Olhando de fora para dentro, seria quase natural colocar o Benfica como um adversário que os candidatos mais fortes à Liga dos Campeões não se importariam de ter nos quartos da prova. Por ser a única fora do top 5 europeu, por nunca ter passado às meias-finais desde que a competição entrou neste formato. No entanto, a campanha com apenas uma derrota ao longo de 43 jogos oficiais realizados na presente temporada em todas as competições, os valores individuais que têm emergido (alguns saíram logo passados seis meses, como Enzo Fernández) e o futebol que o conjunto de Roger Schmidt joga tiveram eco nas cautelas para todos os potenciais favoritos, a começar pela Espanha do Real Madrid e a passar pela Alemanha do Bayern.
“É uma equipa enganadora. Talvez seja a que tem menos nome dos oito [apurados] mas não é por isso que é acessível. Teve um adversário fácil nos oitavos de final e está a ir bem na Liga. João Mário, Rafa, Gonçalo Ramos, Otamendi, o espanhol Grimaldo… Talvez não tenham estrelas mas têm grandes jogadores que formam uma boa equipa”, escrevia a Marca, jornal que promoveu uma sondagem onde 36% dos adeptos do Real Madrid diziam preferir cruzar com os encarnados. “Antes dos jogos com o PSG, disse que o Bayern é capaz de ganhar o troféu. É um dos favoritos mas não é o primeiro porque o Real e o Manchester City estão à frente. Não devemos subestimar o Benfica nem o Nápoles. Não quereria jogar contra o Nápoles neste momento nem contra o Benfica. São uma equipa bem organizada com o Roger Schmidt”, destacou ao TZ Lothar Matthäus, antiga glória dos bávaros e da seleção germânica que apontava para AC Milan e Inter.
Num plano meramente teórico, os adversários mais acessíveis (ou menos complicados) eram as duas equipas de Milão, que passaram aos quartos depois de ganharem pela margem mínima em casa e de aguentarem o nulo fora de portas. A evitar, sobretudo Real Madrid, Manchester City e Bayern, sendo que Nápoles e Chelsea podem enganar pelo nome com menos pergaminhos na Champions e pelo momento que atravessam. E era neste contexto que se realizava o sorteio dos quartos em Nyon, com os encarnados a saberem que teriam um encontro fundamental com o FC Porto antes da primeira mão, a 11/12 de abril (que se realiza na Luz pela única restrição que existia no sorteio, que era a possibilidade de o AC Milan jogar também em San Siro na primeira mão como viria mesmo a acontecer). No final, melhor era difícil: os encarnados ficaram mesmo com o Inter, que eliminou os dragões nos oitavos com um triunfo por 1-0 e um empate sem golos, e vão defrontar nas meias em caso de vitória o vencedor da eliminatória entre o AC Milan e o Nápoles. Ou seja, Manchester City, Bayern, Real e Chelsea decidirão entre si a outra vaga na decisão de Istambul.
- Jogo 1: Real Madrid (Espanha)-Chelsea (Inglaterra)
- Jogo 2: Inter (Itália)-Benfica (Portugal)
- Jogo 3: Manchester City (Inglaterra)-Bayern (Alemanha)
- Jogo 4: AC Milan (Itália)-Nápoles (Itália)
- Jogo 5: vencedor do jogo 4-vencedor do jogo 2
- Jogo 6: vencedor do jogo 3-vencedor do jogo 1
Apesar de ser um adversário mais “acessível” dentro das possibilidades que estavam em cima da mesa, o Benfica terá de ultrapassar também o histórico negativo com os nerazzurri, com um empate e duas derrotas nos três jogos europeus (0-1 na final em 1965 e 0-0 e 3-4 na quarta ronda da Liga Europa em 2004).
Resultados dos oitavos da Champions de 2022/23
- RB Leipzig (Alemanha)-Manchester City (Inglaterra), 1-1 e 0-7
- Club Brugge (Bélgica)-Benfica (Portugal), 0-2 e 1-5
- Liverpool (Inglaterra)-Real Madrid (Espanha), 2-5 e 0-1
- AC Milan (Itália)-Tottenham (Inglaterra), 1-0 e 0-0
- Eintracht Frankfurt (Alemanha)-Nápoles (Itália), 0-2 e 0-3
- B. Dortmund (Alemanha)-Chelsea (Inglaterra), 1-0 e 0-2
- Inter (Itália)-FC Porto (Portugal), 1-0 e 0-0
- PSG (França)-Bayern (Alemanha), 0-1 e 0-2
Participações do Benfica nos quartos da Taça dos Campeões Europeus/Champions
1960/61: AGF (Dinamarca), 3-1 (V) em casa e 4-1 (V) fora – vencedor
1961/62: Nuremberga (RFA), 1-3 (D) fora e 6-0 (V) em casa – vencedor
1962/63: Dukla Praga (Checoslováquia), 2-1 (V) em casa e 0-0 (E) fora – finalista vencido
1964/65: Real Madrid (Espanha), 5-1 (V) em casa e 1-2 (D) fora – finalista vencido
1965/66: Manchester United (Inglaterra), 2-3 (D) fora e 1-5 (D) em casa – quartos
1967/68: Vasas (Hungria), 0-0 (E) fora e 3-0 (V) em casa – finalista vencido
1968/69: Ajax (Países Baixos), 3-1 (V) fora, 1-3 (D) em casa e 0-3 (D) neutro – quartos
1971/72: Feyenoord (Países Baixos), 0-1 (D) fora e 5-1 (V) em casa – meias-finais
1975/76: Bayern (RFA), 0-0 (E) e 1-5 (D) fora – quartos
1977/78: Liverpool (Inglaterra), 1-2 (D) em casa e 1-4 (D) fora – quartos
1983/84: Liverpool (Inglaterra), 0-1 (D) fora e 1-4 (D) em casa – quartos
1987/88: Anderlecht (Bélgica), 2-0 (V) em casa e 0-1 (D) fora – finalista vencido
1989/90: Dnipro (URSS), 1-0 (V) em casa e 3-0 (V) fora – finalista vencido
1991/92: 3.º lugar nos grupos com Barcelona, Sparta Praga e Dínamo Kiev – quartos
1994/95: AC Milan (Itália), 0-2 (D) fora e 0-0 (E) em casa – quartos
2005/06: Barcelona (Espanha), 0-0 (E) em casa e 0-2 (D) fora – quartos
2011/12: Chelsea (Inglaterra), 0-1 (D) em casa e 1-2 (D) fora – quartos
2015/16: Bayern (Alemanha), 0-1 (D) fora e 2-2 (E) em casa – quartos
2021/22: Liverpool (Inglaterra), 1-3 (D) em casa e 3-3 (E) fora – quartos