meses de guerra.
"There are only two cases in which war is just: first, in order to resist the aggression of an enemy, and second, in order to help an ally who has been attacked."
MontesquieuTotal combat losses of the enemy from Feb 24 to Jan 6: pic.twitter.com/nQcbYpRFPC
— Defense of Ukraine (@DefenceU) January 6, 2023