A startup portuguesa Rows, que trabalha no mercado das folhas de cálculo (spreadsheets), tem agora integração com o modelo de linguagem desenvolvido pelo OpenAI, a companhia que desenvolveu o ChatGPT.

A empresa destaca que é a “primeira” do mercado das folhas de cálculo a trabalhar nesta integração, que vai recorrer ao modelo GPT-3 da OpenAI, capaz de responder a pedidos escritos. “Através da OpenAI permitimos a qualquer pessoa fazer o tratamento de dados”, explica Humberto Ayres Pereira, CEO e fundador da Rows ao Observador.

“A nova geração de modelos de inteligência artificial começa a ter aplicações reais na economia e impacto nas nossas vidas”, contextualiza este responsável. “A nova integração entre a Rows e a OpenAI permite, por exemplo, a qualquer pessoa automatizar tarefas do seu dia-a-dia de trabalho de forma simples na folha de cálculo, sem necessitar de programar ou de qualquer formação técnica.” E dá vários exemplos: torna-se possível fazer análise de sentimento de publicações nas redes sociais, traduzir o que está em células ou fazer sumarização de células que tenham muito texto.

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Como é que vai funcionar concretamente esta integração? O utilizador precisa de ter uma conta nos serviços da OpenAI e, abrindo a interface da Rows, ativar a integração. Quando isso estiver feito há que recorrer a uma função específica para começar a trabalhar com o modelo de inteligência artificial desenvolvido pela empresa norte-americana: “ASK_OPENAI”, em português pergunte à OpenAI.

Humberto Ayres Pereira antecipa que esta integração permitirá ao universo de 40 mil utilizadores das folhas de cálculo da Rows agilizar trabalho. E a startup não pretende ficar por aqui nesta integração. “Ainda vamos lançar mais coisas”, promete o CEO e fundador da Rows. A empresa quer “fazer uma integração mais profunda” da tecnologia da OpenAI na interface das suas folhas de cálculo no futuro, incluindo ter a IA a “gerar fórmulas por nós” ou “atingir o Santo Graal de ter uma spreadsheet a analisar o que está em toda a tabela ou a dizer o que está a acontecer às vendas” — se estão a subir ou a descer e com uma justificação a acompanhar.

Na última semana têm sido sucessivas as notícias ligadas à OpenAI e à Microsoft, que é uma das principais investidoras da empresa de inteligência artificial. A dona do Windows já investiu mil milhões de euros na OpenAI e meios como o The Information relataram que poderá estar a ser estudada a integração do modelo no Bing e também no Word e Excel. A Rows compete com a Microsoft e com a Google neste mercado das folhas de cálculo.

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Em relação às notícias ligadas ao Excel, um concorrente da Rows, Humberto Ayres Pereira diz não estar preocupado. “Vamos ser sempre uma empresa mais pequena e mais ágil”, explica sobre a comparação com gigantes como a Microsoft. “Fomos os primeiros a lançar isto de forma nativa e a lançámos isto de forma profissional, com uma interface conversacional onde se consegue interagir com vários tipos de funcionalidades. Estamos bastante convictos daquilo que estamos a fazer.”

Assim que o modelo mais recente da OpenAI começou a ganhar alguma popularidade, o CEO da empresa, Sam Altman, deixou avisos sobre as fragilidades e limitações do modelo de linguagem da empresa. Humberto Ayres Pereira divide as tais fragilidades em duas partes: um lado técnico e outro social. No primeiro, reconhece algumas limitações no modelo, por exemplo nas operações matemáticas. “Pedir para somar uma lista de números, às vezes erra, apesar de saber o que é uma soma e o que são números”, mas o CEO da Rows acredita que essas capacidades vão ser melhoradas. Na questão social, incluindo na possibilidade de a inteligência artificial reproduzir estereótipos e preconceitos, acredita que não será uma preocupação para a Rows. “Ninguém vai para uma spreadsheet fazer perguntas sobre o sentido da vida. Não somos um sítio onde as pessoas possam confundir-se com perguntas e respostas”, defende.

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O líder da Rows reconhece que o panorama de empreendedorismo está a revelar-se “muito sensível” para as startups, algo que já se vive desde o ano passado. “Já nos adaptámos a este problema”, partilha Humberto Ayres Pereira, acrescentando que a empresa conseguiu uma “mini-ronda de investimento” no ano passado, que deu margem de manobra à empresa. O valor da “mini-ronda” não foi divulgado, mas o CEO refere que ajudou a empresa a atingir um total de “27 milhões de dólares” levantados em rondas de investimento.

O responsável garante que a empresa tem tido “muito interesse por parte de investidores” e que em 2023 é preciso “continuar a crescer e a levantar uma ronda nova”. “O ano não vai ser fácil”, admite, “mas felizmente começámos muito bem com o lançamento da integração com a OpenAI.”

“Vai ser um ano difícil para toda a gente e os investidores estão retraídos”, admite o fundador da Rows. No entanto, acredita que poderá trazer uma oportunidade à empresa, especialmente se se mantiver o pensamento de “fazer mais com menos”. Humberto Ayres Pereira acredita que, entre ter um “software altamente especializado de recursos humanos” que custa várias dezenas de euros por utilizador ou “ter uma solução mais barata”, muitas empresas poderão optar pela segunda opção. “Somos um software genérico de fácil utilização. A questão em 2023 é fazer mais com menos, que é o tópico que está em cima da mesa de muitas empresas.”

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(Artigo corrigido às 10h29 com divisa do montante de investimento arrecadado)