E chegou a terceira entrevista: depois da conversa com Tom Bradby, na estação britânica iVT, e com Anderson Cooper, no “60 Minutos”, da americana NBC, o príncipe Harry foi ao programa “The Late Show” e sentou-se no sofá de Stephen Colbert para falar, não só sobre “Na Sombra“, livro autobiográfico que chegou às livrarias na terça-feira, 10 de janeiro, como também sobre o impacto de todas as fugas de informação na imprensa que antecederam esse momento.

Mais uma vez, a conversa focou-se na mãe do duque de Sussex, Diana, na passagem pelo Afeganistão e, claro, no assédio e perseguição levados a cabo pela imprensa britânica. Apesar dos temas sérios, foi notória a diferença no tom da conversa, aqui mais leve e com maior recurso ao humor, considerando a natureza do talk show de Colbert.

“Fui ao Polo Norte e congelei o meu Polo Sul”. 65 memórias de Harry que ficámos a conhecer (e que podiam ter ficado “Na Sombra”)

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Tanto assim é que, assim que se sentou, o duque de Sussex brincou com o facto de ter uma cadeira vazia ao lado da sua, perguntando se se tratava do suplente (o “spare”), numa alusão ao título original do livro — sem esquecer que foi discutido o facto de ter ido ao “Polo Norte e queimado o seu Polo Sul”, agora numa referência ao facto de ter queimado o seu pénis, um dos muitos aspetos revelados no livro.

Num desabafo mais sérios, explicou que escrever a autobiografia foi uma “experiência catártica”, voltando a referir que este é o seu “lado da história”, acrescentando ainda que há muitas coisas no livro que “provavelmente fazem muita gente sentir-se desconfortável e amedrontada”.

Harry diz que não se gabou sobre mortes no Afeganistão: “As minhas palavras não são perigosas, mas a deturpação das minhas palavras é perigosa”

O príncipe confessou que os últimos dias foram “dolorosos e desafiantes” por “não poder fazer nada em relação às fugas” de conteúdos do seu livro. Mas afirmou que “sem dúvida”, a “mentira que foi dita” foi sobre o facto de alegadamente se ter gabado sobre o número do número de pessoas que matou no Afeganistão. O príncipe disse que se visse alguém gabar-se de algo semelhante ficaria zangado, que a informação que foi partilhada é uma mentira e que, agora que o livro está disponível, as pessoas podem saber o contexto. “As minhas palavras não são perigosas, mas a deturpação das minhas palavras é perigosa.”

Harry confessou também estar numa “dieta digital”: preocupa-se com o que põe na boca e com o que põe em frente aos olhos, e, como resultado, a sua vida está “muito melhor”. Nesse momento, arrancou um aplauso ao público.

Quando questionado sobre o mediatismo em torno da monarquia britânica, Harry explicou que durante 12 meses, no período de confinamento, ele e Meghan estiveram longe dos holofotes e que, mesmo assim, o interesse na sua família não parou. Isso foi um “abre-olhos” para o príncipe, que achava que, ao deixar o seu país, iria conseguir “alguma paz”. “Mas eu percebi que a nossa mera existência fora daquele controlo institucional era mais ameaçador e é semelhante ao que aconteceu à minha mãe.”

A propósito da alegada agressão física de William a Harry — narrada no livro, mas divulgado antes, configurando uma das fugas de informação —, Colbert pergunta ao príncipe como é que a então princesa de Gales iria intervir. “Não teríamos chegado a este momento”, disse o Duque de Sussex. “É impossível sabermos onde é que estaríamos agora, onde estariam estes relacionamentos agora, mas não há como a distância entre meu irmão e eu ser a mesma”, disse, acrescentando que se sente mais próximo da mãe agora, do que nos últimos 30 anos.

A passadeira vermelha e as trombetas para Tom Hanks e não para Harry

Tom Hanks também foi convidado de Stephen Colbert no programa desta terça-feira e participou num pequeno vídeo a brincar com o convidado real. Num curto segmento, com apenas cerca de 30 segundos, é possível uma zona nos bastidores do estúdio, na qual foi estendida uma passadeira vermelha e onde o apresentador e dois homens com trombetas aguardavam a chegada de um convidado. O primeiro a chegar foi Harry pensando que a receção seria para si — mas afinal era para Tom Hanks, que apareceu depois.

O livro Na Sombra (Spare) foi lançado esta terça-feira e a editora, a Penguin Random House, afirmou terem sido vendidas 400 mil cópias, distribuídos entre livros de capa dura, audio-livros e e-books, no Reino Unido só no primeiro dia. Dois dias antes da obra chegar às livrarias, o príncipe deu duas entrevistas, uma ao canal britânico iTV e outra para o programa “60 Minutes” na norte-americana CBS. Este último terá atingido a sua melhor audiência da época com 11.2 milhões de telespetadores.