Fernando Santos está a escrever um diário num livro de memórias. O futebol praticado por Portugal até o técnico ter deixado o lugar de ser selecionador nacional reflete-se naquilo que a Polónia mostrou em Varsóvia frente à Albânia em jogo do grupo E de qualificação para o Europeu. O valor da posse de bola e da superioridade técnica de uma equipa vale pouco quando não se sabe o que fazer com essas ferramentas. Dá-se voltas e mais voltas ao parafuso e não há forma de que este fique preso no sítio em que tem que estar, rodando infinitamente.

Era assim a posse de bola da Polónia contra uma Albânia que, essa sim, estava bem fixa, presa e remetida ao meio-campo defensivo. Por a inspiração não fazer parte dos bens essenciais e pagar IVA como os caprichos mais fúteis, convinha a Fernando Santos adquiri-la numa loja duty free. Depois de perder por 3-1 com a Rep. Checa na estreia à frente da seleção polaca, o treinador português foi alertado e, como se diria no seu país, “para bom entendedor, meia palavra basta”. O aviso foi do presidente da federação polaca, Cezary Kulesza. “Não é assim que as coisas deviam ser. Os checos foram melhores e nós estivemos longe de mostrarmos argumentos. Espero uma resposta rápida”.

O “regime militar” foi colocado à prova e demorou 130 segundos a cair: Fernando Santos perde na estreia com a Polónia

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Não foi rápida. Demorou 40 minutos, mas chegou. Frankowski rematou ao poste. O ferro proporcionou uma segunda oportunidade que Świderski não desperdiçou. Adiantava-se a Polónia frente a um adversário que estreava novo selecionador. Sylvinho, que já como jogador se posicionava junto à linha, percorria a lateral como quando representava o FC Barcelona, mas agora dando indicações aos jogadores da Albânia. Pablo Zabaleta, também ele antigo defesa, é o adjunto do único treinador brasileiro ao leme de uma seleção europeia.

Com o português na ponta da língua dos técnicos de cada equipa, os dois podiam ter trocado impressões sobre o lance em que o albanês Myrto Uzuni trouxe a bola para o centro do terreno e rematou fraco, mas dando um efeito à bola que fez o guarda-redes polaco Szczęsny ter que se esticar para lá do que parecia ser necessário. No primeiro jogo da qualificação para o Euro, a Albânia teve na defesa o central do Famalicão Enea Mihaj e foi o que lhes valeu para que a Polónia não marcasse de novo. Robert Lewandowski voou — que nem Jardel — sobre os centrais, tocou por cima do guardião Strakosha, mas o jogador que atua na Primeira Liga aliviou.

Como há coisas que não mudam, Fernando Santos poupou nos níveis de espetacularidade. Apesar de tudo, venceu ainda que tenha reservado até ao final dos 90 minutos a incerteza quanto à confirmação da conquista dos primeiros três pontos. Uzuni, em cima do apito final, voltou a assustar a Polónia, mesmo sem conseguir marcar e evitar que o treinador português festejasse o primeiro triunfo na nova seleção. Poucos golos, coração na boca até ao fim e um jogo pouco atrativo. Onde é que já vimos isto?