Muitos dos candidatos angolanos a vistos para Portugal disseram hoje existir “muita burocracia” para obtenção dos documentos, queixaram-se na demora do novo centro de vistos em Luanda e pedem “inovação, rapidez e eficiência” no atendimento.
No dia de estreia do novo centro de vistos para Portugal, em Luanda, na rua Guilherme Ferreira Inglês, Largo da Ingombota, o enorme cordão de pessoas, à entrada e em volta de edifício, servia de cartão de boas vindas à instituição.
Vários utentes que ali acorreram desde as primeiras horas desta terça-feira em busca dos serviços locais, entre vistos, agendamentos, passaportes e outros, queixaram-se da “morosidade” no atendimento e de “desorganização” no cumprimento das filas.
“Como sabemos, é o primeiro dia de atendimento nas novas instalações, está um pouquinho mais movimentado e a organização exterior não é das melhores, temos confiança que, nos próximos dias, poderão melhorar, mas deveria criar-se pelo menos alguma organização, mais concreta”, disse à Lusa o padre Wilson Domingos.
À entrada do novo centro de vistos de Portugal, onde diz ter chegado às 6h00 locais e quase quatro horas depois ainda não havia sido atendido, o missionário católico passionista, ladeado de colegas do sacerdócio, queixou-se de “desorganização”.
Para o padre Wilson Domingos, que viaja pela primeira vez para Portugal, a demora dos vistos resulta de “procedimentos legais, para se entrar num determinado país”, considerando existir ainda burocracia em relação ao Acordo de Mobilidade da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), aprovado em outubro de 2022.
A enfermeira Júlia Manuel, 27 anos, manifestou-se expectante em relação ao atendimento no novo centro de vistos para Portugal, desejando que o processo seja rápido.
“Há muita procura (de vistos para Portugal) e acho que por ser mesmo muito procurado é que está a demorar” mais. “Quando damos entrada diz-se que é para 45 dias, mas desde novembro passado apenas recebi a notificação na sexta-feira”, contou à Lusa.
Sem qualquer informação sobre o Acordo de Mobilidade da CPLP, Júlia Manuel, disse igualmente estar “curiosa” para embarcar pela primeira vez para Portugal e espera que o novo centro responda aos seus anseios, emitindo o desejado visto.
Damião Mabiala, 30 anos, que acorreu ao centro para obter visto para Portugal, para onde tenciona emigrar novamente, depois de uma experiência anterior de cinco anos, lamentou também o tempo de espera na fila para aceder às instalações.
“Vim aqui dar entrada do meu pedido de visto. Pretendo emigrar, espero que este centro seja melhor do que no passado e seja mais produtivo. Já estou aqui desde as 8h00 locais, essa é a segunda vez que procuro viajar para Portugal”, disse.
Sem saber do Acordo de Mobilidade da CPLP, o agente comercial confirmou também a “elevada procura” de vistos para Portugal.
Já a jornalista Jizelaide Sousa, que disse ser “familiar de europeus”, referiu que tem prioridade no atendimento, lamentando, no entanto, o “elevado tempo de espera, numa fila enorme, onde ninguém diz nada”.
“Estou aqui a esta hora devido à enchente, cheguei cedo, sou familiar de europeu, temos prioridade mas até agora não somos atendidos”, lamentou.
“Eficiência, qualidade, inovação e rapidez” nos serviços são os apelos de Jizelaide aos funcionários do novo centro de vistos em Luanda.
“Sinceramente, eu acho que no local onde estava era melhor, aqui está pior, não sei se é por ser primeiro dia, mas o atendimento está péssimo”, atirou.
A jornalista, que disse não ter muitas dificuldades para obtenção de visto, acredita que as queixas e/ou recusas na obtenção de vistos resultam de “receios” de que sejam solicitados pelos requerentes para emigrar.
Em relação ao Acordo de Mobilidade da CPLP Jizelaide Sousa comentou: “Esperemos que haja melhoria dos serviços e que as pessoas logo que entrem consigam ter residência e facilitação de vistos, porque nem todo o mundo vai a Portugal para ficar, uns é mesmo de férias, como é o meu caso”, rematou.
No dia da inauguração do centro de vistos da VFS Global, dedicado em exclusivo a Portugal, a cônsul-geral, Rosa Lemos Tavares, pediu “tempo” e “confiança” aos utentes e adiantou que será dada prioridade aos vistos CPLP.
Também o embaixador português Francisco Alegre Duarte considerou que este é um passo decisivo para garantir “maior dignidade” no atendimento dos requerentes de visto para Portugal, com “maior conforto e celeridade”, uma mudança que considerou ainda mais relevante face ao aumento dos pedidos que se tem registado nos últimos meses, impulsionados pela crescente mobilidade e regresso à normalidade pós-pandemia.
A Lusa pediu ao Ministério dos Negócios Estrangeiros português informações sobre o número de vistos processados em Luanda, o tempo médio de processamento e investimento nas novas instalações, mas não obteve resposta.