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Foi uma noite sem grandes surpresas no Dolby Theatre, em Los Angeles. Como era esperado, o filme de ficção científica e kong fu “Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo” venceu nas principais categorias dos Óscares, incluindo “Melhor Filme”, “Melhor Realização” e “Melhor Atriz”. A longa-metragem tinha 11 nomeações, tendo vencido sete. “A Oeste Nada de Novo” ganhou na maioria das categorias técnicas e também na de “Melhor Banda Sonora”, enquanto o filme indiano “RRR” recebeu o Óscar de “Melhor Canção”, por “Naatu Naatu”, de M.M. Keeravaan e Chandrabose.

“Os Espíritos de Inisherin”, que estava nomeado para nove categorias, não venceu nenhuma, tendo sido um dos grandes derrotados desta noite de domingo. O mais recente filme de Steven Spielberg, “Os Fabelmans”, inspirado nas memórias de infância e juventude do realizador e muito elogiado pela crítica, também não recebeu nenhum Óscar. Estava nomeado para sete categorias. Sete era também o número de nomeações de “Top Gun: Maverick”, que acabou por vencer apenas o “Melhor Som”.

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(Rich Polk/Variety via Getty Images)

Não houve sobressaltos, mas houve momentos que ficaram para a história da Academia. Michelle Yeoh tornou-se este domingo a primeira atriz asiática a ser galardoada com o Óscar de “Melhor Atriz”, por “Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo”. No discurso de agradecimento, Yeoh, que conta com inúmeros prémios e nomeações mas que nunca tinha sido nomeada para os Óscares, começou por se dirigir a “todos os meninas e meninos” que se parecem consigo e que estavam a assistir à 95.ª cerimónia dos prémios da Academia: “Este é um símbolo de esperança e de possibilidades”, afirmou, referindo-se à estatueta dourada. “Os sonhos tornam-se realidade. E, senhoras, nunca deixem ninguém dizer-vos que passaram do prazo.”

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As mães foram os principais destinatários dos prémios desta noite de domingo. Michelle Yeoh não esqueceu a sua e dedicou o prémio à matriarca da família e “a todas as mães do mundo”, fazendo eco do que tinha sido dito algum tempo antes por Daniel Scheinert, um dos realizadores de “Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo”, quando recebeu, juntamente com Daniel Kwan, o Óscar de “Melhor Montagem”. “Elas são mesmo super-heróis e, sem elas, nenhum de nós estaria aqui esta noite”, referiu Yeoh. “Ela [a mãe] tem 84 anos e vou levar isto para casa para ela.” A atriz nascida na Malásia, onde a mãe ainda vive, agradeceu por último à Academia. “Isto é a história a acontecer”, terminou.

O prémio de “Melhor Ator” foi para Brendan Fraser, por “A Baleia”. O filme estava nomeado para três categorias, venceu esta e a de Melhor Caracterização. Emocionado, o ator agradeceu à Academia por “este reconhecimento” e a todas as pessoas que o ajudaram a manter-se “à superfície”. Fraser reconheceu ainda o talento de Hong Chau, nomeada para a categoria de “Melhor Atriz Secundária” pelo mesmo filme.

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(Rich Polk/Variety via Getty Images)

“Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo” venceu (quase) tudo em Los Angeles

“Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo” venceu o “Melhor Argumento Original”, “Melhor Montagem”, e  também nas categorias de melhor ator e atriz secundários, das primeiras a serem reveladas este domingo.

O ator Ke Huy Quan, que ficou conhecido há quase 40 anos por entrar em “Indiana Jones e o Templo Perdido”, o terceiro filme da saga, começou por agradecer à mãe, que tem 84 anos e estava a assistir à cerimónia a partir de casa. “Mãe, ganhei um Óscar!”, exclamou referindo-se ao prémio de “Melhor Ator Secundário”. Quan recordou a sua história, como chegou ao Estados Unidos da América “num barco” como “refugiado”. “Dizem que histórias como estas só acontecem nos filmes. Não acredito que isto me está a acontecer. Isto é o sonho americano”, disse, agradecendo de seguida à Academia pela “honra de uma vida”. “A todos os que aí estão, mantenham os vossos sonhos vivos!”.

Jamie Lee Curtis, a melhor atriz secundária, acumulou uma estreia e uma vitória. A atriz, que nunca tinha sido nomeada para um Óscar, agradeceu à equipa de “Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo”, ao marido e filhos e a todos os que apoiaram os filmes que fez ao longo dos anos. “Parece que estou aqui sozinha, mas sou centena de pessoas. Acabámos de ganhar um Óscar!”, declarou. Lembrando que a mãe e o pai, os atores Janet Leigh e Tony Curtis, que foram várias vezes nomeados, afirmou, com lágrimas nos olhos: “Acabei de ganhar um Óscar!”

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(Rich Polk/Variety via Getty Images)

Português “Ice Merchants” perdeu para “The Boy, the Mole, the Fox and the Horse” mas acumulou elogios de Adão e Silva e Marcelo. Del Toro venceu “Melhor Filme de Animação”

Também sem grande surpresas, “Pinóquio”, de Guilherme del Toro, venceu o “Melhor Filme de Animação”. Em palco, o realizador lembrou a importância do cinema de animação e pediu ao público que ajudasse a alimentar a conversa em torno do género. “A animação é cinema, a animação é uma arte nobre e está pronta para o próximo passo”, defendeu.

A “Melhor Curta de Animação”, categoria para que estava nomeado o português “Ice Merchants”, foi para “The Boy, the Mole, the Fox and the Horse”, de Charlie Mackesy e Peter Baynton. Reagindo ao facto de “Ice Merchants”, de João Gonzalez e Bruno Caetano, não ter ganho o Óscar, o ministro da Cultura e o Presidente da República elogiaram a ambição dos criadores e destacaram o facto de, com a nomeação, o cinema português ter sido destacado no âmbito internacional.

“Parabéns ao João Gonzalez e à sua equipa, que com tenacidade, ambição e rasgo, criaram um filme comovente, que levará muitas pessoas a descobrir a capacidade singular do cinema de animação para tratar de temas complexos e adultos. Entre os espectadores, estão também os jovens que serão levados a desenvolver as suas próprias potencialidades criativas, e é importante que saibam que a emigração não é para eles o único caminho”, escreveu Pedro Adão e Silva.

“A festa de hoje é do cinema de animação português no seu conjunto, uma área em que temos vindo a obter reconhecimento internacional crescente – e que agora, com ‘Ice Merchants’, chegará a um público muito mais alargado. Os Óscares são um começo, não são um fim”, destacou.

Numa nota publicada no site da Presidência, Marcelo Rebelo de Sousa declarou que “com ‘Ice Merchants’, o muito premiado cinema de animação português, e através dele todo o nosso cinema, esteve pela primeira vez representado numa cerimónia vista pelo mundo inteiro”. Marcelo elogiou o filme de animação português e também “determinação e ao talento do cinema de animação em Portugal”.

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(Myung J. Chun / Los Angeles Times via Getty Images)

“Navalny”, sobre o líder da oposição russa, venceu, também como era esperado, a categoria de “Melhor Documentário”. O realizador Daniel Roher lembrou que o protagonista, Alexei Navalny, não pôde estar presente na cerimónia porque premanece detido na Rússia devido à “guerra injusta” de Putin. “Não devemos ter medo de nos opôr a ditadores e ao totalitarismo”, defendeu. A mulher do político,  Yulia Navalny, afirmou que o marido “está na prisão por dizer a verdade, por defender a democracia”. “Alexei, sonho com o dia em que serás libertado e o país será livre. Mantêm-te forte.”

Designer Ruth Carter tornou-se na primeira mulher negra a ganhar dois Óscares

Ruth Carter voltou a vencer na categoria de “Melhor Guarda-Roupa” por “Black Panther: Wakanda Forever” (tinha vencido em 2018, pelo primeiro “Black Panther”), tornando-se na primeira mulher negra a ganhar dois Óscares. A designer dedicou o prémio à mãe, que morreu na semana passada e que faria 101 anos, e agradeceu à Academia por premiar “o super-herói que é a mulher negra”.

A produção alemã “A Oeste Nada de Novo”, que ganhou o Óscar de “Melhor Filme Internacional”, venceu na grande maioria das categorias técnicas e também a “Melhor Banda Sonora”, composta por Volker Bertelmann, pianista e compositor alemão. John Williams, que compôs a música para  “Os Fabelmans”, era o grande favorito. O compositor entrou para a história dos Óscares por ser o mais velho nomeado, aos 91 anos, completados em fevereiro passado. “Naatu Naatu”, de M.M. Keeravaan e Chandrabose, do filme “RRR”, foi considerada a “Melhor Canção”.

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(Myung J. Chun / Los Angeles Times via Getty Images)

A lista completa dos vencedores da 95.ª cerimónia dos Óscares:

Melhor Filme

“Top Gun: Maverick”
“Os Fabelmans”
“Os Espíritos de Inisherin”
“Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo”
“Tár”
“Elvis”
“A Oeste Nada de Novo”
“O Triângulo da Tristeza”
“A Voz das Mulheres”
“Avatar: O Caminho da Água”

Melhor Realização

Steven Spielberg, “Os Fabelmans”
Martin McDonagh, “Os Espíritos de Inisherin”
Todd Field, “Tár”
Daniel Kwan e Daniel Scheinert, “Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo”
Ruben Ostlund, “O Triângulo da Tristeza”

Melhor Atriz

Michelle Yeoh, “Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo”
Cate Blanchett, “Tár”
Ana de Armas, “Blonde”
Andrea Riseborough, “To Leslie”
Michelle Williams, “Os Fabelmans”

Melhor Ator

Austin Butler, “Elvis”
Brendan Fraser, “A Baleia”
Colin Farrell, “Os Espíritos de Inisherin”
Bill Nighy, “Living”
Paul Mescal, “Aftersun”

Melhor Atriz Secundária

Angela Bassett, “Black Panther: Wakanda Para Sempre”
Kerry Condon, “Os Espíritos de Inisherin”
Jamie Lee Curtis, “Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo”
Hong Chau, A Baleia
Stephanie Hsu, “Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo”

Melhor Ator Secundário

Ke Huy Quan, “Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo”
Brendan Gleeson, “Os Espíritos de Inisherin”
Barry Keoghan, “Os Espíritos de Inisherin”
Judd Hirsch, “Os Fabelmans”
Brian Tyree Henry, “Causeway”

Melhor Curta de Animação

“The Flying Sailor”
“The Boy, the Mole, the Fox and the Horse”
“Ice Merchants”
“My Year of Dicks”
“An Ostrich Told me the World is FAke and I Think I Believe It”

Melhor Curta Metragem

“An Irish Goodbye”
“The Red Suitcase”
“Night Ride”
“Le Pupille”
“Ivalu”

Melhor Curta Documental

“How Do You Measure a Year?”
“Strangers at the Gate”
“Haulout”
“The Martha Mitchell Effect”
“The Elephant Whisperers”

Melhor Filme Internacional

“A Oeste Nada de Novo”
“Close”
“Argentina, 1985”
“The Quiet Girl”
“Eo”

Melhor Documentário

“All That Breathes”
“Navalny”
“Fire of Love”
“A House Made of Splinters”
“All the Beauty and the Bloodshed”

Melhor Canção

“Naatu Naatu” (“RRR”)
“Lift Me Up” (“Black Panther: Wakanda Para Sempre”)
“Applause” (“Tell it Like a Woman”)
“This is a Life” (“Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo”)
“Hold My Hand” (“Top Gun: Maverick”)

Melhor Banda Sonora

“Babilónia”
“A Oeste Nada de Novo”
“Os Fabelmans”
“Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo”
“Os Espíritos de Inisherin”

Melhores Efeitos Especiais

“A Oeste Nada de Novo”
“Black Panther: Wakanda Para Sempre”
“Avatar: O Caminho da Água”
“Top Gun: Maverick”
“Batman”

Melhor Som

“Top Gun: Maverick”
“Avatar: O Caminho da Água”
“Elvis”
“A Oeste Nada de Novo”
“Batman”

Melhor Caracterização

“Batman”
“Elvis”
“A Oeste Nada de Novo”
“A Baleia”
“Black Panther: Wakanda Para Sempre”

Melhor Montagem

“Top Gun: Maverick”
“Tár”
“Elvis”
“Os Espíritos de Inisherin”
“Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo”

Melhor Guarda-Roupa

“Black Panther: Wakanda Para Sempre”
“Elvis”
“Um Sonho em Paris”
“Babilónia”
“Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo”

Melhor Fotografia

“A Oeste Nada de Novo”
“Top Gun: Maverick”
“Elvis”
“Tár”
“Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo”

Melhor Design de Produção

“Elvis”
“Os Fabelmans”
“Avatar: O Caminho da Água”
“Babilónia”
“A Oeste Nada de Novo”

Melhor Filme de Animação

“Pinóquio”
“Marcel the Shell With Shoes On”
“Turning Red”
“O Gato das Botas: O Último Desejo”
“The Sea Beast”

Melhor Argumento Adaptado

“Living”
“A Voz das Mulheres”
“A Oeste Nada de Novo”
“Top Gun: Maverick”
“Glass Onion”

Melhor Argumento Original

“Os Espíritos de Inisherin”, Martin McDonagh
“Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo”, Daniel Kwan, Daniel Scheinert
“Tár”, Todd Field
“O Triângulo da Tristeza”, Ruben Östlund
“Os Fabelmans”, Tony Kushner, Steven Spielberg