A segunda parte foi melhor do que a primeira, houve bons momentos no primeiro tempo entre períodos de menor virtuosismo, foram quatro mas poderiam ser oito ou mais. A estreia de Roberto Martínez no comando da Seleção acabou de forma natural com uma goleada frente ao Liechtenstein mas, para além das mudanças táticas mais percetíveis com a passagem para o 3x4x3, pouco ou nada se tirou de uma partida que funcionou sobretudo como um teste ao ataque organizado e posicional de Portugal frente a um adversário demasiado frágil para esboçar sequer transições que colocassem à prova tudo o que o novo selecionador tem vindo a trabalhar sem bola. Também por isso, este era quase um arranque mais “a sério” de qualificação, frente a um Luxemburgo que segurou um nulo na Eslováquia e que criara problemas à Seleção no último jogo.

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“Temos de olhar para este adversário com muita consideração e seriedade como sempre, sabendo que é uma equipa muito organizada. Tivemos essa experiência aqui no Luxemburgo em que perdíamos por 1-0 ao intervalo. Passámos por muitas dificuldades. Vamos estudar a equipa deles a ver se mudaram um bocadinho, nós também mudámos um bocadinho. É ver o que podemos fazer para conseguirmos os três pontos”, frisara Bernardo Silva, que estivera nessa partida que acabou com a vitória nacional por 3-1. “Ter um treinador como eles têm, que conhece tudo lá dentro, os jogadores, a estrutura, a mentalidade… Jogam como um clube, não é como uma seleção. Olho para eles e reconheço a continuidade, o trabalho. É uma equipa competitiva. Não vamos subestimar uma equipa que apenas perdeu dois jogos nos últimos nove, temos de respeitá-los ao máximo”, acrescentava Roberto Martínez, alertando para as dificuldades na calha.

No entanto, o foco principal do técnico espanhol voltava a estar na própria equipa e na evolução da nova ideia de jogo que tenta implementar apesar de ter poucas sessões de trabalho. Mais uma vez, sobravam os elogios para a entrega de todos os jogadores e uma noção clara da importância da parte física para depois interpretar da melhor forma as necessidades do coletivo. “Estamos juntos há três dias e fiquei encantado com o nível de união, de ambição, de compromisso e de vontade. A qualidade do plantel é excecional. Estamos apenas no começo da caminhada, temos de crescer juntos mas é sempre mais fácil quando ganhas. Foi uma vitória importante nesse ponto de vista”, destacara ainda recordando o jogo com o Liechtenstein.

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“Agora para este jogo é muito importante ter gente fresca. Três dias depois de um jogo, importante é que toda a gente esteja bem fisicamente. Pode haver mudanças, é importante ter continuidade no trabalho que fizemos neste período, mas mesmo havendo mudanças é apenas para dar frescura, não para mudar. Diogo Leite e Matheus trabalharam muito bem, só não ficaram nos 20 porque tínhamos de ter 20. Têm todas as chances de estar dentro. Trabalhámos no primeiro dia algumas coisas que já eram para este jogo. Isso tem a ver com a experiência e usar os jogadores específicos para momentos. Só tínhamos um dia para preparar o Luxemburgo no campo. É a dificuldade do futebol internacional, a dificuldade de ser consistente nos resultados. É muito importante conhecermo-nos bem, para superar um mudança tão rápida”, acrescentara.

Essa ideia acabou por ser comprovada logo na manhã do jogo, com a informação de que Gonçalo Inácio e Raphael Guerreiro, que tinham sido titulares no encontro inicial, iriam ficar de fora da ficha de jogo em detrimento de Diogo Leite e Matheus Nunes. E não foram essas as únicas alterações, com a entrada de Diogo Dalot a par de Nuno Mendes para as alas e de António Silva para o lado direito da linha de três defesas, ficando Danilo descaído mais para a esquerda. Na prática, tudo funcionou ainda melhor do que poderia ter sido pensado muito por culpa de uma eficácia que fez mossa entre quatro golos nos primeiros quatro remates enquadrados. E com mobilidade, velocidade e verticalidade, Portugal melhorou muito em relação a qualidade de jogo em comparação com o Liechtenstein: Bruno agarrou mais no jogo, Bernardo foi bem mais efetivo, Félix mostrou-se de outra forma, os alas iam fazendo a diferença, Ronaldo manteve a veia goleadora. Depois, de forma discreta mas tão ou mais importante, houve João Palhinha. A compensar, a fazer rodar a bola, a ganhar duelos, a recuperar posse, até a assistir. Os intérpretes de uma orquestra têm tendência a destacar-se pelo brilhantismo mas, mais uma vez, foi por haver um carregador de piano tão bom que tocaram tão bem.

Ficha de jogo

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Luxemburgo-Portugal, 0-6

2.ª jornada do grupo J da fase de qualificação para o Europeu

Estádio do Luxemburgo

Árbitro: Radu Petrescu (Roménia)

Luxemburgo: Anthony Moris; Laurent Jans, Marvin Martins (Bonhert, 46′), Maxime Chanot, Mica Pinto; Christopher Martins (Sébastien Thill, 82′), Lars Gerson (Carlson, 46′), Leandro Barreiro; Vincent Thill (Yvandro Borges, 70′), Danel Sinani (Olesen, 46′) e Gerson Rodrigues

Suplentes não utilizados: Ralph Schon, Tiago Pereira, Mahmutovic, Curci, Dejvid Sinani, Tim Hall e Rupil

Treinador: Luc Holtz

Portugal: Rui Patrício; António Silva, Rúben Dias, Danilo; Diogo Dalot, Bruno Fernandes (Otávio, 75′), João Palhinha (Diogo Jota, 86′), Nuno Mendes; Bernardo Silva (Rúben Neves, 64′), Cristiano Ronaldo (Gonçalo Ramos, 64′) e João Félix (Rafael Leão, 75′)

Suplentes não utilizados: José Sá, Celton Biai, João Cancelo, Diogo Leite, Matheus Nunes, Vitinha e João Mário

Treinador: Roberto Martínez

Golos: Cristiano Ronaldo (9′ e 31′), João Félix (15′), Bernardo Silva (18′), Otávio (77′) e Rafael Leão (89′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Valentin Thill (31′), Marvin Martins (37′), Cristiano Ronaldo (57′), Christopher Martins (74′) e Leandro Barreiro (82′)

Os primeiros minutos da partida mostraram as semelhanças e as diferenças em relação ao primeiro jogo com o Liechtenstein. Em posse, Portugal voltava a encontrar uma barreira densa com duas linhas juntas que só poderiam ser desfeitas ou com a bola a entrar entre linhas num movimento de um dos avançados que abriam mais nas alas ou com variações rápidas de flanco que conseguissem surpreender o adversário. Nuance? Ao contrário do que se passou em Alvalade, o Luxemburgo tinha outra capacidade para jogar e sobretudo sair em transições, algo que Portugal pouco ou nada sentiu no seu encontro de estreia. Foi assim que, numa boa combinação perto da área no corredor central, Sinani rematou com perigo mas a tentativa foi prensada em Rúben Dias (5′). Foi assim que, no primeira chegada à baliza contrária, a Seleção inaugurou o marcador com Nuno Mendes a ganhar de cabeça ao segundo poste após cruzamento largo de Bruno Fernandes e Ronaldo só teve de desviar de forma oportuna na pequena área (9′). Dez golos com o Luxemburgo a contar.

A eficácia fazia lei mas ainda tinha mais dois capítulos por escrever num início de sonho: João Félix fez o 2-0 de cabeça na área ao segundo poste depois de um cruzamento de pé esquerdo na direita de Bernardo Silva que aproveitou o movimento interior de Diogo Dalot para ganhar espaço para a assistência (15′) e Bernardo Silva aumentou para 3-0 num lance com algumas semelhanças em que João Palhinha cruzou largo descaído sobre a esquerda para o jogador do Manchester City concluir de cabeça num grande gesto técnico que tirou a bola do raio de ação do guarda-redes Moris (18′). E haveria apenas uma interrupção momentânea na cadeia de produção ofensiva quase que para encher o balão e sacar aquela que foi a melhor jogada coletiva da primeira parte, com João Félix a descair por dentro, Bruno Fernandes a colocar a bola no espaço que seria do avançado do Chelsea e Ronaldo a rematar de primeira para o 4-0 (31′).

Portugal jogava bem, jogava rápido, jogava com mobilidade e variações de corredores, jogava para a frente. Às vezes nem isso é suficiente para desbloquear um jogo porque falta finalização, neste caso funcionava na base do “cada tiro, cada melro”. E o quinto remate enquadrado com a baliza do Luxemburgo também entrou mas Danilo estava fora de jogo quando ficou com uma tentativa de Bruno Fernandes cortada pela defesa contrária (35′). O encontro estava decidido, os luxemburgueses davam sinais de frustração com duas entradas para amarelo desnecessárias e a fatura final só não aumentou à beira do intervalo porque o remate de João Félix, após combinação com Ronaldo, saiu muito perto da trave da baliza de Moris (45′).

A camisola de Palhinha quando saiu para o intervalo mostrava muito daquilo que não aparece nos números, com quase todos os companheiros a terem o seu equipamento bem mais limpinho e o médio do Fulham com marcas verdes da relva por tudo o que era sítio. Também tinha sido aí que o Luxemburgo falhava, com uma enorme passividade a ver o jogo sem bola que quase convidava Portugal a acelerar mais um bocado até à área contrária, e foi isso que Luc Holtz tentou mudar ao intervalo entre três substituições de uma assentada. Se o jogo estava perdido, a imagem teria de ser melhor. Foi mesmo. Não porque entraram Carlson, Bohnert e Olesen mas porque a atitude foi outra, a ponto de Rui Patrício fazer a primeira defesa na fase de qualificação a remate cruzado de Vincent Thill… 137 minutos depois. No entanto, foi só essa a mudança.

Quando se pensava que Portugal iria sentir o despertador e carregar um bocado mais no acelerador, o ritmo da partida foi baixando e as oportunidades deixaram de surgir nas duas balizas. Não sendo propriamente uma nota negativa, porque num encontro que termina de forma natural em goleada não pode haver bem uma nota negativa, percebeu-se bem que a forma como a Seleção joga “pede” intensidade e constante mobilidade, algo que entretanto parara. Depois, entraram Gonçalo Ramos, Otávio e Rafael Leão. Tudo mudou, a todos os níveis: Otávio aumentou para 5-0 de cabeça após cruzamento de Nuno Mendes (77′), Rúben Neves acertou na trave de livre direto (83′), Rafael Leão falhou uma grande penalidade que tinha “ganho” (85′) mas redimiu-se pouco depois com mais uma grande arrancada a deixar três adversários pelo caminho até ao remate cruzado sem hipóteses para Moris (89′). Foi só acelerar… e aumentar a goleada.