Se dúvidas ainda existissem sobre o compromisso de Cristiano Ronaldo com o Al Nassr, numa nova etapa da carreira longe dos principais palcos europeus, o último encontro com o Al-Ittihad foi mais uma prova de que o contexto pode mudar mas a vontade de ganhar não se perde. E foram vários os gestos que mostraram isso mesmo, dos pedidos para a equipa subir ao desalento com o golo de Romarinho sofrido nos últimos dez minutos, passando por uma oportunidade travada pelo guarda-redes nos descontos e o apito final da segunda derrota que sofreu desde que chegou à Arábia Saudita de novo com o conjunto liderado por Nuno Espírito Santo. O avançado e capitão ainda foi agradecer aos adeptos visitantes mas a desilusão era também evidente.

Esquecer o Ronaldo é mau, esquecer um Romarinho é pior ainda: Al Nassr perde e Al-Ittihad sobe à liderança da Liga

Houve mais um fator à margem de tudo isso, provavelmente aquele que fez transbordar o copo da frustração para um pontapé em garrafas de água que estavam perto do banco quando se encaminhava para o túnel de acesso aos balneários: os constantes gritos por Messi que vinham das bancadas cantados pelos adeptos do Al-Ittihad. E foi percetível até durante a partida que Ronaldo não passou ao lado dos mesmos, fazendo o gesto como que a questionar o porquê quando os mesmos eram mais audíveis. No entanto, aquilo que ficou foi sobretudo uma das exibições menos conseguidas do Al Nassr, que tanto jogou recuado e numa posição de quase conforto pelo nulo que acabou por sofrer perto do fim e com isso perdeu a liderança da Liga saudita.

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Era a isso que o conjunto de Rudi Garcia tentava reagir esta terça-feira, em mais uma competição que seria de estreia para o português no país: a King Cup, Taça da Arábia Saudita disputada entre os 16 membros da Primeira Liga nos últimos três anos (as edições anteriores contaram com 64 e 32 equipas) que dá também acesso direto à próxima edição da Champions da Ásia e que o Al Nassr não vence desde 1990 – perdeu as últimas quatro finais a que chegou, nos anos de 2012, 2015, 2016 e 2020 – entre o domínio recente de Al Hilal, Al-Ittihad ou Al Ahli entre as surpresas Al Faisaly e Al Fayha, que ganharam as últimas duas edições.

Assim, e em dia de luto pela morte aos 64 anos de Salem Abdel-Rahman Marwan, antigo guarda-redes do clube e da Arábia Saudita (44 internacionalizações) que tinha ficado tetraplégico na sequência de um grave acidente sofrido em 1991, o Al Nassr fazia o primeiro de dois encontros consecutivos em casa com o Abha Club, 12.º classificado que será também adversário para a Liga no próximo sábado. E, desta vez, quase não houve história: ao longo de 90 minutos de quase total domínio, o conjunto de Riade não demorou a cimentar uma vantagem confortável que lhe permitiu depois gerir a partida de uma outra forma. Só faltou um golo de Ronaldo, que contou com muito apoio das bancadas (que agradeceu durante o jogo) e uma criança que se tornou destaque da TV por ter um cartaz onde dizia ter viajado 28 horas para ver CR7.

O encontro teve um início eletrizante, com Al Najei a inaugurar o marcador com apenas 12 segundos de jogo num remate que bateu ainda num adversário antes de seguir para a baliza e Álvaro González, aquele central espanhol que jogava no Marselha e chocava em todos os jogos com Neymar, a evitar o empate no minuto seguinte após um erro do guarda-redes Nawaf Al-Aqidi. Os ânimos iriam depois acalmar um pouco a par do próprio ritmo inicial, com o Al Nassr a confirmar o favoritismo de forma natural e a chegar ao 2-0 por Abdul Al-Khaibari, a concluir da melhor forma um cruzamento da esquerda de Konan (21′). Até ao intervalo, o foco esteve em Cristiano Ronaldo, que pediu à equipa para acelerar a reposição após o segundo golo para poder fazer também o seu remate certeiro, que foi defendido e saiu ao lado nas duas primeiras tentativas.

A vontade de marcar pelo menos um golo é demasiado evidente. Tanto que, no lance que fechou o primeiro tempo, o avançado viu mesmo cartão amarelo por ter protestado de forma veemente (e em bom português) e pontapeado a bola para longe quando tentava conduzir uma transição rápida. E a história do jogo foi ficando reduzida a essa dúvida em torno de Ronaldo após o 3-0 de Maran, a aproveitar um ressalto numa má saída do guarda-redes contrário na sequência de um canto para rematar para a baliza deserta (49′). Ainda houve uma bola na trave mas seria o Abha a reduzir a desvantagem à entrada dos últimos 20 minutos de jogo, com Abdulfattah a surgir de forma oportuna na área a fazer a recarga a um primeiro remate defendido (69′). Daí até ao final, a notícia foi a substituição de Ronaldo aos 87′, com o português a não sair agradado com a opção que impediu de cumprir mais uma vez os 90 minutos como aconteceu nos primeiros oito jogos.