Quando Ke Huy Quan subiu ao palco do Dolby Theatre para aceitar o Óscar de Melhor Ator Secundário, recebeu mais do que uma estatueta dourada. A ovação da plateia foi o culminar de um percurso que viu o ator de “Tudo Em Todo o Lado ao Mesmo Tempo”, afastado da indústria durante décadas por falta de oportunidades para atores asiáticos, regressar e, (quase) à primeira, vencer o maior prémio da indústria de Hollywood.

De parceiro de Indiana Jones a assistente de Wong Kar-wai

Poucos serão os que ainda se lembrarão do ator, atualmente com 51 anos. Aqueles que ainda se recordam, terão em mente os seus papéis na década de 1980, ainda em criança. Primeiro, em “Indiana Jones e o Templo Perdido” (1984), como Short Round, o parceiro do famoso arqueólogo de Harrison Ford, e depois como Data, o jovem inventor do grupo de jovens protagonistas de “Os Goonies” (1985).

Como contou o próprio ao New York Times, tudo começou por acaso. “Steven Spielberg e George Lucas estavam à procura de um miúdo chinês para aparecer no ‘Indiana Jones e o Templo Perdido’. (…) O professor do meu irmão achou que ele devia fazer um casting, e eu fui com ele; enquanto ele estava a atuar, eu ia-lhe dando indicações sobre o que fazer e dizer. O diretor de casting viu-me e disse ‘queres tentar?’“.

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Os seus papéis fizeram as delícias do público mais jovem na década e 1980, mas nem por isso o ator norte-americano de origem vietnamita conseguiu traduzir o sucesso para uma carreira na idade adulta, já que os papéis asiáticos escasseavam em Hollywood:

Quando cheguei à casa dos 20, o telefone parou de tocar. O meu agente ligava-me e dizia: ‘Há este papel, são três falas e era tipo, um soldado vietnamita. E nem esse papel conseguia”.

Gradualmente, Quan abandonou o sonho da atuação. Na Universidade da Califórnia estudou produção cinematográfica e, experiente em artes marciais, coreografou vários filmes do género, em Hong Kong e nos EUA, como o primeiro “X-Men” (2000), e o filme de Jet Li “Força Explosiva” (2001). Em 2004, trabalhou ao lado do celebrado cineasta de Hong Kong, Wong Kar-wai, no filme “2046” (2004).

O regresso “doido e rico” ao sonho da representação

O vencedor de um Óscar dizia-se satisfeito a trabalhar atrás da câmara, mas a verdade o “bichinho” da representação nunca o abandonou. Em 2018, tudo mudou graças — claro — ao cinema. “Um filmezinho chamado ‘Asiáticos Doidos e Ricos’ saiu. Fiquei tão inspirado pelo filme que a ideia de regressar às minhas origens começou a cirandar-me na cabeça”.

O “filmezinho”, uma comédia romântica sobre uma família asiática (em que um dos papéis principais foi, justamente, interpretado por Michelle Yeoh) foi um êxito de bilheteira, rendend0 quase 250 milhões de dólares, e representou um passo importante na criação de mais papéis para atores asiáticos nem Hollywood.

Liguei a um agente amigo meu e perguntei-lhe, ‘estou a pensar voltar a aturar, gostavas de me representar?’; e, literalmente duas semanas depois, ele liga-me e diz ‘há este filme escrito pelos Daniels e protagonizado pela Michelle Yeoh. E há um papel que tu podias fazer, em que és o marido dela'”.

A aposta foi vencedora. “Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo” acabou por ser o segundo papel de Ke Huy Quan desde que regressou e, a julgar pelo sucesso, estará longe de ser o único. Ainda assim, o próprio parece ainda não conseguir acreditar no sucesso; ao subir ao palco para aceitar o Óscar, o seu discurso, em lágrimas foi elucidativo: “Mãe, ganhei um Óscar!”

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Após ser anunciado como vencedor do Óscar, a emoção tomou conta do ator