O centro de Rangun, em Myanmar (antiga Birmânia), esteve praticamente vazio esta quarta-feira de manhã, observaram jornalistas da agência de notícias France-Presse (AFP), numa greve silenciosa convocada para o 2.º aniversário do golpe militar.

“Com vozes sonoras em silêncio, agitámos repetidamente o ditador”, afirmou, em comunicado, o Organismo de Coordenação da Greve Geral (GSCB), que junta vários grupos pró-democracia birmaneses, incluindo o poderoso movimento de desobediência, criado depois do golpe.

A organização pediu à população para não sair de casa durante o dia, quando se assinala o 2.º aniversário do golpe militar, entre as 10h e as 15h (03h30 e 08h30 em Lisboa), de forma a esvaziar as ruas do país.

As estradas que levam ao famoso Pagode Shwedagon, santuário budista que domina o horizonte e geralmente está cheio, estavam praticamente desertas, de acordo com a AFP.

A maioria dos autocarros, em outras zonas da cidade, estavam vazios e a segurança muito presente, acrescentou. Mandalay, uma das principais cidades do país, também esteve calma, disse um morador à agência.

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A greve silenciosa já tinha sido a forma de protesto escolhida no primeiro aniversário do golpe militar, apesar de as autoridades terem ameaçado deter quem participasse no movimento.

A censura noticiosa e as precárias ligações à internet, desde o golpe, dificultam o acompanhamento da greve.

Entretanto, o governo paralelo da Birmânia, formado por deputados depostos e ativistas que se opõem aos militares que lideram o país, afirmou na terça-feira que não vai renunciar ao compromisso de alcançar liberdade e paz em Myanmar.

“O nosso desejo de paz e liberdade excede em muito a ganância tirânica dos generais brutos. Nunca abriremos mão do nosso direito a essa liberdade e paz”, sublinhou Sasa, porta-voz do Governo de Unidade Nacional, que se autoproclama a autoridade legítima do país.

O líder da junta, general Ming Aung Hlaing, deverá falar ao país, estando as atenções voltadas para a possível convocação de eleições para agosto, numa tentativa de legitimar o regime militar.

Um golpe militar em fevereiro de 2021 removeu a conselheira de Estado Aung San Suu Kyi, que foi detida, bem como os principais membros do seu partido, Liga Nacional pela Democracia, vencedor por esmagadora maioria nas eleições gerais de novembro de 2020.

Myanmar: Dirigente deposta Aung San Suu Kyi condenada a mais sete anos de prisão

A repressão militar desencadeou a resistência armada em grande parte do país, mergulhando Myanmar numa guerra civil prolongada.

De acordo com a organização independente Associação de Assistência para os Presos Políticos, um grupo de vigilância que monitoriza assassínios e prisões em Myanmar, 2.940 civis foram mortos e 17.572 foram presos pelas autoridades, desde o golpe militar.