Juntando todas as peças daquilo que pode ser um clube de futebol na era moderna, dificilmente o Bayern não será o melhor ou um dos melhores conjuntos do mundo. Porque tem uma política desportiva linear onde o médio prazo das próximas épocas está pensado nas decisões na temporada em curso, porque mostra uma grande solidez financeira que lhe permitiu por exemplo acabar de pagar a Allianz Arena muito antes daquele que era o prazo previsto, porque tem um modelo de sociedade desportiva que serve de exemplo para todos. No entanto, até as grandes máquinas sentem de quando em vez problemas e se nos últimos anos o problema foi as saídas a custo zero (como Alaba ou Süle), agora a questão prende-se mesmo com o treinador.

Contratado em 2021 como sucessor de Hansi Flick, que rumou à seleção alemã, Julian Nagelsmann surgia em Munique a confirmar o epíteto de treinador prodígio ao tornar-se o mais caro de sempre aos 35 anos já com cinco anos de carreira feita entre Hoffenheim e RB Leipzig. Além de ter desviado o alemão de outros grandes clubes, os 25 milhões de euros pagos pelo Bayern funcionavam sobretudo como uma aposta para manter a hegemonia nacional e arriscar a conquista de mais Champions depois da vitória de 2020. Na Alemanha, essa ideia confirmou-se com a conquista do Campeonato e da Supertaça; na Europa nem por isso, com o afastamento nos quartos da Liga dos Campeões frente ao Villarreal. No entanto, até pela forma como tudo aconteceu no empate em Munique, não soaram alarmes de preocupação. Até agora.

A última semana foi um bom exemplo da erosão que se foi sentindo na relação entre o técnico, o clube e o próprio balneário. “As toupeiras são uma espécie protegida, por isso a procura é muito, muito complicada. O que importa para mim é poder olhar-me ao espelho. Essa pessoa terá dificuldade em olhar-se ao espelho. Estou chateado. Penso muito nisto porque penso no que a pessoa que está a passar a informação está a fazer com isso. O que é que se espera? Tento descobrir a motivação dela mas não a encontro”, atirou numa mensagem para dentro após ter visto no jornal Bild algumas informações sobre o plano de jogo que estava a trabalhar. A seguir, derrota com o Bayer Leverkusen por 2-1 e perda da liderança da Bundesliga para o B. Dortmund. Nem mesmo a eliminação do PSG na Champions com duas vitórias serviu para travar um mais do que provável fim de relação, que chega com apenas dez derrotas consentidas em dois anos.

“Foi despedido? Não sabia… Fico um pouco surpreendido. Quero agradecer ao mister Nagelsmann porque foi ele que me quis no Bayern, tal como a Direção. Apanhou-me desprevenido. Toda a sorte do mundo para ele. Vou tentar quando chegar encaixar ao máximo nos conceitos do novo treinador e espero que corra bem. Vêm agora jogos importantes, na fase decisiva da época. O Bayern é uma equipa sempre pronta a ganhar tudo”, admitiu João Cancelo, no final da goleada de Portugal frente ao Liechtenstein em Alvalade.

De acordo com as informações divulgadas pelos meios alemães, essa derrota frente ao Bayer Leverkusen levou a uma reunião de emergência onde a cúpula diretiva do Bayern considerou que o técnico era de todos o principal culpado pelo momento que a equipa vive, sendo que apesar dessa desvantagem de um ponto que tem no Campeonato está nos quartos da Liga dos Campeões e da Taça da Alemanha. A relação cada vez mais tensa com o balneário teria sido outro dos motivos que levaram à decisão radical na fase decisiva de todas as provas. “Isto não mostra o que é o Bayern. Perdemos tudo, deixámo-nos levar por uma equipa que tinha jogado na quinta-feira… Vi poucas vezes tão pouco pulso, mentalidade e assertividade”, apontou Hasan Salihamidzic, antigo jogador e atual membro da comissão executiva, após o último desaire dos bávaros.

Enquanto tudo isto acontecia, Nagelsmann estava na Áustria a esquiar aproveitando as folgas dadas a todos os jogadores que não foram para as respetivas seleções. Mais: segundo fontes próximas do técnico citadas pelos meios germânicos, nem o treinador nem o plantel sabia que o despedimento estava a ser preparado. No entanto, existe até um sucessor pensado e apalavrado que poderá ser apresentado ainda esta sexta-feira: Thomas Tuchel, antigo técnico de Augsburgo, Mainz, B. Dortmund, PSG e Chelsea que está sem clube desde que deixou os londrinos, deverá assinar contrato até 2025 após ter sido campeão europeu com os ingleses em 2021 e de ter perdido a final da Champions ao serviço dos franceses contra… o Bayern.

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