O secretário de Estado da Educação português disse esta sexta-feira sentir “total unanimidade” da liderança política timorense relativamente ao objetivo de reforçar a presença da língua portuguesa em Timor-Leste.

“Aquilo que mais agradou foi, independente dos cargos que desempenham, ver a total unanimidade no objetivo de reforçar a presença do português e aumentar o nosso apoio aos vários projetos, quer no alargamento da Escola Portuguesa de Díli, quer no alargamento do projeto CAFE”, Centros de Aprendizagem e Formação Escolar, disse António Leite, em entrevista à Lusa, de balanço da sua visita a Timor-Leste.

“Foi para mim muito esclarecedor que houvesse um consenso tão grande em Timor acerca da nossa cooperação, como há em Portugal acerca da cooperação com Timor. Para nós é muito significativo. Em Timor como em qualquer outro país somos convidados, não nos fazemos convidados e estaremos quando os Governos e os povos quiserem”, vincou.

Durante a visita a Timor-Leste, António Leite visitou a Escola Portuguesa de Díli, onde deu posse à nova direção e visitou três Centros de Aprendizagem e Formação Escolar (CAFE), um projeto financiado conjuntamente por Portugal e Timor-Leste, e que envolve professores dos dois países.

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Portugal e Timor-Leste vão estudar alargamento da Escola Portuguesa de Díli

O responsável português reuniu-se ainda com o chefe de Estado timorense, José Ramos-Horta, o primeiro-ministro Taur Matan Ruak, o presidente do Parlamento Nacional, Aniceto Guterres Lopes, e os líderes dos dois maiores partidos, Mari Alkatiri, secretário-geral da Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin), e Xanana Gusmão, presidente do Congresso Nacional da Reconstrução Timorense (CNRT).

Nas conversas com a liderança timorense, António Leite analisou em particular o “projeto de alargamento da Escola Portuguesa de Díli” (EPD) e a expansão do projeto dos CAFE, que funcionam já em 12 dos 13 municípios e na Região Administrativa Especial de Oecusse-Ambeno, e que serão, numa primeira fase, alargados ao novo município de Ataúro.

No caso da EPD, há “três possibilidades em cima da mesa (…) partindo do princípio de que se vai alargar a escola”, estando a nova direção a analisar o assunto antes de negociações mais amplas para que a decisão final seja tomada, disse António Leite.

“No passado já houve um projeto [de alargamento]. Mas temos uma lista de espera de 600 crianças, o que tornaria a EPD uma das maiores escolas portuguesas no estrangeiro. Vamos dar tempo à nova direção para conhecer a escola, tomar o pulso”, explicou.

As opções são construir um piso adicional sobre um dos blocos atualmente existentes, “possível do ponto de vista de engenharia”, dividir a escola em dois polos, semelhante aos agrupamentos escolares em Portugal, com uma parte dos ciclos num polo e outra noutro e, finalmente, a “mais radical, que é de construir de raiz a escola noutro sítio“, acrescentou Leite.

Um dos pontos altos da visita foi a assinatura do protocolo que dá continuidade e expande o projeto CAFE, com a implantação de uma nova escola em Ataúro e, no futuro, o alargamento faseado até à instalação de escolas nos mais de 60 postos administrativos do país

“O sonho é levar os CAFE aos postos administrativos e agora temos que ver se temos condições todos para o fazer. Uma das vantagens é de o projeto ser das duas nações e ser destinado a toda a população”, explicou o secretário de Estado português.

“Temos muita vontade de poder contribuir, assim o Governo de Timor o queira, para que o português se torne, além de uma língua oficial, uma língua materna. É um processo difícil. Com uma geração inteira afastada da língua, proibida de aprender na língua, perseguida por aprender em português. E o português já não era falado por toda a população e por isso não foi difícil ao invasor diminuir significativamente a presença da língua”, notou.

Referindo-se a esse “elo perdido para o português, a geração dos pais dos atuais alunos”, Leite reconheceu que “as dificuldades escolares dos pais, linguísticas, são preditores do insucesso dos alunos”.

“Isso é assim aqui como em Portugal. Obriga a um esforço maior dos alunos, dos professores e das próprias famílias”, afirmou.

O alargamento ajudaria nesse esforço, disse Leite, consolidando igualmente o processo de ‘”timorização”, com cada vez mais professores timorenses envolvidos e, eventualmente, condições para os CAFE darem apoio a outras escolas da rede pública.

O responsável português, que visitou três escolas CAFE, disse ter notado grande “empenhamento das crianças e dos professores”, num “ambiente de alegria e participação” e “grande entusiasmo” dos docentes.

“Foi interessante ver uma participação significativa das autoridades locais em todas as iniciativas. Grande alegria por se sentirem reconhecidos, quer os professores, quer os alunos. Talvez isso seja o que mais torna evidente que o projeto é bem sucedido”, disse.

“O projeto precisa de mais apoio e investimento, e é uma solução possível de forma articulada com outras, para alargar de forma significativa a implantação do português“, notou Leite.

Em termos estratégicos, disse, torna-se “evidente” que há que demonstrar às crianças e jovens que “é uma vantagem para eles próprios aprender português”, além de ser apenas porque é a língua oficial do país.

“Isso é insuficiente porque não haverá um milhão de timorenses a aprender português só porque é a língua oficial. Uma parte significativa da população tem que perceber que há uma vantagem em aprender mais esta língua portuguesa e é nessa relação que temos que investir”, afirmou Leite.