Um caminho começado em Meca nem sempre tem que acabar em Medina se no local de partida estiver Cristiano Ronaldo que reúne, à sua maneira, uma considerável falange de fiéis aos quais satisfaz as exigências com a distribuição de mandamentos em forma de golos. Na histórica cidade da Arábia Saudida, o Al Nassr visitou o Estádio King Abdul Aziz, casa do Al-Wehda. O internacional português marcou quatro golos, somando o nono poker da carreira e o 11.º jogo em que marca mais do que três golos. 

Na ausência de Talisca, o melhor marcador da Liga Saudita, Ronaldo foi o antídoto do Al Nassr para tentar não perder mais terreno no campeonato, dado que, no encontro anterior, contra o Al Fateh, o empate não satisfez as aspirações. O internacional português realizava o quarto jogo no na equipa de Riade e já é certo que a chegada de Cristiano Ronaldo ao Al Nassr não facilitou a vida aos jogadores à sua volta (então a dos adversários…). Luiz Gustavo, colega do internacional português disse à RT Arabic que “a presença de Cristiano Ronaldo torna as coisas mais difíceis”, pois “todas as equipas querem jogar o melhor possível contra ele”. Ainda assim, confessa o companheiro do português, “dá uma grande vantagem ao grupo, porque aprendemos muito todos os dias com ele”.

Também Aboubakar, que deixou o Al Nassr no mercado de inverno, comentou a ida do português para o clube saudita. “Com a contratação do Cristiano, deixei claro ao treinador que queria sair. Com Ronaldo um jogador estrangeiro teria de ser libertado. O Ronaldo pediu-me para ficar e o clube queria-me até ao final da época”, revelou o internacional camaronês ao Canal+.

Os impactos de Cristiano Ronaldo no futebol saudita são, como se percebe, reais. Não só a nível desportivo, mas também social. As mulheres na bancada, uma realidade recente na Arábia Saudita, ainda que vestidas com niqabs negros que só deixam ver os olhos, colocaram aos ombros as cores do Al Nassr, em forma de cachecol, tal o frenesim em torno do fenómeno que é o cinco vezes Bola de Ouro. Ao nível dos golos, então, já prova que está a emprestar ao Médio Oriente uma capacidade inigualável.

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No entanto, foi outro jogador a evidenciar-se no início do jogo. Em português, Gerson Rodrigues (18′) terá gritado “quase”. O internacional pelo Luxemburgo nascido em Portugal, adversário de Ronaldo, rodou sobre o central do Al Nassr, Abdullah Madu, e rematou ao poste.

Cristiano Ronaldo (21′) respondeu na língua que melhor domina: a do golo. Solicitou um passe em apoio frontal, como, aliás, fez várias vezes ao longo do jogo, convidou o oponente a roubar-lhe a bola e quando o adversário direto acreditou que conseguia o desarme, entregou-a a um companheiro. O capitão da seleção nacional avançou e recebeu a assistência do colega. Usou três toques para no último, atirar de pé esquerdo para o fundo da baliza.

Fazendo lembrar os tempos de velocista, Cristiano Ronaldo (40′ e 61′) esgueirou-se para se isolar e marcar por duas vezes na cara do guarda-redes do Al-Wehda, Atiah. Pelo meio, o avançado de 38 anos assumiu uma grande penalidade (53′) que converteu com sucesso. Antes de se confirmar o 4-0, o Al-Wehda, Fahad Aljayzani (72′), acertou na trava, confirmando a boa relação que o 13.º classificado da Liga Saudita tem com os ferros.

Ronaldo ainda teve oportunidade de chegar ao quinto golo perante um estádio bem composto para o ver, pelo que se pode dizer que foi um poker em full house. O Al Nassr regressou à liderança da Liga Saudita que partilha com o Al-Shabab que tem mais um jogo.