Pelo menos 57 pessoas morreram e 185.000 estão deslocadas na Somalilândia, uma região separatista no norte da Somália autoproclamada independente, devido aos combates entre o exército e civis anti-governamentais armados, anunciaram esta sexta-feira as Nações Unidas.
“Muitos dos deslocados internos estão a dormir debaixo de árvores, enquanto outros vivem em escolas ou outros edifícios públicos”, segundo uma declaração do Gabinete de Coordenação dos Assuntos Humanitários da ONU (OCHA), citada pela agência espanhola EFE.
De acordo com o documento, 89% das pessoas deslocadas são mulheres e crianças. Para determinar o número de mortos, o OCHA entrevistou trabalhadores no Hospital Geral em Las Anod (a cidade onde os combates eclodiram), que também confirmaram que havia mais de 400 feridos.
Enquanto a ONU prepara um “plano de resposta” para lidar com as pessoas que deixaram as suas casas por medo dos combates, observou que “os parceiros relataram a insuficiência de recursos para responder a novas deslocações”.
Lamentou também que o acesso a Las Anod ainda seja “limitado”, uma vez que os combates continuam.
Os confrontos começaram em 06 de fevereiro em Las Anod, a capital administrativa da região de Sool, no sul da Somalilândia, um território disputado pela própria Somalilândia e pelo vizinho estado somali de Puntland.
Segundo as autoridades locais, o exército da Somalilândia lançou um ataque à sede de um comité de 33 pessoas nomeadas por líderes tradicionais para discutir o futuro da região Sool, sobre pertencer à Somalilândia ou à Somália, gerando confrontos armados com estes civis, “que se defenderam”.
No entanto, o Ministério da Informação da Somalilândia deu uma versão diferente dos acontecimentos, relatando que as suas bases militares e o quartel-general do ministério em Las Anod “estiveram sob forte fogo de terroristas armados mobilizados por líderes anarquistas tradicionais da cidade”.
O Presidente da Somália, Hassan Sheikh Mohamud, lamentou os confrontos e na semana passada apelou a um “cessar-fogo imediato”, um apelo semelhante ao dos parceiros internacionais do país, incluindo a Missão de Transição da União Africana na Somália (ATMIS), a União Europeia (UE), a ONU, os Estados Unidos, França, Alemanha, Rússia e Japão, entre outros.
A Somalilândia encontra-se numa crise política após o presidente da região, Muse Bihi Abdi, ter decidido prolongar o seu mandato, que deveria ter expirado em novembro passado, por um período de dois anos e cancelado a realização de eleições regionais.
Como resultado, o principal partido da oposição da Somalilândia, Waddani, deixou de reconhecer Abdi como “presidente legítimo”.
A Somalilândia, que foi um protetorado britânico até 1960, não é reconhecida internacionalmente, embora tenha a sua própria Constituição, moeda e Governo, e ainda melhor desenvolvimento económico e estabilidade política do que a Somália.
A região declarou a sua separação da Somália, uma antiga colónia italiana, em 1991, quando o ditador Mohamed Siad Barre foi derrubado.
A queda de Barre iniciou um período de conflito sem um Governo eficaz na Somália, que continua até hoje.
Nas últimas décadas, a Somália e a Somalilândia fizeram várias tentativas, sem sucesso, de diálogo sobre a independência da região.