O secretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos, Roque da Cunha, reconheceu nesta quarta-feira que a administração do Hospital Beatriz Ângelo está de “mãos atadas” para resolver a falta de pediatras que levou ao encerramento noturno da urgência daquela especialidade.
O representante falava aos jornalistas após uma visita ao hospital, em Loures (distrito de Lisboa), onde esteve acompanhado do bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, e da dirigente sindical da Federação Nacional dos Médicos (FNAM) Tânia Russo.
“É um problema geral e a administração está, de uma maneira, de mãos atadas, porque foi feita uma transição sem qualquer tipo de preparação. Houve uma razão objetiva ideológica que fez com que esta parceria (público-privada) terminasse, mas o Governo é totalmente soberano em relação a esta matéria”, disse Roque da Cunha.
De acordo com o representante, estão a ser “feitos todos os esforços para criar condições para que os médicos que existem no país, que querem trabalhar no Serviço Nacional de Saúde, continuem a trabalhar”.
Miguel Guimarães frisou, por seu turno, que o Serviço Nacional de Saúde (SNS) “precisa de um novo modelo de gestão”, com a “valorização dos profissionais”, para poderem ser ultrapassados os problemas existentes.
O bastonário lembrou que o Hospital Beatriz Ângelo teve “durante algum tempo alguma tranquilidade”, nomeadamente a dar resposta à população, mesmo com “uma falha” nos cuidados primários, tendo em conta a falta de médicos de família.
No entanto, Miguel Guimarães reconheceu que a unidade hospitalar “começou a ter mais problemas” desde que terminou o anterior modelo de gestão.
O responsável lembrou também que, nos seis anos que leva como bastonário, os problemas que afetam “médicos, enfermeiros e outros na saúde” têm vindo a aumentar e também afetam os doentes.
“Temos todas as condições para de facto valorizar aquilo que é o trabalho das pessoas, seja no âmbito da carreira médica e outras carreiras profissionais. É fundamental que isso aconteça rapidamente, nós andamos a dizer isto há anos. Enquanto não acontecer, os médicos vão continuar a sair do SNS”, salientou.
Miguel Guimarães acrescentou ainda que a saída dos médicos não acontece só no Beatriz Ângelo, mas também nos hospitais periféricos e centrais, como o Santa Maria, em Lisboa.
“Temos que mudar a forma como estamos a valorizar o trabalho das pessoas, é uma vergonha”, reiterou.
Questionado acerca da surpresa com que o ministro da Saúde reagiu à demissão dos chefes de urgência, Roque da Cunha recusou que Manuel Pizarro “possa estar surpreendido com a matéria”, lembrando que “há mais de seis meses os médicos do Beatriz Ângelo vêm a pedir escusa de responsabilidade”.
“Tem sido uma questão recorrente que são equipas do serviço de urgência abaixo daquilo que é necessário”, alertou, recordando que no sábado passado estava “só um especialista” de serviço.
“Mais do que palavras de surpresa, mais do que diagnósticos, o dr. Pizarro e o dr. Fernando Araújo (diretor executivo do Serviço Nacional de Saúde) conhecem muito bem os problemas”, declarou.
A visita aconteceu no dia em que foi conhecida a demissão dos chefes de serviço de urgência, que dizem estar em causa, nas atuais condições de funcionamento, a “missão e a qualidade assistencial”, bem como a “segurança de todos os doentes e profissionais”.
Na terça-feira, o ministro da Saúde assumiu que a urgência pediátrica do hospital de Loures vai encerrar à noite a partir desta quarta-feira porque “não há disponibilidade de profissionais”.
Segundo uma nota da administração da unidade, este serviço passa a funcionar apenas de segunda a sexta-feira, entre as 9h00 e as 21h00.
“Esta decisão transitória, acordada com a Direção Executiva do SNS e com o Conselho Diretivo da Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo, decorre da dificuldade de preenchimento das escalas que, até ao momento, não foi possível ultrapassar”, lê-se na informação.
Manuel Pizarro anunciou que, na próxima semana, vai ser conhecido o plano para o funcionamento regular das urgências de pediatria de toda a Área Metropolitana de Lisboa, explicando que a população que recorre à urgência pediátrica do Hospital Beatriz Ângelo deve antes usar os serviços que se mantêm abertos, como os do Hospital de Santa Maria, Hospital Dona Estefânia ou Hospital de São Francisco Xavier, todos em Lisboa.