O Banco Central Europeu (BCE) “irá fazer tudo aquilo que for necessário” para combater a inflação elevada na zona euro, garantiu esta quarta-feira Christine Lagarde numa intervenção pública em que recupera as míticas palavras usadas pelo seu antecessor, Mario Draghi, e que foram o início do fim da crise da dívida soberana, em julho de 2012. Agora o “monstro” é outro, é o da inflação, que “penaliza sobretudo os menos favorecidos, os mais vulneráveis”, afirmou Lagarde, citada pela Agence France Presse (AFP).
As declarações surgiram num evento organizado pela Organização Mundial do Comércio, em Genebra, quando falta pouco mais de uma semana para o Conselho do BCE voltar a reunir-se para anunciar mais uma subida das taxas de juro, que deverá ser de mais meio ponto percentual (para 3%) e não deverá ser a última deste ciclo de aumentos inédito.
O objetivo do BCE com os aumentos de juros é arrefecer a procura na economia e, dessa forma, contrariar as pressões de subida de preços. “As principais vítimas da inflação elevada são os menos privilegiados, os mais vulneráveis”, afirmou Lagarde, reconhecendo que a inflação elevada está a gerar na zona euro uma situação que “não é agradável” e prometendo que será em defesa dos mais vulneráveis que “o BCE irá fazer tudo o que for necessário para promover a estabilidade de preços”.
Essa estabilidade dos preços é definida nos estatutos do BCE como uma subida anual de 2% nos preços, mas os últimos dados apontam para taxas de inflação superiores a 8,5% e, mesmo quando se excluem os preços (mais voláteis) da energia e dos alimentos não-transformados, a inflação está acima de 5%, o que é um indicador de pressões inflacionistas generalizadas na economia.
Já nos últimos dias, Christine Lagarde tinha-se referido à ameaça inflacionista como um “monstro que precisamos de golpear na cabeça”.
Vários membros do Conselho do BCE, incluindo o economista-chefe Philip Lane, têm avisado que os dados da inflação indicam que é provável que haja mais subidas da taxa de juro nas reuniões seguintes (após a de março). O governador do Banco de Portugal, Mário Centeno, veio, neste contexto, pedir que o BCE dê algum tempo, com “paciência”, para que as subidas já promovidas produzam um impacto na economia e na inflação que se possa analisar esse efeito e o que é preciso fazer mais.
Mas a pressão do BCE para subir as taxas de juro aumentou ainda mais depois de, nesta terça-feira, o presidente da Reserva Federal dos EUA, Jerome Powell, ter admitido que é possível que o banco central norte-americano volte a acelerar no ritmo de de subida dos juros – e que, no final, é possível que seja necessário aumentar as taxas de juro até um patamar mais elevado do que se pensava anteriormente.
Esses comentários contribuíram para elevar as taxas Euribor, indexantes de crédito que são referência em Portugal, para novos máximos desde 2008, cada vez mais perto dos 4% no prazo a 12 meses. O indexante a 12 meses chegou esta quarta-feira aos 3,944% e a Euribor a seis meses está em 3,451%.