Tudo parecia correr bem. Aliás, estavam reunidas muitas condições para que corresse bem. A Polónia fez os mínimos no último Campeonato do Mundo mesmo com exibições que deixaram muito a desejar, caiu depois nos oitavos frente à França de forma natural, prescindiu de Czeslaw Michniewicz como técnico, começou a procura por um novo selecionador. Entre vários nomes, alguns portugueses, Fernando Santos acabou por ser o eleito por diferentes perspetivas, da conquista de um Campeonato da Europa e de uma Liga das Nações aos oito anos passados na Seleção Nacional, passando pela experiência internacional que teve antes na Grécia ou pelo facto de ter orientado os três grandes do futebol português. Na teoria, era algo que fazia sentido. E não faltaram as demonstrações de satisfação na conferência de imprensa de apresentação no cargo.

“A partir de hoje sou polaco, sou um de vocês.” Fernando Santos já foi apresentado como novo selecionador da Polónia

“A Polónia é um grande país, com uma história enorme, uma cultura enorme, semelhante ao nível da sua seleção nacional. É uma equipa com muitos jogadores de qualidade, é uma das equipas que foi ao Mundial. Para mim é algo gratificante poder continuar esta carreira de selecionador num país com tanta influência, com tanta qualidade. A partir de hoje sou polaco, sou um de vocês. Vamos fazer de tudo para dar alegrias ao povo polaco. É preciso tempo mas deixo uma palavra de ambição, de muita confiança no que vamos fazer. A sorte não cai do céu, a sorte procura-se. Nós todos vamos conseguir coisas muito boas para a seleção polaca. Principais jogadores? Tenho uma expressão que uso muitas vezes: ‘Estrelas só conheço no céu e nunca vi lá nenhuma sozinha’. A equipa tem de ser um conjunto de estrelas”, comentou nesse momento.

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Seguiram-se as conversas com os jogadores, as observadores a elementos no estrangeiro e também da liga polaca, o conhecimento de toda a Federação. No entanto, e ainda antes da estreia oficial, aquele que é o terceiro selecionador estrangeiro depois de Leo Beenhakker e Paulo Sousa começou a ser alvo de várias críticas que foram chegando de todos os lados. Sem que nada o fizesse prever, a estreia ganhava outro peso.

Primeiro, a imprensa, que não gostou que o técnico trocasse Skorupski (que falou de divergências entre o lote de jogadores e a Federação pelo prémio de participação no Mundial) por Ben Lederman na conferência até porque o estreante mal fala polaco. Depois, e ainda da imprensa, o menor contacto com os jogadores. De seguida, e em informações difundidas por vários jornais, a mudança de hábitos na seleção como a redução do período para os jogadores estarem com as famílias durante as concentrações para 75 minutos e no hotel, a proibição de telefones nas refeições ou o facto de a equipa ser dada apenas na chegada ao estádio. Por fim, e no que toca aos adeptos, o desconforto porque o técnico não gostou do tempo que os jogadores passaram a dar autógrafos. A pressão do jogo em Praga com a Rep. Checa aumentava perante descrições que chegaram mesmo a utilizar a expressão “regime parecido ao militar”… ainda sem ter feito qualquer encontro.

O contexto não estava fácil, o início foi um autêntico pesadelo. Na sequência de um lançamento lateral longo de Coufal na direita, Krejci II conseguiu aparecer na pequena área para inaugurar o marcador apenas com 27 segundos jogados; no ataque seguinte, Cvancara surgiu de forma oportuna ao primeiro poste para desviar um cruzamento da esquerda e carimbar da melhor forma a estreia pela Rep. Checa com o 2-0 (3′). Em 130 segundos, a Polónia naufragou por completo e a fatura desse completo desnorte ainda poderia ter conhecido outros números com um remate forte na área que ficou nas malhas laterais antes de uma fase de maior equilíbrio com um remate perigoso de Linetty (41′) e duas intervenções gigantes de Szczesny nos descontos a evitar o bis de Cvamcara. Quase tudo teria de mudar nos polacos para reentrarem na partida.

Fernando Santos já tinha sido obrigado a trocar Matty Cash por Gumny por questões físicas mas voltou a mexer e em dose dupla ao intervalo com as apostas em Skoras e Swiderski. E, mesmo sem ter uma grande oportunidade para reduzir a desvantagem, parecia ter pelo menos vontade de mudar o rumo do encontro. No entanto, era apenas fogo de vista: não só os visitantes nunca conseguiram colocar Lewandowski em zonas de finalização para ficarem mais perto do golo como viram os checos recuar linhas de forma deliberada para depois apostarem nas transições rápidas como a que deu o 3-0 a Kuchta numa grande jogada coletiva (64′). Zalewski entrou de seguida mas aquela má entrada foi determinante para decidir o encontro de estreia que deixará poucas ou nenhumas recordações a Fernando Santos no arranque da qualificação apesar do 3-1 já nos instantes finais de Szymanski aproveitando um lance confuso na área (86′).