Roberto Martínez, o novo selecionador nacional, é o terceiro estrangeiro a orientar Portugal. O espanhol de 49 anos sucede a Otto Glória e Luiz Felipe Scolari, ambos brasileiros, e abre a porta a um novo capítulo na Seleção Nacional.

Logo à partida, pelas diferenças claras que tem com Glória e com Scolari: se o primeiro já tinha treinado Benfica, FC Porto, Sporting e Belenenses antes de chegar à Seleção, o segundo tinha acabado de ser campeão mundial com o Brasil antes de assinar com Portugal. Roberto Martínez, por seu lado, não só nunca treinou no futebol português como não tem grande palmarés, registando somente a Taça de Inglaterra que ganhou com o Wigan.

A carreira no Reino Unido, o sucesso no Wigan, a desilusão na Bélgica. Martínez, o novo selecionador que é padrinho do neto de Cruyff

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A escolha da Federação Portuguesa de Futebol acaba por ser surpreendente quando, desde o primeiro momento após a confirmação da saída de Fernando Santos, os potenciais sucessores eram todos portugueses: entre José Mourinho, Bruno Lage, Paulo Sousa, Abel Ferreira ou Rui Jorge. A debandada de selecionadores no pós-Mundial do Qatar, porém, abriu a porta a uma via alternativa.

Louis van Gaal deixou os Países Baixos, Luis Enrique deixou Espanha, Roberto Martínez deixou a Bélgica. E a escolha da Seleção Nacional recaiu no espanhol que fez carreira em Inglaterra e que era selecionador belga desde 2016, alcançando o 3.º lugar no Mundial da Rússia e a liderança do ranking FIFA durante muito tempo mas falhando na hora de capitalizar aquela que foi e é a melhor geração da história do país.

Roberto Martínez foi apresentado esta segunda-feira como novo selecionador nacional

Otto Glória. Antes da Seleção, correu três clubes de Lisboa e ainda treinou o FC Porto

Nascido no Rio de Janeiro, no Brasil, Otto Glória foi selecionador nacional em dois períodos distintos: de 1964 a 1966, num primeiro momento, e entre 1982 e 1983, numa segunda ocasião. Tanto nos anos 60 como nos anos 80, porém, tinha uma característica que o distinguia de Roberto Martínez — o facto de, anteriormente, ter orientado clubes portugueses.

Como é manifestamente conhecido, Otto Glória chegou a Portugal em 1954 e à boleia do Benfica, tornando-se campeão nacional e conquistando a Taça de Portugal em 1955 e 1957. Mudou-se para o Belenenses dois anos depois, vencendo novamente a Taça de 1960, e chegou ao terceiro clube lisboeta ao aceitar o convite do Sporting em 1961, voltando a sagrar-se campeão no ano seguinte.

Passou pelo Marselha, regressou ao Brasil para orientar o Vasco da Gama e voltou a Portugal para assumir o quarto clube português, o FC Porto— e também o único onde não conquistou qualquer título. Regressou ao Sporting, voltando a ser campeão, e foi por esta altura que recebeu o convite para se tornar o primeiro estrangeiro a orientar a Seleção Nacional.

A “manigância” dos ingleses em 1966

Enquanto selecionador nacional, Otto Glória levou Portugal ao primeiro Campeonato do Mundo da sua história e alcançou aquele que é ainda o melhor resultado português em Mundiais — o 3.º lugar de 1966, em Inglaterra, com os magriços liderados por Eusébio. O treinador brasileiro voltou a deixar a Seleção e o país logo após o Campeonato do Mundo e ainda passou pelo Atl. Madrid antes de regressar ao futebol português à boleia do Benfica.

Na segunda passagem pelos encarnados, entre 1968 e 1970, conquistou mais dois campeonatos nacionais e uma Taça de Portugal. Viajou novamente para o Brasil no início da década de 70, orientando o Grémio, a Portuguesa e o Santos antes de se aventurar pelos mexicanos do Monterrey, e assumiu a seleção da Nigéria antes de terminar a carreira de treinador como selecionador nacional português.

Glória voltou à Seleção Nacional em 1982, tendo como objetivo a qualificação para o Euro 84 e sucedendo a Juca, mas acabou por pedir a demissão na sequência de uma derrota num encontro particular contra o Brasil. Portugal foi ao Campeonato da Europa com Fernando Cabrita no leme e Otto Glória acabaria por morrer pouco depois, em 1986 e com 69 anos.

Luiz Felipe Scolari. Chegou à Seleção como campeão mundial e com duas Libertadores no bolso

Ao contrário de Otto Glória e assim como acontece com Roberto Martínez, Luiz Felipe Scolari nunca tinha treinado em Portugal quando chegou à Seleção Nacional. Ao contrário de Roberto Martínez e assim como acontecia com Otto Glória, porém, Luiz Felipe Scolari tinha um palmarés para apresentar quando chegou à Seleção Nacional.

Contratado em 2003 para suceder a Agostinho Oliveira, que foi selecionador nacional ao longo de uns escassos seis jogos na sequência da saída de Humberto Coelho, o treinador brasileiro tinha acabado de conquistar o Mundial 2002 com o Brasil. Antes, numa carreira que tinha começado nos anos 80, acumulou experiência no futebol brasileiro mas também na Arábia Saudita, no Kuwait e no Japão, somando duas Taças dos Libertadores.

Ou seja, Scolari era um treinador cotado e com provas dadas. Depois de potenciar uma autêntica onda patriótica para recuperar uma proximidade dos portugueses com a Seleção que se tinha perdido com as desilusões do Mundial 2002, levou Portugal à primeira final da sua história no Euro 2004. Perdeu para a Grécia, em pleno Estádio da Luz e graças a um golo de Charisteas, mas ficou naturalmente associado ao momento mais alto do futebol português até ao Euro 2016.

Teve final, teve golo do Gabigol: Flamengo vence Athl. Paranaense e conquista Libertadores pela terceira vez na história

Já depois de receber o grau de Comendador da Ordem do Infante D. Henrique das mãos de Jorge Sampaio, o então Presidente da República, garantiu a qualificação para o Mundial 2006 e voltou a obter um resultado significativo. Portugal chegou às meias-finais, caindo com França e perdendo depois com a Alemanha na decisão do terceiro lugar — ou seja, Luiz Felipe Scolari fez o que só Otto Glória, nos longínquos anos 60, tinha feito.

Os bons resultados do treinador motivaram rumores que o ligavam a um regresso ao Brasil mas Scolari optou por permanecer em Portugal e participar na terceira fase final consecutiva, alcançando a qualificação para o Euro 2008. Na Áustria e na Suíça, porém, o sucesso foi mais moderado: a Seleção Nacional caiu nos quartos de final com a Alemanha, numa altura em que a competição ainda não tinha oitavos, e o treinador brasileiro acabou por deixar o cargo na sequência da eliminação.