Quando se passa por uma moeda caída no chão e se repara que o tamanho não é digno do esforço que seria despendido no movimento de a apanhar, a ignorância prevalece perante a falta que aqueles cinco cêntimos adicionariam à carteira onde seriam colocados, deixando passar em claro que anteriormente pertenciam a alguém.

No dia seguinte, perante a mesma situação, adota-se igual atitude. Na próxima semana, o mesmo. No mês que vem, novamente a mesma inação. Certo dia, chega-se à garrafeira e faltam trocos para completar o pagamento do champanhe que se contava usar nos festejos e pensa-se no jeito que teria dado desenferrujar o corpo de preguiça e fletir as costas para apanhar as moedas que, em acumulado, teriam mais valor do que a sua individualidade poderia fazer parecer.

Numa competição de regularidade, os pontos que definem a classificação final também se amealham pelo caminho e nem aqueles que aparentemente possam parecer mais fáceis se podem desperdiçar. O mesmo é dizer que o Benfica, do pedestal da liderança e da época consistente que está a realizar, não se pode dar ao luxo de deixar para trás o que no fim lhe pode valer o título. Na viagem à Capital do Móvel, em encontro antecipado da jornada 20, os encarnados defrontavam o último classificado da Primeira Liga, o Paços de Ferreira, e, mesmo perante a hipotética facilidade de uma vitória no confronto, havia esforços a fazer para sair com a vitória.

Como tudo o que é feito antes da hora é propício a um planeamento ajustado para fazer face a uma adversidade, o Benfica trouxe uma estratégia eficaz. O treinador encarnado, Roger Schmidt, deu a titularidade a Gonçalo Guedes em detrimento de Draxler. Otamendi, regressado após castigo, também rendeu Morato no centro da defesa. O treinador do Paços de Ferreira, César Peixoto, respondeu com a inclusão de Nigel Thomas no lugar de Uilton, extremo que tinha sido titular na partida anterior frente ao Sp. Braga e onde os pacenses venderam cara a derrota.

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Ficha de Jogo

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Paços de Ferreira-Benfica, 0-2

20.ª jornada da Primeira Liga

Estádio Capital do Móvel, em Paços de Ferreira

Árbitro: Luís Godinho (AF Évora)

Paços de Ferreira: Marafona, Juan Delgado, Nuno Lima, (Luís Bastos 83′), Antunes (Fábio Gomes 83′), Holsgrove, Luiz Carlos (Matchoi 70′), Rui Pires, Nico Gaitán (Uilton 70′), Nigel Thomas e Alexandre Guedes (Adrián Butzke 70′)

Suplentes não utilizados: Vekic, Jorge Silva, Pedro Ganchas e Bastien Toma

Treinador: César Peixoto

Benfica: Odysseas Vlachodimos, Alexander Bah, António Silva, Otamendi, Álex Grimaldo, Florentino (Chiquinho 74′), Enzo Fernández, João Mário (Neres 89′), Frederik Aursnes, Gonçalo Guedes (Draxler 74′) e Gonçalo Ramos (Musa 58′)

Suplentes não utilizados: Samuel Soares, Gilberto, Lucas Veríssimo, João Neves e Morato

Treinador: Roger Schmidt

Golos: Grimaldo (7′) e João Mário (11′)

Ação disciplinar: cartões amarelos a Gonçalo Guedes (37′) e Florentino (71′)

Só que há coisas perante as quais há muito pouco a fazer para as contrariar. Uma delas são os livres diretos de Grimaldo. Quando o lateral espanhol tem a bola parada em frente à baliza, para os adversários, é como se já estivesse lá dentro. Não estando, fica a um efeito de sobe e desce de estar. O método é sempre o mesmo, a solução para o travar, ainda ninguém a encontrou. O guarda-redes do Paços de Ferreira, Marafona, terá tido tempo de pensar numa forma de conter a ameaça no caminho para ir buscar a bola dentro da rede (7′). Fica para a próxima.

Estrategicamente, os pacenses, a defender, utilizaram os extremos para tentar obrigar o Benfica a recorrer a bolas de risco colocadas no corredor central no decurso da primeira fase de construção dos encarnados. Aí, Holsgrove, Luiz Carlos e Rui Pires, o trio de médios do 4x3x3 dos castores preparavam-se para o momento de recuperação da posse. A estratégia pacense não correspondeu ao esperado, porque a equipa da Luz, em 4x2x3x1, conseguiu mesmo assim ir buscar o espaço exterior. Gonçalo Guedes recebeu sobre a esquerda e conduziu para dentro, conseguiu descobrir Aursnes que fugiu à linha defensiva e rematou para defesa incompleta do guarda-redes Marafona. João Mário (11′) aproveitou as sobras e fez o segundo.

O Benfica adormeceu o jogo com bola para causar pesadelos aos castores sempre que descobria um pequeno espaço entre linhas e acelerava o ritmo. Ainda assim, o Paços conseguiu sair para o ataque e rematar ao poste por intermédio de Nigel Thomas (40′). A verdade é que a equipa da Capital do Móvel funcionou que nem um íman tal a atração pelos ferros. Nigel Thomas haveria de acertar de novo no poste (73′). Em noite de estreia, Fábio Gomes (90′) terminou a partida com uma ameaça de igual tipo.

Mesmo com o golo próximo de acontecer para o lado do Paços de Ferreira, que permanece no último lugar, o Benfica não se desleixou ao ponto de escorregar e cimentou a liderança com mais três pontos. Terça-feira, os encarnados fazem o terceiro jogo fora consecutivo. Em sentido contrário, o Paços de Ferreira, no mesmo dia, atua pela terceira vez seguida em casa, diante do Gil Vicente.