O grupo Sonae, que detém os supermercados Continente, fechou o ano 2022 com um lucro líquido de 342 milhões de euros, mais 27,7% face ao ano anterior. O valor foi “fortemente influenciado pelas mais-valias não recorrentes das vendas de ativos”, nomeadamente a MDS e a Maxive. Nos resultados anuais enviados esta quinta-feira à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), o grupo liderado por Cláudia Azevedo nota que o lucro recorrente, “expurgado do impacto de itens não recorrentes”, baixou 17% para 179 milhões de euros. No quarto trimestre de 2022, os lucros aumentaram 20,6% para 132 milhões de euros, mas excluindo os não recorrentes o grupo teve prejuízos de 10 milhões no período.
O resultado líquido recorrente, refere a Sonae, foi “penalizado pelo esforço em estar ao lado das famílias absorvendo parte da inflação, pelo aumento significativo dos custos e pelo resultado indireto de -43M€, na sequência das imparidades no negócio de retalho de moda, da desvalorização dos ativos da Sierra e do impacto cambial no valor dos ativos da Bright Pixel”.
O volume de negócios do grupo atingiu os 7,7 mil milhões de euros em 2023, o que se traduz numa subida de 10,9% face a 2021. A Sonae refere que o crescimento foi “sustentado pelos sólidos ganhos de quota de mercado dos negócios” e “ao investimento na expansão dos negócios para levar os benefícios da sua oferta a um número crescente de pessoas, nomeadamente através do aumento do parque de lojas dos negócios de retalho”.
O EBITDA subjacente aumentou 5,7% para 635 milhões de euros, registando “um desempenho inferior às vendas”. A margem de lucro operacional reduziu-se em 0,4% para 8,2%, o que, segundo o grupo, “traduz os esforços contínuos para proteger famílias e clientes, com os negócios a suportar parte da pressão inflacionária e do aumento significativo dos custos, nomeadamente de energia, e a investir para garantir a competitividade das suas ofertas”.
A Sonae MC, unidade de retalho do grupo, e que detém o Continente, o seu principal negócio, registou vendas de seis mil milhões de euros, mais 11,5% face ao período homólogo. O resultado líquido da unidade de retalho alimentar da Sonae diminuiu 17,8% em 2022, para 179 milhões de euros. De acordo com o grupo, o valor “traduz uma margem de lucro de 3,0%, sendo que nos formatos alimentares a margem foi de 2,7%”. A Sonae refere que a MC “registou uma redução da rentabilidade em 2022”, por via do “esforço” para “suportar parcialmente o aumento dos vários custos”.
A margem de rentabilidade foi de 9,4%, menos 0,59% do que no ano anterior. O EBITDA subjacente foi de 563 milhões em 2022, “registando uma evolução inferior às vendas”.
A empresa destaca que “o crescimento do volume de negócios da MC ficou significativamente abaixo do aumento da inflação alimentar em Portugal, que no ano de 2022 foi de 13%, demonstrando o compromisso assumido de apoiar as famílias na atual conjuntura”.
Em 2023, a Sonae MC abriu 65 novas lojas próprias e remodelou 33 lojas. O investimento foi de 218 milhões de euros.
Na habitual mensagem da CEO do grupo que acompanha os resultados, Cláudia Azevedo afirma que os negócios de retalho do grupo “suportaram parte da pressão inflacionista, à custa da sua própria rentabilidade”. Cláudia Azevedo faz um balanço dos quatro anos do mandato do Conselho de Administração, que terminou em 2022, ressalvando que foram “conturbados e desafiantes”. Sobretudo nos últimos dois anos.
“Após dois anos de pandemia, a invasão à Ucrânia, em 2022, trouxe consequências com as quais ainda estamos a lidar e que irão persistir por um longo período de tempo. Durante o ano, a inflação aumentou para níveis que o mundo não havia presenciado neste século, sobretudo devido aos aumentos acentuados nos custos de energia e às perturbações nas cadeias de abastecimento que afetaram toda a economia”, reflete a gestora.
“O elevado nível de inflação, juntamente com as crescentes taxas de juro colocaram sob pressão o rendimento disponível das famílias e, consequentemente, alteraram os seus padrões de consumo”, refere, sublinhando que a Sonae “rapidamente” percebeu o seu impacto e agiu “em conformidade” para mitigá-lo.
“Para evitar uma maior sobrecarga nos orçamentos familiares, os nossos negócios de retalho suportaram parte da pressão inflacionista, à custa da sua própria rentabilidade”, diz Cláudia Azevedo, que destaca ainda “o aumento das quotas de mercado de todos” os negócios do grupo no último ano, “apesar dos ambientes competitivos mais intensos”.
No ano passado, a Sonae investiu 357 milhões de euros nas suas operações, mais 28% face a 2021, e criou mais de 1200 postos de trabalho, fechando o ano com mais de 48 mil colaboradores.
A dívida líquida do grupo caiu para 540 milhões de euros, um valor “historicamente baixo”, diz Cláudia Azevedo, que dá ao grupo “conforto”, apesar “das elevadas taxas de juro” e dos “desafios” de cada setor.
A CEO da Sonae nota que “o ritmo de mudança não vai abrandar” e que “há sempre riscos inesperados a surgir no horizonte”. Cláudia Azevedo mostra-se, no entanto, “confiante” de que o grupo está preparado para enfrentá-los.
O grupo vai propor à Assembleia Geral de Acionistas o pagamento de um dividendo de 0,0537 euros por ação, acima dos 0,0511 euros por ação do ano passado, que corresponde a um dividend yield de 5,7%, com base na cotação de fecho de 31 de dezembro de 2022, que foi de 0,935 euros por ação.