O primeiro-ministro português afirmou hoje que a invasão da Ucrânia não pode retirar a atenção da Europa em relação a África, salientando que é preciso fazer cumprir os projetos conjuntos dos dois continentes.

“Não obstante o que está a acontecer na Ucrânia, não obstante o que está a acontecer na Europa, é fundamental continuarmos a desenvolver o trabalho que está em curso para criar esta nova união entre a Europa e o continente africano”, afirmou António Costa à Lusa, à margem da cimeira da União Africana (UA), em Adis Abeba.

A cimeira União Europeia (UE) com a UA, em fevereiro de 2022, “foi um grande sucesso”, mas, logo a seguir, a “Europa foi fortemente atingida pela guerra com a invasão da Ucrânia pela Rússia e isso, naturalmente, acabou por desviar um pouco as atenções”.

Portugal participa como observador na cimeira deste fim de semana da União Africana, em Adis Abeba, uma “grande distinção” que António Costa quer utilizar para dar uma mensagem de solidariedade ao continente, palco de golpes de Estado e conflitos internos vários, a que se somam a tradicional insegurança alimentar.

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“O que está a acontecer na Europa é absolutamente terrível, a invasão da Ucrânia é uma barbaridade, uma violação total do direito Internacional, temos dado todo o apoio à Ucrânia para que o direito internacional vença e a paz triunfo nesta guerra, mas não podemos esquecer que há mais mundo”, afirmou.

No seu entender, “a Europa tem que seguir a sua trajetória de abertura ao mundo e de estreitamento das relações com outras partes do mundo”, afirmou o primeiro-ministro português, confiando, por exemplo, que, no próximo semestre, durante a Presidência espanhola, “se conclua finalmente o acordo entre a União Europeia e o Mercosul”.

Em Adis Abeba, “a minha vinda aqui a esta cimeira também tem esta mensagem: a União Europeia não esquece o que é que tem que fazer e continuar a fazer” nas relações entre os dois continentes.

Até porque a guerra na Ucrânia “mudou radicalmente a geopolítica, por exemplo, da energia na Europa”, já que “grande parte dos países europeus eram muito dependentes do gás que era fornecido pela Rússia”.

“Hoje temos que acelerar a transição para a descarbonização, mas até atingir a descarbonização, vamos ter de continuar a utilizar a gás natural e petróleo que tenha outras origens que não as russas, e isso é uma nova porta de colaboração com o continente africano”, explicou Costa, recordando que Portugal importa 50% do gás da Nigéria.

Durante o dia de hoje, à margem da cimeira, o primeiro-ministro realizou mais de dez reuniões bilaterais.

“Têm sido todas bastante frutuosas, umas têm mais a ver com a cooperação militar no quadro de missões em que estamos em conjunto, como na República Centro-Africana, outras têm a ver com investimentos de empresas portuguesas nesses países, outros tem a ver com novas oportunidades de projetos que podemos desenvolver em conjunto”, resumiu António Costa, no final de um encontro com o Presidente angolano, João Lourenço.