A violência psicológica e de controlo são os comportamentos mais reportados por adolescentes e jovens num estudo nacional sobre violência no namoro realizado pela União das Mulheres Alternativa e Resposta (UMAR), esta terça-feira apresentado no Porto.
De uma amostra total de 5.916 jovens, com idade média de 15 anos, a frequentar do 7.º ao 12.º ano, no continente e ilhas, que responderam a 15 questões, agrupadas em seis categorias de forma de violência controlo, violência psicológica, perseguição, violência através das redes sociais, violência sexual, violência física 65,2% (3.943) indicaram já ter sofrido pelo menos um destes indicadores de vitimação.
Em conferência de imprensa, as responsáveis pelo trabalho, Maria José Magalhães, Margarida Pacheco e Cátia Pontedeira, referiram que 41,5% (1.777) dos jovens admitiu ter vivenciado violência psicológica 48,5% (1.070) das raparigas, 39,8% (660) dos rapazes e 70,7% (41) dos que têm outras identidades de género.
No que se refere ao indicador “controlo”, 44,6% (1.760) dos adolescentes e jovens inquiridos 46,4% (1.024 raparigas), 41,3 (685) rapazes e 74,1% (43) de jovens que se identificam com outras identidades disseram ter vivenciado esta situação, apontando em maior número a proibição de estar ou falar com amigos ou colegas.
Do total de jovens que indicou ter tido ou ter uma relação de namoro, 23,3% disseram ter sido vítimas de perseguição, 21,2% de violência através das redes sociais, 14,9% de violência sexual e 12,2% de violência física.
Com exceção da violência física (12% das raparigas e 12% dos rapazes), de acordo com as conclusões do estudo, nota-se maiores percentagens nos indicadores de vitimação entre jovens raparigas, quando comparados com os rapazes.
As pessoas que se identificam com outras identidades reportaram em geral percentagens mais elevadas no que respeita aos indicadores de vitimação, o que, segundo as autoras, “leva a uma importante reflexão sobre as experiências de violência vividas por grupos sociais com características identitárias não normativas”.
No que refere à legitimação da violência no namoro 67,5% dos jovens não percecionam como violência no namoro pelo menos um dos quinze comportamentos questionados.
O sexo masculino apresenta maiores níveis de legitimação para todas as formas de violência no namoro, comparado ao género feminino.
Destacam-se os comportamentos que são agrupados em violência psicológica, em particular o de “insultar durante uma discussão/zanga”: um total de 21,7% (692) das raparigas e 41,3% (1075) dos rapazes não reconhece este comportamento como violento.
No mesmo sentido, existe também diferença de género na legitimação da violência sexual.
Do total de raparigas, 21,4% (680) legitimam o “pressionar para beijar à frente dos amigos”, já no grupo dos rapazes esta percentagem ascende a 40,9% (1063).
Para a coordenadora do estudo, Maria José Magalhães, o predomínio de algumas das formas de violência estudadas, bem como o reconhecimento destas enquanto indicadores de formas de violência no namoro e na intimidade “são preocupantes”.
A responsável considerou que ainda há um “longo percurso a fazer” para a prevenção destes comportamentos ao longo da vida.
Para tal, defendeu que “é importante complementar este estudo quantitativo com outros qualitativos” para melhor se compreender as dinâmicas de violência nas relações nestas idades.
Os resultados do estudo apontam ainda para a importância da prevenção primária da violência de género em contexto escolar e de esta ser desenvolvida de uma forma “holística, sistemática e continuada”, de modo a consciencializar crianças e jovens para a desconstrução destes comportamentos e para o desenvolvimento de relações interpessoais de namoro e intimidade saudáveis.
Este trabalho foi desenvolvido no âmbito do projeto ART’THEMIS+ (Jovens Protagonistas na Prevenção da Violência e na Igualdade de Género), com recurso à aplicação de um questionário sobre violência no namoro aprovado pelo Ministério da educação.
Da amostra total de jovens (5.916), 53,8% eram raparigas, 44% eram rapazes, 1,4% de outras identidades (inclui pessoas não binárias, género neutro, género fluído, terceiro género e ‘queer’, entre outros) e 0,6% não responderam.