A Assembleia Nacional francesa rejeitou esta segunda-feira as duas moções de censura ao Governo apresentadas pelo LIOT e pela União Nacional. A moção do grupo independente LIOT, que reúne deputados do centro-esquerda e centro-direita, teve 278 votos a favor, enquanto a da União Nacional teve apenas 94. Para que fossem aprovadas, era necessário recolherem 287 votos.
Em resposta aos resultados da votação na Assembleia Nacional, milhares de franceses saíram às ruas em vários pontos do país. Na Praça Vauban, em Paris, uma multidão teve de ser dispersada pela polícia com recurso a gás lacrimogéneo ao final da tarde, noticiou o Le Figaro. Entretanto um outro grupo de manifestantes reuniu-se na gare de São Lázaro, com os protestos a dispersarem-se depois por outras zonas da cidade.
Os protestos violentos em Paris resultaram na detenção de pelo menos 234, disse ao Le Figaro fonte policial. Em Lyon, seis pessoas foram detidas e um polícia ficou ferido sem gravidade, refere o jornal local Le Progrés. Os manifestantes provocaram um incêndio na praça Bellecour da mesma cidade. Por volta das 23h (hora de Lisboa), a tranquilidade tinha sido restabelecida. A situação foi também tensa nas localidades de Toulouse, onde contentores do lixo foram incendiados, Rennes e Bordéus.
Na Universidade de Bordéus, os estudantes votaram a favor de uma nova manifestação esta terça-feira. Em Marselha, uma centena de pessoas tentou invadir a câmara municipal. Um fogo deflagrou também em Montpellier, depois de os manifestantes acenderem fogueiras em frente à câmara.
Primeira-ministra acusa deputados de “antiparlamentarismo”
A votação começou pelas 17h30 (hora de Lisboa), após o final das declarações da primeira-ministra francesa. Elisabeth Borne dirigiu-se aos deputados para defender o Governo e a decisão de recorrer ao Artigo 49.3 da Constituição para fazer aprovar a reforma do sistema de pensões, que elevou a idade da reforma dos 62 para os 64 anos.
Borne começou por lamentar a atitude da oposição, declarando, segundo o Le Monde, que, nas últimas semanas, “o antiparlamentarismo” tomou conta da Assembleia Nacional. “O ódio e a brutalidade não têm lugar no debate parlamentar”, afirmou. “Se não podemos debater na Assembleia Nacional, é o próprio funcionamento da democracia que é posto em causa.”
A primeira-ministra defendeu a legitimidade da reforma, lembrando que foi uma promessa eleitoral do Presidente, que “certamente” não vai ganhar votos com a impopular nova lei. “Tenho consciência do esforço que [a reforma] exige a muitos dos nossos compatriotas”, disse. “É antes de mais uma questão de responsabilidade. É com seriedade, humildade e consciência da sensibilidade do que está em jogo, que avançamos com a reforma.”
Após o anúncio dos resultados das duas votações, a presidente do partido de extrema-direita União Nacional acusou o Partido Republicano, que se absteve, de ser responsável pela continuação do Governo de Emmanuel Macron.
“Devem assumir as consequências dos seus atos diante dos eleitores. Posicionaram-se claramente junto da maioria de Emmanuel Macron”, afirmou Marine Le Pen, citada pelo Le Monde. Le Pen pediu “um novo governo”, defendendo que a crise não será resolvida enquanto Macron se mantiver na Presidência.
Macron recebe senadores e deputados da maioria esta terça-feira
O Presidente francês vai receber esta terça-feira no Palácio do Eliseu, em Paris, senadores e deputados da maioria parlamentar para discutir a atual crise política. Segundo noticiou o Le Figaro, além dos líderes dos partidos da maioria, Macron vai reunir-se com a primeira-ministra, Elisabeth Borne, a presidente da Assembleia Nacional, Yaël Braun-Pivet, e o presidente do Senado, Gérard Larcher.
O Presidente vai também sentar-se com os ministros do Trabalho, Interior, Economia e Finanças, Ações Públicas e Relações Parlamentares.
O Governo francês decidiu, na quinta-feira passada, aprovar a reforma das pensões, recorrendo ao artigo 49.3 da Constituição, que permite a adoção de um texto sem votação, a menos que seja votada uma moção de censura ao Executivo. A decisão levou à apresentação de duas moções de censura, uma pelo grupo independente LIOT, que recebeu o apoio da esquerda, e outra pela União Nacional.
[Notícia atualizada com o número de detidos]