O coordenador residente das Nações Unidas (ONU) para o Afeganistão, Ramiz Alakbarov, disse esta terça-feira que cerca de 28,3 milhões de pessoas precisarão de assistência humanitária no país este ano, 350% mais do que há cinco anos.
Desse total, 20 milhões de afegãos encontram-se em situação de insegurança alimentar aguda, incluindo seis milhões de pessoas “apenas a um passo da fome”, segundo Alakbarov, que fez esta terça-feira um ponto da situação no país.
Com os choques económicos a serem agora o principal impulsionador das necessidades humanitárias no país, o Afeganistão representa a maior crise humanitária do mundo em 2023, apesar dos recentes terramotos devastadores na Turquia e na Síria, de acordo com a ONU.
“Nos últimos 18 meses registou-se uma série de crises simultâneas no Afeganistão: humanitária, em que, atualmente, 65% da população precisa de ajuda de forma crítica; económica, com o Produto Interno Bruto (PIB) a cair entre 30% e 35% em termos reais em 2022, o custo de uma cesta básica de alimentos a aumentar 30% e quase 700.000 empregos destruídos; e de direitos humanos, com as raparigas a terem negado o acesso à educação secundária e uma série de restrições crescentes impostas a mulheres”, indicou a ONU em comunicado.
Ainda de acordo com as Nações Unidas, mesmo antes do último decreto dos talibãs proibindo as mulheres afegãs de trabalhar para Organização Não Governamentais (ONG), as trabalhadoras humanitárias já enfrentavam assédio, intimidação e maus-tratos na condução do seu trabalho.
Além disso, o país está a entrar no seu terceiro ano consecutivo de seca e no segundo ano de grave declínio económico como resultado da suspensão em larga escala da cooperação bilateral e de desenvolvimento, além de um sistema bancário e financeiro cada vez mais disfuncional, de acordo com as Nações Unidas.
Atualmente, aproximadamente 25 milhões de pessoas vivem na pobreza no Afeganistão, país em que cerca de três quartos dos rendimentos dos cidadãos são agora gastos em alimentação.
O Afeganistão está ainda altamente sujeito a riscos naturais, cuja frequência e intensidade são exacerbadas pelos efeitos das mudanças climáticas, aumentando as necessidades humanitárias e as limitações na mitigação do impacto dos desastres.
O número de desastres atípicos de início súbito, como inundações e terramotos, foi maior em 2022 do que nos anos anteriores e “o cenário para 2023 antecipa que esses padrões podem ser a norma no futuro”, sublinhou a ONU.