Num instante, ou neste caso em menos de um ano que em calendário futebolês significa um instante, tudo mudou. No último encontro do Chelsea em fases a eliminar da Liga dos Campeões, para onde quer que se olhasse via-se um ponto de interrogação. Uma dúvida. Uma incógnita. Até as despesas correntes deixaram de ser geridas pelo clube, passando para a órbita do governo britânico no seguimento das medidas contra o dono dos blues, Roman Abramovich – o que não mexeu em nada com a equipa, que tocou no impossível em pleno Santiago Bernabéu ao chegar a um 3-0 que se esfumou depois no prolongamento dos quartos frente ao Real Madrid. Agora, no regresso ao momento de knockout da prova, a realidade era diametralmente. Mudou o treinador, mudaram os jogadores, mudou o dono. Ou melhor, houve um dono que mudou o resto.

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Poucos poderiam adivinhar o impacto que a entrada do consórcio liderado por Todd Boehly teria em menos de um ano depois de ter pago 4,25 mil milhões de euros pelo clube. Com uma fortuna avaliada em 5,1 mil milhões, o que o coloca no 637.º lugar da lista das pessoas mais ricas do mundo para a Forbes, o empresário norte-americano que tem na Eldridge Industries o coração do seu império entre outras ocupações como a liderança da Associação de Jornalistas Estrangeiros de Hollywood que decidem os Globos de Ouro veio dizimar por completo o funcionamento do mercado de transferências. Assim mesmo, dizimar. Porque se é verdade que a troca de Thomas Tuchel por Graham Potter apontou muito para o perfil e não tanto para o nome ou para o currículo, a chegada de jogadores foi um autêntico desafio às regras vigentes.

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Em janeiro, e apenas em janeiro, os cerca de 330 milhões de euros investidos em oito jogadores foram cerca de 40% de todos os gastos da Premier League e ficaram acima daquilo que La Liga, Serie A, Bundesliga e Ligue 1 investiram na última janela de mercado. Todos jogadores com 22 ou menos anos, todos com contratos de seis, sete ou oito anos e meio para poder diluir o pagamento ao longo do tempo sem colocar em risco o fair play financeiro. No entanto, e para que tudo pudesse funcionar conforme planeado, a presença na Liga dos Campeões era uma obrigatoriedade. Na Premier League, o décimo lugar a dez pontos da quarta posição não augura grandes possibilidades; na Champions, aí estava tudo em aberto. E depois da difícil escolha dos eleitos para esta fase, com o central Badiashile a ficar de fora, apostava muito nesta prova.

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O primeiro obstáculo era alemão e quase uma antítese daquilo que representa o Chelsea sem por isso deixar de ser uma equipa tão ou mais seguida do que os blues. Em vez de gastar rios de dinheiro, o B. Dortmund ou recebe ou tem propostas para encaixar rios de dinheiro. Haaland e Akanji foram os mais recentes, Jadon Sancho, Diallo, Pulisic, Dembelé, Aubameyang, Mkhitaryan, Hummels ou Gündogan os anteriores num passado recente, Bellingham, Adeyemi, Schlotterbeck e Moukoko serão os próximos. Também tem de fazer investimentos para equilibrar o plantel mas é sobretudo uma montra para os clubes de maior dimensão reforçarem as suas equipas. Não há maior montra do que a Champions e era nessa equação que um encontro sem a história de um Liverpool-Real ou sem os milhões de um PSG-Bayern se tornava cabeça de cartaz.

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Numa série de seis vitórias consecutivas, e apesar da recente lesão de Moukoko, o B. Dortmund chegava no seu melhor momento da temporada a uma eliminatória onde encontraria um Chelsea com apenas um vitória nos oito jogos realizados em 2023 e que somara três empates com apenas um golo marcado nas últimas três partidas. A dupla Enzo Fernández-João Félix conseguiu pela primeira vez fazer faísca e criar um golo frente ao West Ham mas nem isso apagou o incêndio no edifício blue pelos maus resultados. Agora seguia-se mais uma oportunidade. E apesar dos sorrisos de Todd Boehly e companhia na tribuna quando João Félix voltou a ter uma jogada fantástica que terminou com um remate à trave, foram os germânicos a levar a melhor com um triunfo por 1-0 que, apesar de curto, coloca os londrinos ainda mais sem margem de erro na prova.

Mesmo com apenas um golo, o jogo foi bem mais do que isso com uma primeira parte onde João Félix teve o principal protagonismo: já depois de um golo marcado com a mão de Thiago Silva e um remate do ataque alemão às malhas laterais, o avançado português somou algumas arrancadas que foram deixando para trás a defesa contrária, conseguiu um primeiro remate muito forte mas a rasar a trave da baliza do B. Dortmund após assistência de Ziyech e acertou depois no ferro em mais uma jogada individual que não demorou a tornar-se viral. Tão ou mais viral só mesmo o 1-0 de Adeyemi, que recebeu a bola depois de uma chance dos ingleses após bola parada, arriscou um sprint à Usain Bolt com Enzo Fernández sempre a ficar para trás e fintou depois Kepa antes de encostar para a baliza deserta (63′). E o argentino ainda podia ter passado de vilão a herói no final, com Kobel a fazer uma defesa monstruosa nos descontos já depois de ser “substituído” uns minutos antes por Emre Çan num remate de Koulibaly que seguia para a baliza deserta.