Os chefes de equipa de urgência de Medicina Interna do Hospital São Francisco Xavier, em Lisboa, apresentaram a demissão em bloco numa carta enviada esta segunda-feira ao conselho de administração, criticando a falta de soluções para os problemas do serviço.
Na carta assinada por 16 assistentes hospitalares de Medicina Interna do Centro Hospitalar Lisboa Central (CHLO), a que a agência Lusa teve acesso, os médicos afirmam que a crise que o Serviço de Urgência Geral (SUG) vive “é antiga e tem vindo a agravar-se nos últimos anos”.
Em julho do ano passado, a grande maioria dos subscritores anunciou a demissão por considerar que não estava devidamente assegurada a equipa para garantir a escala do mês de agosto.
Os médicos afirmam na carta, enviada esta segunda-feira também para a Ordem dos Médicos e sindicatos, que foram iniciadas na altura negociações com o atual conselho de administração com “o intuito de encontrar soluções que colmatassem as insuficiências denunciadas”.
“Nos últimos sete meses, apesar da disponibilidade do grupo de Assistentes Hospitalares (AH) de Medicina Interna para colaborar com a instituição que representa, nenhuma mudança estrutural foi proposta ou executada, pelo que o problema que motivou a comunicação prévia agravou-se, tal como antecipado”, afirmam os especialistas na carta enviada.
No documento, a que o Observador teve acesso, os signatários revelam estar preocupados com a constituição das equipas de medicina interna no serviço de urgência e com a elaboração das escalas. Em primeiro lugar, porque “a mobilização de assistentes hospitalares para o serviço de urgência geral conduz à escassez de recursos noutros serviços, condicionando a constituição das equipas médicas”.
Em segundo lugar, porque neste momento o número de assistentes hospitalares de medicina interna “não é suficiente para garantir o cumprimento das recomendações”: “Com o recurso frequente a turnos extraordinários, prevê-se a impossibilidade de preencher as escalas dos serviços de urgência geral nos meses de verão”, até porque nessa altura a maioria dos profissionais já terão esgotado as 15o horas extraordinárias que lhe são impostas.
Na carta, os signatários consideram “repreensível” que se utilizem sorteios para os turnos extraordinários de urgência externa para acertar as escalas por preencher nas urgências. Da mesma maneira, classificam de “condenável” e “discriminatória” a “exigência de prestação consecutiva de períodos de urgência extraordinária” nas urgências gerais exclusivamente em período noturno e fins de semana: “Esta rotação acarreta elevada penosidade para todos, lesando gravemente o direito ao descanso constitucionalmente previsto”.
Também é “reprovável” e “discriminatória” a prestação da atividade assistencial pelos assistentes de medicina interna exclusivamente à noite e ao fim de semana, consideram os médicos — porque essas especialidades deixaram de estar representadas nas equipas das urgências, o que tem tido um impacto no serviço. “Verifica-se um adicional na carga de trabalho para a medicina interna no serviço de urgência geral, especialidade essa já escassa em recursos”.