Foram 99 as empresas que mostraram interesse em saber mais sobre o projeto-piloto da semana de quatro dias e participaram nas sessões de esclarecimento, mas apenas 46 decidiram avançar para a próxima fase, em que vai ser desenhado um plano de adaptação. Ao todo, serão abrangidos cerca de 20 mil trabalhadores. Já oito empresas vão manter-se como empresas associadas porque já estão a implementar por si o regime.

Os dados foram divulgados esta sexta-feira, numa apresentação do balanço da primeira fase do programa. Nas próximas semanas, as empresas participantes terão acesso a formação para as ajudar a adaptar ao teste, que começa em junho. Mas o professor Pedro Gomes, um dos coordenadores do piloto, diz que “é natural” que haja empresas, das 46, que desistam até lá.

O projeto é desenhado para ser todo muito flexível. O processo de preparação é exigente. É natural que algumas desistam, como aconteceu no Reino Unido. Mas não fechamos a porta a ter outras empresas”, afirmou.

O processo de adesão não está, assim, totalmente encerrado. As empresas que ainda estejam interessadas em participar, e que não formalizaram a sua adesão até ao momento, podem contactar a equipa coordenadora através do site do IEFP dedicado ao programa.

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Empresas desistiram por motivos económicos e financeiros

Houve 45 empresas que participaram nas sessões de esclarecimento mas optaram por não avançar — ou não responderam ou informaram que não queriam aderir (as outras 46 decidiram continuar e 8 ficam como “associadas”).

Entre as que responderam, a principal razão para decidirem não avançar prende-se com o facto de sentirem que não era altura ideal pelas condições económicas, outras apontaram o facto de considerarem que requer investimento financeiro ou que a implementação seria muito complexa.

Houve ainda empresas que chegaram à conclusão de que a semana de 4 dias não é a melhor solução para os seus problemas ou que os benefícios não serão grandes no contexto da empresa. Em menor número, houve quem considerasse não haver apoio técnico suficiente, que acharam que o risco era demasiado grande, que não estavam convencidos nas vantagens ou não conseguiram persuadir os administradores.

Que empresas vão participar?

O setor mais comum das 46 empresas que avançam para a segunda fase é o das “atividades de consultoria, científicas, técnicas e similares” (quase 40), mas também há, embora em menor número, empresas da área da educação, assim como das atividades de informação e comunicação, entre outras.

Fonte: Apresentação do balanço da Semana de 4 dias

São, sobretudo, pequenas empresas (até 10 trabalhadores) a avançar no projeto-piloto.

Fonte: Apresentação do balanço da Semana de 4 dias

O teste à semana de quatro dias propriamente dito vai começar em junho e prolongar-se-á por seis meses, durante os quais as empresas terão acesso a apoio técnico e administrativo do Estado para ajudar na transição. Para participarem, as empresas tiveram de se comprometer a reduzir os horários de trabalho semanal, sem perda salarial para os trabalhadores.

O modelo a implementar não obriga necessariamente a uma redução dos horários para as 32 horas por semana, mas a uma diminuição genuína do tempo de trabalho semanal — o que pode significar a passagem das 40 horas, por exemplo, para as 36, 34 ou 32 horas. No limite, o modelo poderá trazer um aumento da jornada diária, para compensar o dia extra de descanso, mas apenas desde que isso signifique menos horas semanais.

As empresas vão poder implementar o modelo que melhor lhes servir, que poderá sofrer alterações ao longo da experiência. Há empresas que encerram ao quinto dia, outras cujo dia extra é flexível, ou ainda aquelas em que o quinto dia de folga está dependente do cumprimento de determinados objetivos.

Nos últimos meses, as empresas interessadas puderam assistir a ações de divulgação do projeto para as ajudar a decidir se iriam ou não participar. Já os próximos meses serão de preparação da transição para o modelo.

Não há “pontos de partida nem de chegada”

O Governo e a equipa coordenadora não pré-estabeleceram “pontos de partida nem pontos de chegada” do programa, disse Miguel Fontes, secretário de Estado do Trabalho, na apresentação. Se no final da experiência os resultados disserem “que afinal correu menos bem, que as empresas acima de um determinado número tiveram perda de produtividade”, “ninguém irá escamotear estes números com medo de falhar”.

O secretário de Estado acredita que a semana de quatro dias não é uma “questão menor” e que pode contribuir para a atração de talento, assim como para a conciliação entre vida pessoal e profissional. E sublinha que não haverá um modelo único para todas as empresas, porque impor as mesmas regras não seria  “inteligente”.

Miguel Fontes recusa ainda que seja apenas aplicável a empresas tecnológicas. Mesmo noutros setores mais dependentes do contacto com o cliente, diz, pode haver esta adaptação. “Para quem pensa que é só para tecnológicas: não. Mesmo para setores de mão-de-obra mais intensiva, com mais necessidade de serviços ao cliente, a semana de 4 dias faz todo o sentido ser testada e apadrinhada”, defende. O modelo dos quatro dias pode, mesmo, atrair mão-de-obra estrangeira para alguns setores onde há falta de trabalhadores, acredita. “Não acham que este é um bom cartão de visita? Eu acredito que sim.” “Temos de ter a ousadia de avançar.”