A fintech Revolut vai passar “nos próximos meses” a ter uma sucursal em Portugal, passando os clientes nacionais do Revolut Bank (cujas contas neste momento estão sediadas na Lituânia) para Portugal e atribuindo-lhes um IBAN português. A informação foi avançada ao Observador pelo responsável da Revolut para a expansão nos mercados do sul da Europa, Ignacio Zunzunegui, que também revelou que a SIBS está, por fim, a mostrar maior abertura para vir a aceitar a utilização de cartões Revolut na rede Multibanco.
A Revolut já tem uma licença bancária na zona euro, que lhe permite, por exemplo, dar aos clientes garantia de depósitos – essa garantia de depósitos diz respeito, porém, ao fundo de garantia lituano porque é nesse país que estão sediadas as contas. Desde dezembro de 2021 que os clientes portugueses podem ter conta no Revolut Bank (lituano) e todos acabaram por ser convertidos para esse banco no verão passado.
Mesmo após a passagem dos clientes para a nova sucursal portuguesa, o fundo de garantia de depósitos continuará a ser o lituano – (até 100 mil euros por titular e por conta), porém a atividade bancária irá passar a ser diretamente supervisionada pelo Banco de Portugal. Além disso, os clientes vão receber um IBAN português (que começa por PT e não LT, como atualmente).
Em entrevista ao Observador, Ignacio Zunzunegui diz que o IBAN português “é importante porque sabemos que, apesar de estarmos na zona euro, existe alguma discriminação de IBAN em situações como receber o salário naquela conta, pagar despesas, pagar impostos etc.“. Por isso, “queremos ultrapassar essa barreira e permitir que os nossos clientes usem mais a sua conta Revolut por terem um IBAN português”.
“2023 é o ano em que queremos tornar-nos a principal conta dos portugueses”
Ignacio Zunzunegui diz que a Revolut está “a trabalhar com os reguladores locais para lançar o IBAN português e a expectativa é que será possível comunicar isso muito em breve”. A fintech indicou em novembro que tinha ultrapassado um milhão de clientes em Portugal, mas não partilha publicamente informação muito mais detalhada sobre o grau de utilização que é feita por parte dos clientes. Zunzunegui diz ao Observador, porém, que aumentou em 75% o número de transações feitas por clientes portugueses, no ano passado, e dessas cerca de 90% são transações feitas dentro do país.
“Há uma grande oportunidade em Portugal: 2023 é o ano em que queremos tornar-nos a principal conta para a utilização diária dos portugueses e de quem vive cá”, afirma o responsável da app financeira que começou por ganhar popularidade por oferecer transferências e levantamentos internacionais a custos mais baixos. Ignacio Zunzunegui acrescenta que em 2022 os downloads da app financeira aumentaram cerca de 150%.
É importante para nós, enquanto negócio. Em qualquer mercado onde estamos, temos sempre o objetivo de ser uma das 3 principais entidades bancárias e, para isso, precisamos dos produtos globais mas também precisamos de estar presentes nas soluções locais”, diz o responsável, reconhecendo que a impossibilidade de usar o cartão Revolut nos terminais de pagamento (exclusivamente) Multibanco é um entrave.
Desde que se passou essa marca do milhão de clientes, a empresa diz estar a notar uma maior abertura por parte da SIBS, que controla a rede Multibanco. “Chegámos a uma fase em que estamos, finalmente, a ver da parte deles [da SIBS] de bons sinais de que podem estar abertos a aceitar a Revolut na rede Multibanco“, afirma Ignacio Zunzunegui, lembrando que “seria positivo para os clientes de ambas as empresas”. “Estamos a fazer tudo para conseguir que isso seja uma realidade o mais rapidamente possível”, acrescenta.
Desde pelo menos 2018 que a Revolut está a tentar um acordo com a SIBS para que os seus cartões sejam aceites também na rede Multibanco. No final de 2019, o próprio presidente e fundador da Revolut, Nikolay Storonsky mostrava-se confiante de que a Revolut iria “encontrar uma maneira” de obter esse acordo com a SIBS. Mais de três anos depois, porém, nada aconteceu.
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Revolut vai lançar fundos de mercado monetário com juros até 4%
Entre os novos produtos que vão ser lançados nos próximos tempos está uma solução de poupança/investimento com fundos de mercado monetário, que são produtos com baixo risco de capital – embora não de capital garantido – porque investem em títulos (obrigações) denominados em dólares, euros e libras esterlinas. São produtos que podem dar rendibilidades até 4%, diz Ignacio Zunzunegui, antecipando também para “os próximos meses” esse lançamento.
Sobre depósitos a prazo, eles não são a prioridade da Revolut, que considera que “neste momento há melhores oportunidades noutras áreas – como os fundos de mercado monetário – mas no horizonte poderá haver também soluções de depósitos a prazo”.
Na área do crédito ao consumo, foram lançados em Espanha empréstimos pessoais de 1.000 até 30.000 euros. “A ideia é lançar isto noutros países, não sabemos ainda quando [será lançado em Portugal] mas está no horizonte porque sabemos que é importante para sermos a principal conta dos portugueses para o dia-a-dia”, afirma Ignacio Zunzunegui. Já o crédito à habitação não está nos planos no curto/médio prazo, embora o presidente da Revolut, Nik Storonsky tenha dito na Web Summit que isso provavelmente será um pilar importante do futuro da fintech.