Dezenas de moradores do bairro do Condado, na freguesia de Marvila, realizaram esta tarde uma vigília em protesto contra a degradação das habitações e para exigir uma “resposta urgente” da Câmara Municipal de Lisboa.
A ação de protesto, designada por ‘Vigília de Reis’, teve início às 17h00 e prolongou-se até às 20:00, junto aos edifícios mais degradados do bairro lisboeta, contando com a presença de vereadores do PCP e do BE e da vereadora da Habitação na Câmara Municipal de Lisboa, Filipa Roseta.
Em causa estão problemas estruturais detetados, sobretudo nos lotes 563, 564, 566, 568 e 570 do bairro do Condado, cujas habitações pertencem à Gebalis, empresa que gere os bairros municipais de Lisboa.
Uma das moradoras afetadas é Maria de Tavares, de 85 anos, que mostrou à agência Lusa as marcas que as infiltrações têm provocado nas paredes da sua casa.
A água cai em cima da mesa, na escada, no quarto e na cozinha. Já tive de pintar a casa várias vezes e ninguém ajuda com nada”, queixou-se.
A forte precipitação que se fez sentir nas primeiras semanas de dezembro também provocou estragos na habitação da octogenária, que disse ter vivido um autêntico “pesadelo”. “Nesse dia que choveu o meu filho nem dormiu para apanhar a água que escorria. Teve que ser com panos e com alguidares”, lamentou.
O mesmo cenário repetiu-se na casa da vizinha Etelvina Lucas, moradora no bairro do Condado há 42 anos. “Um dia estava na cama e caiu-me umas pingas na cabeça. Eu pedi a Deus que não me chovesse no quarto. Acordei, era meia noite e tal, cheguei a cama para lá e pus lá um coisinho destes”, contou a moradora, mostrando um pequeno alguidar.
Para dar resposta a estes problemas, Pedro Charters, da Comissão de Moradores de Marvila e um dos organizadores da vigília desta tarde, defendeu a necessidade de uma intervenção urgente por parte da Câmara Municipal de Lisboa.
“São prédios que tiveram pouca ou nenhuma manutenção, alguns nem um pinguinho de tinta desde que foram construídos. Há outros que tiveram manutenção, mas que foi insuficiente”, apontou.
O também morador sublinhou que os “elevados índices de infiltração”, a “frequente queda de betão exterior dos edifícios e avaria dos elevadores” está a “tornar insuportável a vida dos moradores”.
“É urgente tornar público que vivemos em habitações sem a qualidade a que temos direito e, mesmo algumas, com condições habitacionais deploráveis em que nenhum ser humano deve viver”, acrescentou.
Pedro Charters explicou ainda que a situação das infiltrações piorou desde que a Gebalis levou a cabo intervenções no telhado de alguns lotes para retirar o amianto.
Por seu turno, a vereadora da Habitação na Câmara Municipal de Lisboa, que também esteve presente na vigília, assegurou, em declarações à Lusa, que a autarquia está atenta ao problema e que irá intervir.
“Quando tomámos posse, passámos 42 milhões para a Gebalis para reabilitar os bairros. Desses 42 milhões quatro são aqui para o Condado, para obras que vão ser lançadas ainda este ano, em quatro dos lotes mais afetados”, apontou.
Reconhecendo a urgência de intervir no bairro, a autarca social-democrata explicou que o município vai começar as obras pelos lotes que necessitam de uma intervenção “mais urgente”.
“Nós vamos começar pelos mais urgentes. Há outros que não são tão urgentes que não vão ter a prioridade destes mais urgentes. Mas, estas pequenas intervenções, a Gebalis está alerta para melhorar a prestação que foi nos últimos anos”, assegurou.
Entretanto, os moradores do bairro do Condado decidiram que irão participar, “de forma organizada”, na próxima reunião pública da Câmara Municipal de Lisboa, agendada para 25 de janeiro, e realizar uma nova vigília no dia 3 de fevereiro.