Mais de 59 mil pessoas recorreram a uma primeira consulta no Instituto Português de Oncologia (IPO) de Lisboa em 2022, mais 13% relativamente a 2019, ano antes da pandemia, aumentos também registados na consulta externa e cirurgia.
Os dados foram divulgados pela presidente do IPO de Lisboa, Eva Falcão, em entrevista à agência Lusa, a propósito dos seis meses de mandato, em que disse querer criar condições humanas e materiais para desempenharem “mais e melhor” a missão da instituição e com isso “poder reduzir alguns estrangulamentos de acesso ao hospital que as pessoas poderão sentir”.
Segundo os dados provisórios, foram realizadas no ano passado 59.384 primeiras consultas, mais 6.850 face a 2019 (+13,04%), e 309.376 consultas externas, mais 33.894 (+12,3%).
Em relação às intervenções cirúrgicas, Eva Falcão disse que houve um aumento de 11,4% face 2019, ano em que foram realizadas 6.678 cirurgias, número que subiu para 7.436 em 2022.
“A atividade cirúrgica cresceu com bastante expressão no hospital neste ano de 2022”, disse, salientando que, com o recrutamento de 129 enfermeiros desde o verão, houve a possibilidade de ter em funcionamento sete das nove salas do bloco operatório, quando anteriormente só estavam a funcionar quatro.
No final de 2019, existiam 1.905 doentes em Lista de Espera para Cirurgia, número que baixou para 1.647 no ano passado (-15,7%), sendo a mediana de espera atualmente de 1,51 meses (1,91 em 2019).
O número de utentes que aguardavam cirurgia há mais de um ano também caiu de 169 em 2019 para 81 no ano passado.
Já no que respeita os utentes operados dentro dos Tempos Máximos de Resposta Garantidos (TMRG), no ano antes da pandemia foram operados 4.279 utentes (61,2% do total) e em 2022 4.449 (60,6%).
O crescimento na área da consulta e da cirurgia obriga ao crescimento nas restantes áreas, tais como os tratamentos de quimioterapia e radioterapia.
Os dados indicam que foram realizadas, em 2022, 41.194 sessões de quimioterapia, mais 6.051 comparativamente a 2019, e menos 9.186 tratamentos de radioterapia, que totalizara 71.814.
Para esta quebra de tratamentos de radioterapia contribuiu a falta de radioncologistas, bem como serem tratamentos mais demorados e mais complexos, explicou.
A radioterapia é “um exemplo paradigmático” da saída de profissionais: “sentimos que as pessoas abraçaram projetos de trabalho no setor privado”.
Além da radioterapia, a saída de médicos também se tem sentido noutras “áreas pontuais”, mas em relação aos enfermeiros há “um movimento algo inverso”.
“Se é verdade que o hospital estava muito deficitário em termos de pessoal de enfermagem, quando cá chegámos, notamos agora que os enfermeiros têm saído de outras instituições, muitas delas privadas para regressar, nalguns casos, ou para vir abraçar este desafio do IPO”, salientou Eva Falcão, que já exerceu funções como administradora hospitalar nos hospitais Santa Maria, Pulido Valente e Garcia de Orta e foi chefe de gabinete da ex-ministra Marta Temido.
Na entrevista, destacou ainda as atividades de investigação realizadas no IPO, em 2022, nomeadamente 267 estudos observacionais e 57 ensaios clínicos, a publicação de 225 artigos, três livros ou capítulos de livros.
Anunciou ainda a retoma, após dois anos de suspensão, de uma linha de financiamento no valor de 180 mil euros para projetos de investigação.
“Os profissionais também se orgulham muito da investigação clínica que desenvolvem e é uma área que pretendemos acarinhar e, obviamente, criar o máximo possível de condições para desenvolver”, salientou.
As comemorações dos 100 anos do IPO este ano também foram realçadas por Eva Falcão, revelando que o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, fará parte da Comissão de Honra das comemorações do centenário.