O arcebispo de Braga, D. José Cordeiro, decidiu pedir “perdão” pelos encobrimentos, omissões e mensagens “confusas e contraditórias” da Igreja sobre os casos de abuso sexual de menores, numa mensagem em que anuncia medidas de apoio às vítimas e defende caminhos de “reconciliação” com os abusadores. Numa carta divulgada esta quinta-feira, D. José Cordeiro refere-se o relatório da Comissão Independente para reconhecer que no passado a Igreja desvalorizou, encobriu, silenciou e não tratou como prioridade casos de abusos, “arrastando consigo erros, omissões e negligências”.

Além disso, admite-se no texto, “nos últimos dias houve mensagens confusas e contraditórias e equívocos de comunicação sobre o modo de agir da Igreja perante este flagelo hediondo”. E é por isso que o arcebispo pede perdão, depois de este mês ter afastado um dos padres da arquidiocese de Braga referidos no relatório (três já tinham morrido, dois estão por identificar, outro já foi absolvido num processo civil e um sétimo já foi alvo de um processo canónico e das consequentes medidas disciplinares).

Na carta em que diz que as histórias das vítimas “dilaceraram” o coração de quem as ouviu, e frisando que o olhar sobre a vítima e o abusador não pode ser o mesmo — mas ambos merecem “um olhar de compaixão” –, D. José Cordeiro anuncia algumas medidas com foco nas vítimas, considerando que a Igreja não pode ignorar esta “realidade tão incontornável” que “arrepia” nem “tolerar uma espécie de conspiração silenciosa, pois o silêncio, nestes casos, mata emocionalmente”.

Na prática, a arquidiocese anuncia que vai disponibilizar um serviço de acompanhamento psiquiátrico e psicoterapêutico, “bem como de acompanhamento espiritual e de reconciliação para as pessoas vítimas que o desejarem”, recorrendo à criação de uma bolsa de técnicos e acompanhantes espirituais. Além disso, criará um “Diretório para um Ambiente Seguro”, uma espécie de manual de boas práticas para todos os que trabalham na arquidiocese ou em seminários, colégios católicos e outras instituições, e programas de formação permanente sobre “formas respeitosas de relacionamento com os outros”.

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A carta dedica-se ainda à importância de “abrir caminhos de reconciliação e de acompanhamento terapêutico” para os abusadores. O argumento é que a Igreja, mesmo afastando um padre suspeito, “não o pode abandonar”, porque “a redenção é sempre possível” e “só o amor converte”. “Como discípulos de Cristo, acreditamos que uma pessoa se pode abrir à graça do perdão e deixar-se transformar, mudando de vida e de atividade, deixando-se ajudar e acompanhar, porque apesar de ninguém estar irremediavelmente perdido, ninguém se salva sozinho”, defende o arcebispo de Braga.

Tudo isto serão caminhos, argumenta no mesmo texto, para um “novo futuro” na Igreja, “marcado pelo reconhecimento humilde e transparente dos seus erros e pecados, pelo acolhimento das vítimas e pela criação de uma cultura de prevenção e cuidado”.